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Neste artigo, Max Damas parte da capacidade humana de resistir e se reinventar, como uma flor-de-lótus, e mostra algumas possibilidades de aplicação da antifragilidade no ambiente educacional

Max Damas*

Nossas IES passaram nos últimos 10 anos por uma série impactos que colocaram em prova nossa capacidade de resistir e nos reinventarmos. Mudanças profundas no comportamento da sociedade e do mercado, com forte pressão tecnológica e uma grande dose de imprevisibilidade. Mudanças paradigmáticas nos modelos de ensino e nos métodos de engajamento para o aprendizado dos estudantes.

O que antes eram salas de aula limitadas pelo mundo físico, se tornaram espaços de aprendizagem sem limites. Onde antes o professor era o centro do processo educacional, virou um centro multifacetado, com estudantes e a comunidade participando ativamente da sua jornada de aprendizado. Vivenciamos nesses últimos anos o mundo VUCA (acrônimo em português para Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo) e, entramos no mundo BANI (acrônimo em português para Frágil, Ansioso, Não-Linear e Incompreensível).

O que não sabíamos é que existe uma característica das organizações biológicas e humanas que juntam essas duas frentes: resistir e reinventar. Antifragilidade é um conceito introduzido por Nassim Nicholas Taleb em seu livro “Antifrágil: Coisas que se Beneficiam com o Caos”. Taleb argumenta que há coisas no mundo que não apenas resistem à volatilidade, desordem e estresse, mas, na verdade, se beneficiam deles. Ao contrário de objetos frágeis, que quebram ou se deterioram sob pressão, algo antifrágil melhora e se fortalece em face de desafios.

Antifrágil

O termo “antifrágil” vai além da resiliência. Enquanto algo resiliente pode resistir a choques e retornar ao seu estado original, o antifrágil vai além, ganhando com a experiência adversa. Taleb destaca que sistemas antifrágeis prosperam em ambientes turbulentos, caóticos e imprevisíveis. Um exemplo típico  são os sistemas biológicos que se fortalecem através da exposição a patógenos. Taleb também aplica o conceito ao nível pessoal, argumentando que as pessoas podem se tornar antifrágeis ao aceitar e aprender com a adversidade, em vez de evitar desafios. Em resumo, antifragilidade descreve a capacidade de crescer e se aprimorar em resposta ao estresse, volatilidade e desordem, em oposição à fragilidade, que sugere que algo se deterioraria ou quebraria sob as mesmas circunstâncias.

Trazendo para o nosso dia a dia, como o sistema educacional poderia se apropriar do conceito de antifragilidade para se tornar mais forte, perene e aberto à inovação, sem ficar exposto permanentemente às circunstâncias da sociedade contemporânea? A seguir indico algumas possibilidades de aplicação da antifragilidade no ambiente educacional:

  1. Adaptação a Novas Tecnologias: Sistemas educacionais antifrágeis seriam capazes de se adaptar rapidamente a avanços tecnológicos, incorporando ferramentas e métodos inovadores de ensino.
  2. Currículos Adaptáveis: A antifragilidade no sistema educacional envolveria currículos flexíveis que podem ser ajustados para atender às necessidades em constante mudança dos alunos e do ambiente.
  3. Cultura de Aprendizado Permanente: A antifragilidade promoveria uma cultura de aprendizado ao longo da vida, reconhecendo que a educação não termina após a conclusão formal, mas é um processo contínuo.
  4. Experimentação e Melhoria Contínua: A antifragilidade encorajaria os educadores a experimentarem novas abordagens pedagógicas, aprender com os resultados e continuar aprimorando suas práticas.
  5. Aprender com os Erros: Um sistema educacional antifrágil veria os erros como oportunidades de aprendizado, incentivando a reflexão crítica e ajustes nas estratégias de ensino.
  6. Redes de Aprendizado: A criação de redes de aprendizado, onde educadores e instituições compartilham boas práticas, recursos e experiências, seria promovida para fortalecer o sistema como um todo.
  7. Fortalecimento das Habilidades Emocionais: A antifragilidade no sistema educacional incluiria a ênfase no desenvolvimento de habilidades socioemocionais para equipar os alunos com as ferramentas necessárias para lidar com desafios emocionais.
  8. Aprofundamento das Avaliações Formativas: A avaliação seria vista como uma ferramenta para orientar a instrução, identificando áreas de melhoria e ajustando abordagens de ensino conforme necessário.
  9. Igualdade e Inclusão Social: Um sistema educacional antifrágil se esforçaria para garantir a equidade e inclusão, reconhecendo e atendendo às diversas necessidades dos alunos.
  10. Estímulo à Aprendizagem Autodirigida: A antifragilidade no sistema educacional incentivaria a curiosidade e a autonomia dos alunos, promovendo a busca ativa pelo conhecimento.

Antifragilidade no sistema educacional

O sistema educacional se torna mais resistente às mudanças, mais capaz de se adaptar a novos desafios e mais orientado para o aprendizado contínuo. A antifragilidade no sistema educacional promove a ideia de que as perturbações e desafios podem ser oportunidades para o crescimento e a melhoria constante. Ao incorporar princípios antifrágeis no sistema educacional, as instituições podem se tornar mais capazes de enfrentar desafios, aprender com a adversidade e evoluir de maneira contínua para melhor atender às necessidades em constante mudança dos estudantes e da sociedade.

Por fim, ser antifrágil mais do que uma característica, é uma atitude reformulada perante nossas fragilidades e um reposicionamento de humildade acerca de tudo o que não sabemos. Aceitarmos as nossas fragilidades não significa fraqueza, desde que mantenhamos o objetivo de seguir aprendendo e construindo novas saídas e soluções: o resiliente volta para o mesmo lugar, o antifrágil sobe degraus.

*Assessor da Presidência da ABMES e Assessor da Presidência da FOA (Fundação Oswaldo Aranha)

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