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Sócio-fundador da Labenu, Artur Vilas Boas compartilha uma visão otimista do mercado de edtechs no Brasil

Artur Vilas Boas*

A pandemia de Covid-19 acelerou a transformação de nossas rotinas no dia a dia nos últimos dois anos. Isso aconteceu em diversas frentes: necessariamente precisamos dar mais atenção à nossa saúde, precisamos mudar o nosso formato de trabalho, vimos os dias passando por nossas janelas e aumentamos e muito o nosso consumo por meio digital.

Com a educação não foi diferente, afinal, o isolamento social obrigatório, fez com que todos tivessem de adaptar a sua maneira de aprender. As aulas online ganharam espaço, seja por meio dos computadores e dispositivos móveis. Com isso, assistimos a disparada pela demanda por cursos, especializações, certificados e, até mesmo, apps para aprender um novo idioma.

O reflexo dessa escalada foi sentido. Plataformas abertas de ensino em massa (MOOCs, massive online open courses) expandiram suas frentes institucionais — como o Coursera, que fechou parceria com mais de 3700 instituições de ensino durante a pandemia — e diversas soluções digitais com consideráveis aportes de capital, caso do Duolingo, aplicativo de ensino de idiomas que abriu capital na bolsa valendo bilhões de dólares.

Também pudemos observar outro fenômeno, desta vez no ensino profissionalizante. Tivemos uma explosão de plataformas de ensino, que se encontrou com uma segunda tendência, alavancada pelos tempos pandêmicos: o pico na demanda por profissionais de tecnologia devido à digitalização de tudo. O mundo todo sentiu isso. No Brasil, país que tem um déficit de dezenas de milhares de talentos por vagas todo ano, com remuneração chegando a 2,5 vezes a remuneração média do país, isso não foi diferente.

Entendendo que o “brincar de rouba-monte”, ou seja, tentar tirar profissionais de tecnologia de outras empresas, é uma prática pouco sustentável, grandes empresas se viram diante da necessidade de formar novos talentos, ou pelo menos encontrar novas fontes de talentos. Agora, desbloquear novos pools de talentos virou regra, e as empresas passaram a investir nisso com atenção redobrada.

Assim, pudemos ver nascendo os bootcamps de programação: experiências curtas, mas intensivas, para permitir que pessoas pudessem entrar na área de tecnologia mesmo sem nenhuma experiência prévia. Com eles, novos mecanismos de financiamento: empresas patrocinando programas, financiamentos diferenciados, propostas de devolução do dinheiro caso não consiga emprego, e até mesmo a mecânica de sucesso compartilhado, também conhecida originalmente por Income Share Agreement.

Fora do Brasil, esse modelo que se destaca em escolas como Lambda School e Holberton School, permite que as as pessoas participantes paguem pelo curso somente depois de estarem empregadas em uma faixa salarial atrativa. Geralmente o pagamento ocorre baseado em uma parcela pequena do salário, de modo a não prejudicar o profissional recém capacitado.

No Brasil, esse encontro entre (i) empresas buscando talentos em tech e (ii) pessoas buscando novas oportunidades de carreira é maior ainda. E, na mesma toada internacional, os últimos dois anos representaram, para o Brasil, uma explosão em edtechs. Abraçando formatos do tipo ISA, startups como Labenu e Trybe captaram milhões de reais de fundos nacionais e internacionais, enquanto empresas olhando para os aspectos financeiros diversos da educação também seguiram a tendência de grandes captações, como é o caso de Provi e Isaac.

Para a educação técnica e profissionalizante, os novos modelos oferecem oportunidades de formação de menor duração quando comparados com graduações formais — com programas de geralmente 6 a 12 meses, além de vivências práticas e orientadas a projetos, dada a ênfase em empregabilidade dos modelos. Modelos assim geram tanto o impacto social de dar acesso a uma educação orientada a empregabilidade quanto impacto econômico ao permitir que empresas possam crescer seus times de tecnologia, respondendo à demanda crescente por serviços digitais no país.

*Sócio-fundador da Labenu

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