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Sua escola está enfrentando um momento delicado de agressividade na volta das relações presenciais? Entenda por que isso acontece e veja estratégias que podem ajudar!

Após um período de ensino remoto e em formato híbrido, escolas de todo o país viveram momentos de alegria e animação que marcaram o retorno às aulas em formato totalmente presencial. Contudo, passada a agitação inicial, muitas escolas têm notado aumento em casos de agressividade, ansiedade, indisciplina e intolerância com o próximo por parte de seus alunos.

Não se trata de um problema específico de uma cidade, instituição ou etapa de ensino e, na maioria dos casos, esses comportamentos não eram observados antes da pandemia, o que os torna ainda mais desafiadores para professores, gestores e familiares que acompanham o dia a dia escolar.

Existem inúmeras razões para esses comportamentos estarem acontecendo nesse momento e muitas delas envolvem aspectos socioemocionais. “Entendemos que isso tem muito a ver com o retorno presencial após o isolamento da pandemia. Embora muitos desejem voltar ‘ao normal’, ou seja, ao que era antes desse período, não se pode ignorar que os alunos passaram dois anos sem ter contato pleno com o grupo”, aponta a psicóloga e coordenadora pedagógica Juliana Hampshire, do LIV – Laboratório Inteligência de Vida.

Nesse sentido, Juliana destaca a agressividade como um fator urgente e que precisa de atenção por parte de todos os envolvidos na educação de crianças e adolescentes. Entenda mais nos tópicos a seguir:

Agressividade: revendo as relações no espaço coletivo da escola

Quando escutamos professores em diferentes partes do Brasil, notamos um aspecto em comum entre muitos deles: os ânimos no ambiente coletivo estão à flor da pele, com menos tolerância à frustração, onde os conflitos viram embates e as diferenças de opinião têm se mostrado um problema. Para a psicóloga do LIV, é preciso não ignorar esses acontecimentos e abrir espaço para falar sobre isso.

“Entre aquilo que eu sinto e aquilo que eu coloco para fora, é preciso ter algum tipo de mediação. Essa mediação entre o eu e o outro é o diálogo, mas deixamos essas crianças e adolescentes por muito tempo sem espaços para o encontro com o outro, no convívio social”, aponta Juliana.

Ela explica ainda que, por sermos seres de linguagem que se fundam pelo laço com o outro, o relacionamento social é de extrema importância em nossa formação como ser humano:

“É assim, ao observar os outros, que a gente consegue entender e modular nossos comportamentos e atitudes. Quando não há esse encontro, eu não tenho com quem me identificar e me diferenciar, pois me relaciono apenas comigo mesmo e meus próximos em família. É claro que as crianças, os adolescentes e nós, adultos, nos relacionamos nas redes sociais, mas nesse ambiente não há mediação e muitas vezes eles, e até nós mesmos, sentimos o direito de falar qualquer coisa, porque não vemos o outro, não sabemos como uma fala vai afetá-lo ou não”, descreve.

Ao voltar para o convívio social, passamos a nos deparar com perdas diversas, tanto a perda concreta relacionada às mortes quanto o luto por um período que foi vivenciado de uma maneira totalmente inesperada. A psicóloga diz ainda que o interessante é entender que em muitos casos de agressividade o que está faltando é a mediação pelo diálogo.

“Tudo aquilo que é estranho, eu tendo a rechaçar. Isso é normal do ser humano, mas na convivência social — e a escola é um lugar privilegiado para isso — a gente consegue ter esses encontros com o outro, ser afetado por outras pessoas sem se sentir invadido”.

Para ela, o grande número de casos de agressividade relatados apontam que não se tratam de fenômenos isolados, nem de algo anormal, mas que precisamos olhar com atenção. “É preciso observar o fenômeno social por trás dessa situação”, defende.

Como a educação socioemocional pode ajudar a lidar com a agressividade

Promover um espaço de acolhimento e escuta ativa na escola é um dos caminhos para reverter situações como essa. Como bem destacou a psicanalista Vera Iaconelli em um debate promovido pelo LIV na Bett Brasil 2022, “a escola está em um momento maravilhosamente desafiador, difícil e sofrido: acabou se tornando um dos últimos bastiões, um dos últimos lugares do exercício do público”. Na ocasião, a especialista debateu com o fundador e diretor do programa LIV, Caio Lo Bianco, e afirmou ainda que na retomada presencial, depois de tanto tempo de reclusão e perda de pessoas queridas, é preciso entender o momento pelo qual passamos.

