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Relatório executivo do Alana, realizado em cooperação com a UNESCO, traz análise de políticas públicas e ferramentas para apoiar gestores, diretores e comunidades escolares

O que redes de ensino estão fazendo para apoiar os professores e promover a educação inclusiva garantindo oportunidades de aprendizagem para todos os estudantes? O Alana, em cooperação com a UNESCO, lança em setembro o relatório executivo “Educação inclusiva e a formação continuada de professores: aprendizados nacionais e internacionais”, feita a partir de pesquisa encomendada aos pesquisadores Luzia Lima-Rodrigues e David Rodrigues, da Vindas Educação Internacional (Portugal).

A publicação faz um chamado à ação para promover mudanças nos sistemas educativos e fortalecer a formação continuada de professores em uma perspectiva coletiva, com o engajamento de gestões públicas, organizações da sociedade civil e dos próprios docentes na promoção da educação inclusiva.

“A pesquisa traz aprendizados do Brasil e do mundo para apoiar o trabalho de equipes que vislumbram e atuam para formulação e implementação de uma educação mais inclusiva”, disse Beatriz Benedito, analista de políticas públicas do Instituto Alana.

O estudo também traz um questionário de 38 perguntas que busca incentivar a reflexão e auxiliar gestores, diretores e comunidades escolares na implementação e execução das políticas públicas voltadas para a formação continuada de professores.

Relatório internacional traz diversidade de modelos de sucesso

O relatório analisa políticas, práticas e estruturas organizacionais criadas para a implementação da formação continuada de profissionais para a educação inclusiva de oito casos: três no Brasil — Maracanaú (Ceará), Pinhais (Paraná) e Santos (São Paulo) —, além de Buenos Aires (Argentina), Glasgow (Escócia), Comunidade Autônoma Valenciana (Espanha), Portugal e Uruguai.

Os locais foram escolhidos por sua diversidade de modelos de gestão e riquezas de perspectivas e porque são ou estão em países signatários da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da Organização das Nações Unidas (ONU). Os casos não são abordados como experiências de sucesso a serem replicadas, mas como políticas públicas que, analisadas em conjunto, contribuem para o planejamento, monitoramento e avaliação de processos formativos que podem apoiar o trabalho dos professores e o projeto de uma educação inclusiva na escola e na rede de ensino às quais pertencem.

“Para garantir ambientes inclusivos para todos os estudantes, com e sem deficiência, é fundamental que governos, gestores públicos, sociedade e educadores se comprometam. Os educadores são importantes em um sistema inclusivo, e garantir um processo formativo de qualidade e contínuo é uma ação fundamental não só para eles e elas, individualmente, mas para um projeto coletivo que deve contar com o engajamento de todas as pessoas”, explicou Beatriz Benedito.

Chamado à ação por uma educação inclusiva

Uma das conclusões do estudo é que, para a educação inclusiva se concretizar no chão das escolas, as gestões públicas federal, estaduais e municipais devem cumprir políticas, leis e práticas de formação baseadas na compreensão de que todas as crianças e adolescentes aprendem mais e melhor, independentemente de suas diferenças individuais.

Por isso, garantir o direito à educação desse público só é possível ao assegurar uma formação de qualidade aos professores, fortalecendo o projeto de educação inclusiva da escola e capacitando esses profissionais e toda a comunidade escolar a ampliar seu repertório e desenvolver um projeto educativo pautado na inclusão em ambientes complexos e diversos.

“A formação continuada está se transformando para atender a pluralidade das escolas, cada vez mais multiculturais e diversas. Trata-se de um paradigma que está mudando de uma formação ‘diferente e para alguns’ para uma que seja ‘comum e para todos’, focada na diversidade inerente a cada estudante. Essa formação deve ser valorizada como um processo de aprendizagem profissional em um contexto coletivo e colaborativo, integrado ao cotidiano escolar”, defende o pesquisador David Rodrigues.

A partir da análise de entrevistas, grupos focais, legislações, documentos e recomendações internacionais sobre educação inclusiva, os pesquisadores  sintetizaram achados, reflexões e elementos para construir formações continuadas relevantes e promover a educação inclusiva a partir de dez categorias de análise:

  1. legislação
  2. estruturas de formação
  3. demandas prioritárias dos professores e gestores
  4. perfil dos formadores
  5. participação e impacto das formações continuadas na carreira docente
  6. tipos e ambientes de formação continuada
  7. temáticas mais presentes
  8. metodologias
  9. avaliação dos participantes e das ações de formação continuada
  10. políticas públicas e financiamento

Agente de transformação: professor precisa de conhecimento contínuo

Mara Duarte, neuropedagoga, psicopedagoga, psicomotricista e diretora da Rhema Neuroeducação, concorda que a tarefa de educar não é fácil, nem mesmo para quem tem vasta experiência. Na sua opinião, saber como lidar com a aquisição de importantes informações e conceitos, além de transmiti-los de maneira correta, é o papel fundamental de um educador. Por isso, investir em autoconhecimento e conhecimento são ações fundamentais.

“Quem decide ensinar precisa entender que também terá que aprender, e não apenas sobre o conteúdo a ser passado, mas sobre inclusão e neurociência, por exemplo. Os professores são peças-chaves no desenvolvimento cognitivo de todos nós, e devemos atribuir sua atuação à construção de aspectos que vão constituir o senso de cidadania, coletividade, cultura, criatividade e muito mais”, explicou Mara.

É o professor também que pode ajudar na identificação dos primeiros sinais de transtornos de aprendizagem, segundo a diretora da Rhema Neuroeducação. “Ele tem um papel fundamental, pois tem a possibilidade de avaliar de forma frequente o desempenho dos alunos, tornando mais fácil fazer algumas identificações. Para isso, porém, ele precisa continuar se capacitando. É um amplo trabalho de ensinar e aprender”, explica a especialista.

Confira algumas lições que um professor precisa aprender, além do conteúdo a ser ensinado, para se tornar uma agente real de transformação e inclusão:

  • Competências socioemocionais, como empatia, comunicação clara e resiliência
  • Educação inclusiva para compreender as diferentes necessidades dos alunos, adaptação curricular e tecnologias assistivas
  • Gestão em sala de aula para ajudar a desenvolver um ambiente positivo e o engajamento dos alunos
  • Práticas pedagógicas inovadoras, com metodologias ativas
  • Respeito às diferentes culturas e origens dos alunos
  • Educação digital, com foco em preparar os alunos para o futuro

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