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O professor e CEO da Qstione, Fabrício Garcia, fala neste artigo sobre a importância de mensurar por meio de auditoria pedagógica

Fabrício Garcia*

De acordo com um estudo encabeçado pela Conectar Pesquisas e Inteligência em parceria com a organização Todos Pela Educação, 54% dos respondentes estão insatisfeitos com a educação no Brasil. O mesmo levantamento salienta que 59% dos eleitores brasileiros classificam essa área como “muito importante” diante da escolha de um candidato para cargos de liderança na área pública.

Esse cenário de alarde e insatisfação pode estar associado, em parte, ao isolamento outorgado pela pandemia da Covid-19. No entanto, um grande componente que dificulta nosso trabalho enquanto educadores diz respeito à precarização de dados na qual estamos imersos enquanto sociedade. Não temos informações consistentes, tampouco números consolidados que nos levem a dimensionar êxitos e desafios do nosso ofício.

Desde quando comecei minha carreira como educador, tenho em mente: quem não mede o trabalho que faz hoje vai ter que mensurar o estrago causado por essa falta de zelo no futuro.

Pensemos na seguinte situação: um coordenador pedagógico precisa dar conta do que acontece em sala de aula (com discentes e docentes) e se certificar de que familiares estejam contentes com a performance de seus filhos e filhas. Além do mais, outros fatores devem ser levados em conta, como a escolha do material didático, o sistema avaliativo, a metodologia pedagógica, o calendário de saídas pedagógicas e – uma decisão que costuma gerar debate (para não dizer embate) – a melhor plataforma de acompanhamento da aprendizagem dos alunos – isto é, algo que seja analítico o bastante para ser digerido por educadores e, ao mesmo tempo, inteligível aos olhos de pais e mães.

Para fazer isso de uma maneira sistêmica e não pontual ou individualizada, costumo dizer que é preciso que as instituições de ensino contem com uma auditoria pedagógica. Auditar pode soar estranho em um contexto educacional, por isso vale compreender a origem do termo que deriva da palavra latina ‘audire’, cujo significado é ouvir (no sentido de verificar e de diagnosticar).

Por essa razão, as instituições de ensino devem contar com a auditoria pedagógica para o ajuste fino de suas práticas, aprimorando os processos de ensino e de aprendizagem de alunos e de professores. Nesse procedimento avaliativo, há a verificação das ações e iniciativas, observando se elas estão de acordo com o planejamento estabelecido e se as metas estão sendo cumpridas, ou seja, trata-se de uma intervenção pedagógica.

Engana-se quem acredita se tratar de uma empresa por trás desse serviço. Muito menos seria uma solução nichada a ser implementada. Esse modelo de auditoria configura um conceito e, mais do que isso, uma filosofia institucional, sobre a qual todos os professores, gestores, mantenedores e demais colaboradores devem se debruçar.

Segundo um artigo da auditoria KPMG sobre inovação e transformação digital nesse mercado, o segmento das auditorias demandará, cada vez mais, das empresas uma vertente robusta de inovação com equipes multidisciplinares de auditores e profissionais de tecnologia com visão de negócios. Automação e plataformas de entrega com conectividade plena serão fundamentais.

A mensuração bem-feita permite que haja a identificação de maneira quantitativa e qualitativa do desempenho de cada ação realizada pela empresa, embasando, assim, a tomada de decisões de ajuste de um negócio. Imagine um ano eleitoral sem o suporte de instituições de pesquisa ou uma análise conjuntural econômica que não conte com dados fornecidos por entidades de credibilidade: uma considerável parte das previsões se daria em caráter especulativo e não com uma premissa de diagnóstico.

É por isso que o pensamento de auditoria deve estar introjetado nas instituições de ensino, de modo geral, pois assim os profissionais da área educacional passam a ter um pensamento focado em fornecimento de dados. Se o currículo não for aferível, não haverá meios de converter a pedagogia da sala de aula em resultados.

Atualmente, os currículos escolares, mesmo baseados na BNCC (Base Nacional Comum Curricular), tendem a ser mais abstratos, isto é, difíceis de destrinchar e de se chegar a conclusões. A partir de fortes indicadores de diagnóstico — reduzindo, por conseguinte, os ruídos entre sala de aula, coordenação e famílias — é que chegaremos a uma análise consolidada mais satisfatória para todos os envolvidos no processo educacional.

*Professor CEO da Qstione 

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