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A Equipe Pedagógica do LIV traz dois temas delicados no meio acadêmico para a coluna deste mês, a partir da reflexão após um evento on-line

As tecnologias digitais no século 21 têm sido um dos grandes desafios da sociedade e, é claro, também das escolas. Educadores vêm se deparando com redações e trabalhos de casa realizados por inteligência artificial e percebido que os estudantes estão cada vez mais dispersos, muitas vezes envolvidos com as distrações das redes sociais em sala de aula. Diante destes cenários, muitas instituições de ensino optaram por restringir o uso de aparelhos e adotaram mecanismos para identificar o emprego do ChatGPT em tarefas escolares. Mas será que é esse mesmo o caminho?

Para refletir sobre o papel das tecnologias na escola, discutir se é possível conviver com elas ou se é necessário bani-las, o LIV promoveu um “Encontro com Especialista” no dia 26 de junho, no canal do YouTube. Durante o evento on-line e gratuito, Saulo Pereira, historiador e consultor pedagógico do LIV, apontou possíveis saídas.

Saulo também trouxe em conversa com o Blog do LIV alguns pontos que fizeram parte da conversa. Ele pontuou que, em primeiro lugar, é preciso que todos entendam que a tecnologia sempre foi e continua sendo parte do processo evolutivo dos seres humanos.

“A tecnologia altera a forma como a gente vive no mundo desde que o homem descobriu o fogo e, com isso, passou a ter novas formas de se alimentar.  Se pensarmos bem, a própria escola é dependente de uma invenção tecnológica, que é o livro. Quando ele surgiu, uma das críticas era de que as pessoas esquecem de tudo por confiarem demais no papel. Diziam que o impresso era fácil de manipular, de mentir. Agora, com o ChatGPT, o temor é parecido, também acham que não vai ser mais possível lembrar de nada. Mas será que é assim mesmo? A tecnologia também tem seu lado positivo, cria registros, preserva o passado nos acervos digitais, por exemplo”.

No caso das escolas, então, é proibido proibir?

“Eu me pergunto se é possível proibir. Será que realmente a gente consegue separar esses dois ‘reinos’, o da escola e o digital? A resposta ainda não está dada. Alguns lugares, como Rio de Janeiro e Nova York tentaram, mas não tem como a gente fugir completamente. A tecnologia existe e precisamos saber como usá-la, descobrir como se trabalha com ela e, principalmente, fazer isso junto dos alunos. É importante a escola mostrar que está debatendo este tema para que ela não fique nessa conversa numa posição anacrônica, como algo ultrapassado, que perdeu o bonde da história”.

O que pode ser feito, na prática, pelas escolas?

Saulo sugere que as escolas mudem de paradigma. No lugar de se preocuparem com a disseminação de conteúdo, defende, precisam seguir por um caminho de desenvolvimento de competências e habilidades, como o pensamento crítico. Com isso, diz, será possível enxergar a tecnologia sob nova perspectiva.

“Hoje não há mais escassez de informação, pelo contrário. Talvez a questão não seja mais sobre o que eu saiba, mas como lido com o tanto de coisa que tem diante de mim. Como eu me organizo nesse turbilhão?”

Um aluno que tenha desenvolvido o pensamento crítico, diz Saulo, vai ter maior capacidade de entender a si mesmo e ao outro diante dos novos desafios tecnológicos.

“Ele vai entender que a máquina não vai conseguir entregar todas as respostas, que ele precisa sempre interpretar o que ela está dizendo. O aluno que tem pensamento crítico vai indagar: vou terceirizar meu discurso? Se a gente só proibir a tecnologia, a gente não tem a oportunidade de ter esse diálogo”.

Além do pensamento crítico, que outras habilidades a escola deve ajudar a desenvolver, pensando na questão da tecnologia?

“Acho que a empatia é fundamental porque já há uma certa dessensibilização no mundo virtual, onde a gente pode perder um pouco de vista o sentido da humanidade mesmo. Acho que também é preciso trabalhar o autoconhecimento. O jovem usa um filtro que embeleza e, depois, procura um esteticista ou cirurgião dizendo que quer ficar daquela maneira. O autoconhecimento é um espaço para ele saber quem é, conhecer sua imagem, não cair neste tipo de armadilha”.

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