Para Caio, nesse cenário, respeitar e acolher os sentimentos é fundamental: faz-se necessário ouvir o que educadores, alunos e a comunidade estão sentindo, o que querem, o que esperam agora. “Se eu não encontro na escola um lugar para falar do meu sofrimento, ou sobre o que me deixa alegre, o que eu gosto de fazer, um lugar onde a gente possa se reconhecer no outro, entendemos que aquilo que estamos passando é só nosso”, destacou em sua fala.No LIV, ressaltamos para as escolas essa necessidade pois acreditamos que esse é um ambiente onde os sentimentos são colocados diante do coletivo e onde podemos abrir para os alunos momentos de trocar experiências. Segundo Juliana Hampshire, na escola os professores podem ser aqueles que sustentam o lugar de escutar quando alguma coisa não está bem.

“E se tem alguma coisa que não está bem, precisamos buscar estratégias para melhorar esse clima, fazer essas pontes uns com os outros, e entender que, na adversidade e nos encontros, pode surgir o vínculo da mediação, onde eu não preciso rechaçar o outro por ter ideias diferentes. Isso é premissa básica de existência, pois precisamos entender que não podemos inviabilizar a existência de outra pessoa e outros pensamentos que são diferentes dos nossos”, completa a psicóloga do LIV.

4 recomendações práticas para lidar com a agressividade na escola

Não existe uma receita certa para lidar com esse momento, mas é possível recorrer a estratégias que ampliam a consciência sobre os fatores que afetam o comportamento dos alunos. A seguir, listamos quatro delas, mas, ao abrir espaço em sua rotina escolar para o acolhimento, você possivelmente descobrirá novas estratégias que funcionam para sua realidade:

Inserir espaços de fala e escuta em todas as aulas
Nenhum professor está preparado para atuar nesse contexto tão desafiador, mas todas as aulas precisam oferecer de algum modo espaços de diálogo, acolhimento e orientação. Precisamos estar atentos em perguntar como os alunos estão se sentindo e o que podemos fazer para melhorar sua aprendizagem, tanto cognitiva quanto socioemocional.

Acolher os sentimentos dos funcionários da escola
Essa lógica também vale para os professores. Por isso é preciso também ajudá-los com muita reflexão e discussão. Para isso precisamos oferecer espaço e tempo para escutá-los, acolhê-los e orientá-los, seja no tempo de encontro nas salas dos professores, seja com bate-papos individuais.

Incluir novos formatos e ferramentas para as aulas
Incentivar metodologias ativas e momentos de debates é uma forma de promover a educação com um maior grau de interação. E, quanto mais os alunos forem protagonistas do próprio processo de construção dos conhecimentos, mais engajamento eles terão entre si e nas aulas.

Lembrar que escola é mais que conteúdos
Claro que o conteúdo é importante, mas temos que tomar cuidado para não aumentar a pressão sobre os estudantes. Não é o momento de julgar o aluno por uma lacuna em sua aprendizagem, mas sim trabalhar levantando sua autoestima para que ele tenha condições de prosseguir com seus estudos. Ou seja, é hora de valorizar o que os alunos sabem e podem fazer, e não colocar em evidência o que eles ainda não conseguiram desenvolver.

Como dissemos inicialmente, seria impossível retornar ao ano letivo depois de um período tão peculiar como se os indivíduos não tivessem vivenciado momentos desafiadores. Acreditamos que não existe um caminho único para solucionar imediatamente os casos de agressividade que têm surgido nas escolas, mas todos os caminhos precisam passar pela promoção do diálogo e da escuta.

MOVIMENTO LIV: PELA SAÚDE MENTAL NAS ESCOLAS

Casos de ansiedade, agressividade, depressão, intolerância… Esses relatos têm se repetido com frequência nas escolas e em todo o mundo, principalmente após o isolamento social.

Entendendo a urgência desse cenário, o LIV, especialista no desenvolvimento socioemocional de mais de meio milhão de estudantes pelo Brasil, criou o “Movimento LIV: pela saúde mental”, procurando oferecer caminhos para que toda a sociedade possa lidar melhor com os sentimentos que estão à flor da pele.

Um dos materiais que faz parte deste grande movimento é o KIT LIV — gratuito e inédito — com mais de 10 conteúdos de diferentes formatos sobre saúde mental, elaborados por especialistas que são referência no assunto!

Mas, esta ação não para por aí! Participe já do Movimento LIV e percorra conosco essa jornada de aprendizado e colaboração! Acesse o kit neste link

 

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