Palestras do primeiro dia do Congresso Bett Brasil trazem para a pauta temas diversos e de relevância em todos os segmentos da educação
No primeiro dia da Bett Brasil, o Fórum Ahead trouxe uma discussão de grande importância para o futuro do mercado de trabalho. O painel “Aproximando empresas e universidades: como construir parcerias sustentáveis” apresentou provocações e possibilidades de como conciliar as expectativas entre os jovens recém-formados e o mundo corporativo. O diretor-presidente da ABMES (Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior) e reitor da UniCarioca, Celso Niskier, moderou a palestra que reuniu Max Damas e Leyla Nascimento.
Damas, professor e gestor universitário há 20 anos e, atualmente, assessor da presidência da FOA (Fundação Oswaldo Aranha) e da presidência da ABMES, além de secretário-executivo do MetaRedX Brasil, apresentou um resumo de um levantamento recente feito pela ABMES, que identificou quatro personas do jovem empreendedor: criador, agilizado, idealista e tradicional.
“Para atender às expectativas desses jovens com perfis tão distintos e movidos a gerenciar suas carreiras de formas tão diferentes, precisamos, todos, entrar nesse campo de batalha que é a reinvenção dos currículos universitários”, disse o palestrante e consultor em estratégias educacionais.
Leyla Nascimento, fundadora e CEO do Grupo Capacitare, vice-presidente de Relações Internacionais da Associação Brasileira de Recursos Humanos e membro do Board da WFPMA (World Federation of People Management Associations), que reúne 93 países, trouxe toda a sua experiência e conhecimento sobre movimentação e tendências do mercado de trabalho para a mesa. De acordo a especialista, pelo menos 1 bilhão de trabalhadores em todo o mundo precisarão passar por algum tipo de requalificação profissional até 2030 para se manterem colocados.
“Estamos passando pelo que chamo do momento da escolha e da decisão. A educação passa por uma fase de disrupção e estudos de novos caminhos, enquanto o mundo corporativo replaneja a força de trabalho com uma forte revisão da competências desejadas. É um momento de mudança onde a aproximação da universidade e do mercado de trabalho contribuirá para um ajuste mais rápido desse cenário”, afirmou Leyla.
Niskier concluiu o painel ressaltando que tudo aponta para que a extensão universitária seja o ponto nevrálgico desse mecanismo de aproximação entre essas duas pontas – universidade e mercado de trabalho. “Precisamos incentivar essa mudança de paradigma, e auxiliar para que cada vez mais o foco esteja no desenvolvimento local e na sustentabilidade”, apontou.
Futurismo como disciplina: escola pode mudar o futuro da educação
O painel “Futurismo pode reinventar a escola?” reuniu, no palco do Auditório 2, uma das futuristas mulheres mais reconhecidas da America Latina, que atualmente se dedica a capacitar professores e estudantes nos estudos do futuro, e uma diretora de escola que vem há anos pensando sobre o futuro da educação. Rosa Alegria, do time global do movimento Teach the Future, e Marcelle Berton, da Escola Estilo de Aprender e Escola São Paulo, discutiram como essa ciência pode ajudar a reinventar a educação.
“O tipo de educação que eu desejo ver nas escolas é aquela que é feita para capacitar as crianças para criarem o futuro, a desenvolverem proatividade e que as faça cocriadoras do seu futuro”, disse Rosa, que promove alfabetização de futuros para professores e estudantes do ensino fundamental e ensino médio.
A alfabetização de futuros mencionada por Rosa Alegria foi criada pela Unesco em 2012. É uma prática que pode ser definida como a habilidade que permite às pessoas entenderem melhor o papel do futuro naquilo que veem e fazem. Como conceito, ser alfabetizado sobre o futuro fortalece a imaginação, aumenta nossa capacidade de preparar, recuperar e inventar à medida que as mudanças ocorrem.
A educadora Marcelle Berton, embora não seja uma futurista certificada, pode ser considerada uma visionária. Inquieta, curiosa e com muita vontade de reinventar a sua escola, foi buscar os tipos de ajustes necessários e como aplicá-los para implementar o futurismo como parte do projeto pedagógico da sua instituição. “A aula de futuros mostra para as crianças como as mudanças ocorrem e também as consequências diretas e indiretas dessas mudanças no mundo. Precisamos de novas propostas para a educação e precisamos reinventar a escola, porque precisamos de uma escola inédita, para um futuro que ainda estamos criando”, disse Marcelle.
Desafios da IA na educação brasileira em discussão
Os desafios do avanço da inteligência artificial na educação brasileira foi destaque no painel “Desafios e Oportunidades na conexão entre Inteligência Artificial e Inteligência Humana”, que reuniu os palestrantes Fábio Campos, professor da Universidade de Nova Iorque (NYU), e de Ivan Cláudio Pereira Siqueira, professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), ambos especialistas em inteligência artificial na educação.
A forma que a IA é utilizada é um dos pontos de conflito apontados por Fábio Campos. De acordo com o pesquisador, existem tensões com a IA relacionadas a aspectos contrários entre si: engenharia versus pedagogia e automatização versus diversificação. “Quando a inteligência artificial é usada para situações mais complexas, há o embate entre o humano e o artificial. Para lidar com essas tecnologias, é preciso ter pedagogia para usá-las, de modo que os alunos aprendam de fato. Por isso que a educação é importante.”
Ivan Siqueira destacou a existência de estudos que demonstram o impacto negativo que o uso de IA pode causar na cognição e no aprendizado dos alunos. O especialista frisou a importância de os alunos pensarem criticamente e usarem essas tecnologia adequadamente. Os dois palestrantes defenderam a existência de políticas públicas que delimitem o uso da inteligência artificial.
Enquanto isso não acontece, Fábio chama a atenção para a necessidade da participação de institutos reguladores nessas discussões: “Mais do que uma regulação, o Brasil precisa da orientação de órgãos, como o Conselho Nacional de Educação ou os ministérios, além da participação de pesquisadores da educação nessa supervisão”.