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A plataforma de Inteligência Artificial (IA) ChatGPT ‘sacode’ os mundos da educação e do mercado de trabalho

Ademar Celedônio*

Em novembro, foi lançada a mais nova versão do ChatGPT (Generativo, Pré-Treinado, Transformador, em tradução livre), uma plataforma de Inteligência Artificial (IA) aberta e gratuita, pelo menos por enquanto, já avaliada em US$ 29 bilhões de dólares por especialistas, e que vem pautando conversas entre líderes de diversos setores, inclusive no Fórum Econômico Mundial, em Davos (Suíça) em janeiro. Nela, podemos perguntar absolutamente tudo e, em alguns segundos, a resposta chega com relativo grau de confiabilidade e coerência. A ferramenta também pode codificar o que você quiser em diversas linguagens de programação, escrever histórias, receitas de culinária completamente novas ou campanhas de marketing para seu negócio, entre outras funcionalidades.

O ChatGPT é alimentado pelo maior modelo de linguagem e já montado com mais de 175 bilhões de parâmetros, porém em mais alguns meses os parâmetros deverão crescer de forma exponencial. Os sistemas de IA de hoje são máquinas de previsão, o que significa que podem prever o que acontecerá no futuro com base nos dados passados. Isso é basicamente o que todo modelo matemático faz. E duas reportagens recentes já mostram alguns possíveis impactos na educação.

O portal G1(1) pediu ao ChatGPT uma redação do Enem 2022, e em 50 segundos recebeu o texto e enviou para a correção de professores que deram nota 680 numa escala de zero a mil. A nota da Redação do Enem é atribuída em 5 competências de 200 pontos cada. As maiores notas do texto produzido pela ferramenta foram nas competências 1 (Demonstrar domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa) e 3 (Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em ‘defesa de um ponto de vista), que são competências mais relacionadas ao coerente uso da língua portuguesa. Já nas competências em que exigem argumentação e criatividade as notas foram bem mais baixas.

Mas imagino que se a reportagem tivesse pedido uma redação com o tema de 2019, por exemplo, a nota seria provavelmente maior, pois o campo de pesquisa da IA seria muito mais amplo. A outra reportagem foi do Jornal Washington Post(2), comentando que os professores perceberam que os trabalhos dos alunos poderiam ser feitos agora pela IA e passaram a exigir que fossem entregues escritos a mão. As aplicações irão muito além das salas de aula, e a IA transformará várias carreiras no mercado de trabalho.

Um colega de trabalho, prof Idelfranio Moreira, no dia da aplicação da 2ª fase do vestibular da Fuvest, resolveu colocar o enunciado de uma questão de física do exame no ChatGPT e recebeu várias dicas de como proceder para uma melhor solução. Avaliando o “diálogo” com a máquina, fizemos um pequeno debate de quanto poder isso pode ter para auxiliar os alunos, além de a importância de já considerarmos o tema como um itinerário formativo no novo Ensino Médio. Esses algoritmos precisam ser continuamente ajustados para evitar a ampliação de notícias falsas, racismo, homofobia ou até mesmo plágio, em um esforço para oferecer ao pesquisador informações relevantes, mas responsáveis.

Esse esforço, por sua vez, parece ser um desafio ainda maior com a IA. Existem inúmeros riscos de privacidade e segurança embutidos nesses sistemas e, à medida que se tornam maiores, os impactos e os riscos também se tornam. Também em aberto temos a questão de eventuais violações de direitos autorais na geração de textos, código de programação e imagens. Além disso, como esses modelos não são sensíveis e de totalmente confiáveis, mas modelos matemáticos que aprenderam a responder a grandes quantidades de dados, eles são muito dependentes de ter fontes de dados imparciais e equipes diversificadas de engenheiros de dados, o que é um grande desafio no mundo de hoje.

O ChatGPT está trazendo à tona diversas discussões como as que mencionei, passando por futuro do trabalho, ética, matemática de instrução, programação, habilidades socioemocionais, portanto, esses são tópicos que devem ser estudados na proposta do itinerário formativo, uma vez que, dominar habilidades digitais não é mais um diferencial, mas um fator crítico de sucesso na vida de todos nós daqui em diante.

(1)    O Globo
(2)     Jornal Washington Post

*Diretor de Ensino e Inovações Educacionais do SAS Plataforma de Educação

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