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O colunista Marcel Costa traz para os leitores do educador21 este mês um tema delicado: a adaptação dos educadores na retomada do ano letivo

O início do ano escolar marca a retomada dos processos educacionais. O calendário está pronto, os feriados devidamente marcados e as reuniões de equipe começam a definir conteúdos e projetos, revisar métricas de aprendizado e alinhar novas políticas institucionais. O ano letivo inicia com a sensação de que tudo roda como um relógio, mas há um fator imutável que desafia professores e gestores: a adaptação.

A evolução do ambiente escolar se dá quando novas necessidades ou problemas são endereçados, permitindo que alcancemos novos patamares de qualidade e bem-estar educacional. Essa adaptação beneficia tanto os alunos quanto as instituições.

Imagine um índice mais baixo de recuperações bimestrais ou trimestrais devido ao aumento do engajamento dos alunos? Ou um ambiente escolar onde menos interações desgastantes entre coordenação, pais e professores ocorrem, otimizando tempo e energia? Sem falar na possibilidade de reduzir processos acadêmicos excessivamente burocráticos para que a equipe possa ter uma rotina mais leve e produtiva, com mais atenção ao que realmente importa: o aprendizado dos alunos.

O desafio está em colocar boas ideias em prática, seja revisando o que não funcionou tão bem no ano anterior, seja implementando novas abordagens. A Engenharia Educacional se baseia em um ciclo contínuo: reavaliar, replanejar e reimplementar. E, no próximo ciclo, repetir.

Não podemos alcançar eficiência plena se nossas estruturas não estiverem alinhadas com a realidade do trabalho que fazemos. Isso envolve entender por que alguns alunos aprendem e outros não (e não, não é apenas por falta de esforço), além de estarmos preparados para os avanços tecnológicos e seus impactos na educação.

A pandemia evidenciou essa necessidade. O despreparo generalizado para a transição abrupta das aulas presenciais para o ensino remoto gerou um déficit educacional profundo. Na IntegralMind, onde implementamos a Engenharia Educacional, recebemos alunos que procuram nosso suporte exclusivamente porque foram estudantes do Ensino Médio durante a pandemia, o que já diz muito sobre os impactos dessa lacuna educacional.

Se a adaptação é tão essencial, por que sua implementação é tão difícil?

Sempre que uma mudança é necessária, é um sinal de que o que existia já não funciona tão bem. Isso, porém, não significa que tudo deva ser descartado ou que qualquer novidade trará automaticamente melhores resultados.

Em uma instituição composta por profissionais de diferentes formações e funções, a visão global do sistema muitas vezes se perde. O gestor tem o papel de analisar o funcionamento geral e identificar oportunidades de melhoria, mas nem sempre possui a perspectiva do professor em sala de aula ou dos desafios técnicos enfrentados pela equipe administrativa.

Da mesma forma, uma mudança institucional, como a introdução de uma nova tecnologia ou metodologia, pode ser vista com resistência pelos professores que precisarão adaptar seus métodos de ensino. A falta de comunicação ou a demora em reconhecer problemas cria uma lentidão nas instituições, tornando-as menos responsivas às mudanças do mundo real. Essa defasagem impacta diretamente a qualidade da educação e o resultado do trabalho árduo de professores e gestores.

Então, temos uma oportunidade imensa de melhoria à nossa frente, mas que parece difícil de alcançar. O que fazer?

A própria metodologia da Engenharia Educacional pode nos ajudar aqui. Primeiro, analisamos os benefícios das mudanças propostas e os desafios envolvidos. Depois, identificamos as limitações individuais e institucionais que dificultam sua implementação. Por fim, percebemos que muitos profissionais da educação compartilham as mesmas frustrações e anseios por um ambiente escolar mais eficiente e acolhedor, mas muitas vezes não falamos sobre isso.

A solução final dependerá da realidade de cada instituição, mas há um ponto universal: educar os educadores. Quanto mais professores, gestores e coordenadores se manifestarem sobre suas percepções e desafios, maior será a chance de implementar mudanças eficazes. A comunicação honesta dentro das instituições é essencial, pois em um ambiente onde todos querem que as coisas deem certo, cada opinião bem embasada se torna um ativo valioso para o coletivo.

Então, que tal começarmos este ano letivo com uma mentalidade mais aberta para o diálogo e para a adaptação? No final das contas, a qualidade da educação que oferecemos depende diretamente disso.

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