Neste mês, na Coluna Engenharia Educacional, Marcel Costa mostra como uso responsável da IA na educação pode fortalecer o aprendizado e o desenvolvimento emocional dos alunos
A ‘Geração Beta’ é um termo que evoca imediatamente uma realidade intrigante: crianças e adolescentes crescendo em simbiose profunda com Inteligência Artificial. Não estamos falando do futuro, mas do presente – essa geração já está imersa em algoritmos desde os primeiros passos digitais.
No meu cotidiano na IntegralMind, encaro diariamente esse cenário com uma mistura de entusiasmo genuíno e uma dose saudável de preocupação crítica. Sim, a IA pode revolucionar a educação – e tem feito exatamente isso em nossos espaços. Mas é crucial que a tecnologia não substitua o desenvolvimento emocional e ético, e sim o complemente.
Aqui está um ponto chave: a IA é uma ferramenta fantástica para personalização, análise de padrões e identificação precoce das dificuldades acadêmicas e emocionais dos estudantes. Também para curadoria e seleção personalizada do conteúdo para cada fim.
Fazemos uso diário dos algoritmos para entender profundamente o perfil de aprendizado de cada aluno, o que nos permite agir rapidamente, economizar tempo e reduzir frustrações. Por exemplo, nossos sistemas conseguem identificar com precisão quais habilidades precisam ser fortalecidas para que o aluno evolua com máxima eficiência, eliminando atividades desnecessárias e otimizando cada minuto gasto em estudo.
Mas a IA não vem sem desafios. Um deles é a tendência à dependência tecnológica, que pode atrofiar habilidades socioemocionais essenciais. Como mitigamos isso? Simples: integramos o uso consciente da IA com práticas educacionais que enfatizam constantemente o desenvolvimento emocional, a empatia e o pensamento crítico. Para isso é necessário um treinamento da equipe, não apenas para interpretar os dados da IA, mas também para traduzir essas informações em estratégias práticas que promovem autonomia e resiliência emocional nos alunos sem prejuízos.
Outro ponto crítico que enfrentamos no uso da IA é o viés algorítmico. É muito fácil que preconceitos ou visões limitadas sejam amplificados por algoritmos não supervisionados adequadamente. A solução para isso consiste em auditar e calibrar nossas ferramentas para garantir que o desempenho acadêmico seja promovido sem discriminação, com atenção especial para alunos com diferentes necessidades educacionais e emocionais.
A chave, portanto, não está em abraçar cegamente a tecnologia, mas em integrá-la inteligentemente ao ecossistema educacional, sempre lembrando que o objetivo último é o desenvolvimento integral dos alunos. É dessa maneira equilibrada, crítica e ética que devemos atuar para formar não apenas estudantes competentes, mas cidadãos conscientes e emocionalmente robustos, capazes de navegar com segurança e ética pelo oceano algorítmico que já os cerca.
Em tempo:
No próximo dia 29 de abril, às 14h, estarei na Bett Brasil 2025, para participar do painel “Nova geração de nativos algorítmicos viverá em simbiose com IA”. Ao meu lado estará Stephanie Jorge, da Torabit, especialista em ciências de dados e em IA. A moderação do painel será do jornalista Caio Túlio Costa.

Marcel Raminelli Costa é CEO da IntegralMind, professor e engenheiro formado na Poli-USP.