A educação socioemocional se torna realidade através da construção de espaços na rotina escolar para compartilhar experiências e sentimentos
Saulo Pereira*
Você já ouviu alguém dizer que há coisas que se aprende na escola, mas outras só a vida ensina? Pois é, essa é uma ideia de educação que foi usada por muito tempo, mas que, de alguma forma, precisa ser repensada. Afinal, a escola não está fora da vida. Pelo contrário: é palco dela, durante essa longa fase que é a trajetória escolar.
É muito comum que as pessoas acreditem que a escola é o local para se trabalhar apenas o lado cognitivo da pessoa e que nela não há lugar para o emocional. Mas, se você buscar na memória, verá que diversos aprendizados da sua vida, incluindo os conteúdos escolares, são lembrados não apenas de modo racional, como também são carregados de lembranças afetivas.
Os especialistas contemporâneos alertam para a importância de se considerar o indivíduo integralmente, quando se fala em educação. Não é de hoje que o conceito de Educação Integral toma conta das conversas e faz parte do cotidiano das escolas. Muitos são os caminhos para aderir a essa prática, abordando um currículo que vá além do tradicional. O LIV (Laboratório Inteligência de Vida), programa que desenvolve o pilar socioemocional nas escolas, por exemplo, cria espaços seguros de fala e escuta e investe nesse modelo de educação como ferramenta para diversas aprendizagens.
O desenvolvimento socioemocional é um grande reforço na maneira como o ser humano lida com o mundo, é um aspecto constitutivo da vida dos alunos, seja ele pessoal, social ou profissional.
Quando a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), passou a exigir o ensino de habilidades como autoconhecimento e autocuidado; empatia e cooperação; pensamento crítico; comunicação; trabalho e projeto de vida; e responsabilidade e cidadania, o olhar das escolas passou a ser voltado não apenas para a razão, mas também para a emoção. Assim como Paulo Freire já defendia que as emoções eram como lentes para se enxergar o mundo e que apartar as emoções dos processos cognitivos não era o melhor caminho para a educação.
Provas, avaliações e resultados têm a sua importância. Porém eles são uma pequena fração, um recorte no tempo, de um processo muito mais demorado e complexo, que é o de desenvolver os alunos em sua plenitude. A educação socioemocional não é uma pílula mágica. Ela também não é, não pode e nem deve ter prescrição. Mas sim, deve partir da premissa de considerar o mundo e as pessoas em sua plenitude, sem buscar um viés robotizante e focado apenas em técnicas. O ponto de foco está em criar as condições, solo fértil para o florescimento dos resultados, ao mesmo tempo em que cultivamos uma percepção mais ampla, mais sistêmica e integral da educação.
Caminhos práticos do LIV para a educação socioemocional na escola
A educação socioemocional se torna realidade através da construção de espaços na rotina escolar para compartilhar experiências e sentimentos. Com essa troca segura é possível ficar mais atento ao clima emocional dos alunos, professores e de toda a comunidade escolar. Impactando diretamente na qualidade da comunicação, além de auxiliar o desenvolvimento da autorregulação emocional, um dos pilares da inteligência emocional. E quando se fala da Educação Infantil, o acolhimento é ainda mais presente.
Afinal, é nessa fase que se inicia o letramento emocional e a criança passa a aprender a reconhecer e a nomear as emoções. O LIV faz esse trabalho a partir da identificação e associação da criança com os sentimentos e experiências dos personagens das histórias que são contadas e também nas brincadeiras e músicas que tematizam sentimentos e fazem parte da rotina do programa com os pequenos.
Vivências profundas, como a relatada pela professora Ana Kelita, que, ao contar a história da personagem do livro LIV “Fernanda”, uma personagem que é cuidada pela sua “Tia Val” no conto didático, viu um aluno se emocionar ao se identificar com ela e expressar seus sentimentos em sala de aula.
“Ele me disse: professora, eu sou a Fernanda! Eu também tenho uma Tia Val que é como se fosse a minha mãe. Naquele momento, ele aprendeu, mas também me ensinou”, conta a educadora com voz também embargada pela emoção. Ela explica que a dinâmica de acolhimento usada nas aulas de LIV gera um desenvolvimento socioemocional que permite que sentimentos complexos possam ser expressos com mais facilidade pelos alunos.
Esse acolhimento deve ser mantido ao longo de todo o ciclo escolar. E para estudantes maiores, do Ensino Fundamental e Ensino Médio, o LIV traz propostas de jogos colaborativos, séries, projetos e exercícios de escuta ativa e compartilhamento. São essas atividades que ajudam a traçar paralelo com suas experiências e a ampliar suas perspectivas sobre esse gerenciamento dessas vivências e sentimentos.
E há de se compreender as diferenças no modo de se expressar dos alunos. Afinal, todos possuem formas distintas de participar desses momentos de acolhimento. O fundamental é estabelecer relações de confiança.
E isso se conquista por meio de um processo contínuo e sistematizado, integrado ao currículo escolar. Trabalhar esses aspectos de maneira pontual não necessariamente trará os efeitos esperados, pois para se tornar uma realidade, a educação socioemocional deve estar atrelada ao projeto pedagógico e aos princípios da escola, sempre embasada por referências de qualidade e programas que apoiam a formação tanto dos alunos quanto dos educadores, assim como o LIV.
*Historiador e consultor pedagógico no LIV