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O educador e designer de experiência de aprendizagem Eduardo Valladares mostra que é possível aprender com mais autonomia, colaboração, com os próprios erros e com as vulnerabilidades individuais

Como você busca seus aprendizados? Você aprende com seus erros ou tem vergonha de errar, seja no ambiente escolar, familiar ou profissional? Para Eduardo Valladares, aprender não está ligado apenas ao ato de frequentar a educação formal, é, na verdade, uma atividade constante e permanente.

Com mais de duas décadas de experiência em educação e aprendizagem, ele é idealizador da metodologia Guia do Estudo Perfeito, da plataforma Descomplica, e mentor dos projetos educacionais Toti, Ensina Brasil e Iniciativa Jovem Shell. Eduardo também é autor do livro “Como Aprender Melhor”, realiza palestras, oficinas, mentorias e capacitação de professores por todo o Brasil, além de prestar assessoria para escolas sobre autonomia na educação. Valladares participou do 3º Congresso LIV Virtual, ocasião na qual nos concedeu a entrevista exclusiva que você confere a seguir:

5 aprendizagens essenciais para a escola e a vida

1. Aprender com autonomia

Para Eduardo Valladares, aprender com mais autonomia deveria ser natural do processo de assimilação de conhecimento do ser humano, uma vez que significa ser “autor do processo de aprendizagem”:

“Aprender é simplesmente se lançar em uma situação em que você não conhece algo e está disposto a conhecer o novo. Mas quando a gente coloca a expressão ‘aprender com autonomia’, parece que a autonomia pressupõe um caminho criado por você”.

Entregar a liberdade nas mãos do estudante significa fazê-lo entender que o processo de aprendizagem é plural, explica. Esse processo sintetiza a noção de que podemos nos apoiar em orientações e ensinamentos, mas dá a liberdade de encarar o aprendizado sozinho, incluindo a possibilidade de erro. Porém, nem sempre o erro é bem aceito, como aponta Valladares:

“Se a gente coloca isso em linhas práticas, seja dentro de uma família, dentro de uma escola, ou até mesmo se pensarmos em uma aprendizagem dentro do mercado de trabalho, por exemplo, é tudo muito às vezes contraditório. Essa contradição existe porque sempre temos um líder que diz como tem que ser feito, e parece que não pode ser feito nada diferente.”

Valladares também faz a associação da autonomia com a aprendizagem autodirigida, no sentido de guiar o caminho do próprio conhecimento, e reforça que a autonomia é composta por dois conceitos: liberdade e responsabilidade:

“A responsabilidade é a habilidade em dar respostas. Para eu dar boas respostas, eu tenho que primeiro saber fazer boas perguntas. Está tudo intercalado. Aprender com autonomia está ligado à criatividade. É o exercício de saber criar, de saber perguntar, e isso tem a ver com a liberdade, a responsabilidade e os compromissos que a família, a escola e o próprio mercado de trabalho acabam nos ensinando também”.

2. Aprender com os erros e a mentalidade de crescimento

Mentalidade de crescimento é um estímulo à capacidade de aprendizado, explica Valladares. O oposto seria a mentalidade fixa, na qual acredita-se que há uma vocação pré-determinada e que guiaria o estudante pelo resto da vida.

O estudioso afirma que esse tipo de mentalidade cria barreiras no aprendizado, fazendo com que se fixem conceitos que impedem o conhecimento de fluir:

“A mentalidade do crescimento é mostrar que você pode aprender qualquer coisa, na hora que você quiser. […] A mentalidade fixa é muito limitada, no sentido de que parece que não temos flexibilidade na hora de aprender. Eu acredito que está tudo muito associado: a aprendizagem autônoma leva a essa mentalidade do crescimento, que acaba desenvolvendo no indivíduo a possibilidade de errar”.

Quando não se estimula a mentalidade de crescimento, há frustração e limitação no processo de aprendizado. De acordo com Valladares, “as pessoas passam a sentir que não podem errar no processo de aprendizagem porque, em sala de aula, vão rir da pergunta, ou se limitam a copiar a matéria do professor por terem se censurado, como exemplifica o entrevistado”. Para ele, estimular a mentalidade do crescimento seria “abraçar o erro em nome de seguir aprendendo”.

3. Aprender de forma colaborativa

Valladares explica que, embora seja incentivado na atualidade, a aprendizagem colaborativa é um conceito antigo nas escolas e que se baseia no desenvolvimento de projetos entre pares. “Eu defendo a aprendizagem colaborativa porque quebra o paradigma de que, para a gente aprender, a gente precisa de uma figura hierarquicamente superior”, destaca.

Ele diz também que aproximar o conhecimento entre os alunos não significa deixar de lado a educação com professores e mestres, mas sim observar outros pares no processo:

“Eu posso aprender com a orientação da professora ou do professor, mas também das minhas colegas, dos meus colegas, porque eles podem trazer pontos de vista que eu ainda não tinha pensado.”

Desta forma, com maior proximidade entre os próprios alunos, o aprendizado pode gerar mais espaço para a escuta, como destaca o professor: “Nós, às vezes, não sabemos trabalhar em grupo ou lidar com uma situação de conflito porque não fomos estimulados desde a época do colégio”, pondera, e essa aprendizagem colaborativa pode estimular o desenvolvimento dessa habilidade.

4. Aprender com as vulnerabilidades

Como quarto ponto, nosso convidado cita a relação entre a educação e a vulnerabilidade: “A vulnerabilidade é a vontade de querer aprender independentemente do erro”, aponta.

Para ele, “a educação do futuro não funciona sem vulnerabilidade”. Nesse sentido, diz que ela não vai existir de forma completa se não ensinarmos as pessoas a serem vulneráveis.

Embora não veja a vulnerabilidade como uma regra comportamental, ele diz que, quando estimulada, ela ajuda os indivíduos a perderem o medo de errar:

“A educação do futuro não funciona sem vulnerabilidade porque, primeiro, precisamos estimular as pessoas a perguntar, tentar, arriscar, fazer de novo porque ninguém vai rir, a pedir ajuda. A gente tem medo de pedir ajuda!”

Inverter a relação entre professor e aluno, enquanto professor, seria um exercício para aproximar e normalizar o erro, de acordo com Valladares. “O estímulo tem que ser ao aprender, ao querer ter essa curiosidade, esse entusiasmo pelo novo. A vulnerabilidade tem que ser essa prática constante desse estímulo”, completa.

5. Aprender sempre

Para concluir sua fala, Eduardo Valladares menciona a diferença entre a necessidade de pensar na aprendizagem como algo permanente, independentemente da idade ou posição.

Nesse sentido, fala sobre as dificuldades de diálogo entre gerações e oferece algumas recomendações para fortalecer a relação entre alunos e professores. “As gerações mudam o tempo todo. […] A gente sempre vai ter essa crítica de que a geração anterior não estuda mais como antigamente. Que bom, porque o mundo mudou, como muda sempre. E se as pessoas mudaram, a gente também deveria mudar. A gente deveria chegar para o aluno, a aluna, e convidar mais do que impor”.

Ainda nessa perspectiva, ele faz uma sugestão aos educadores: “Que a gente convide mais, que a gente seja mais humilde e que a gente queira descobrir mais […]. Eu acredito que, com isso, trazemos mais compromisso e comprometimento com quem está aprendendo também”.

Por fim, Eduardo Valladares indica dois materiais extras criados por ele para quem deseja saber mais esses assuntos:

Artigo: Aprendizagem como paixão compartilhada – entusiasmo, criatividade e design 
Podcast: A relação entre erro e fracasso 

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