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Juliana Diniz reflete sobre a necessidade de coragem pedagógica para preparar estudantes para futuros múltiplos, incertos e em constante transformação

Juliana Diniz*

Cada geração impõe novos desafios à educação. A atual nos convoca a lidar com o novo, o incerto e o imprevisível. Mais de quinze milhões de crianças e jovens brasileiros crescem em um mundo de mudanças rápidas, por vezes difíceis de compreender. Nesse cenário, a escola enfrenta um dilema temporal: mantém estruturas do século XIX, com educadores formados sob a lógica do século XX, tentando preparar estudantes para os desafios do século XXI.

O que é – e será, afinal de contas – a educação do futuro? Encontro conforto no Relatório da UNESCO de 2021 ao ler a expressão “futuros da educação” — no plural mesmo. O documento sugere um leque de possibilidades não lineares que, seguramente, não se reduzirão a um único caminho ou modelo.

O historiador Yuval Noah Harari, ao refletir sobre a aprendizagem ao longo da vida, argumenta que o indivíduo “para continuar a ser relevante – não só economicamente, mas acima de tudo socialmente – vai precisar aprender a se reinventar o tempo inteiro, numa idade tão jovem como a dos cinquenta anos”. Futuros, muitos, ao longo da vida. É isso que os nossos jovens enfrentam.

A trajetória do desenvolvimento humano revela caminhos diversos, às vezes contraditórios. Educar para os futuros é educar para a complexidade. A incerteza é um imperativo e precisamos construir caminhos para que nossos estudantes estejam prontos para o inesperado, para se redescobrir e se reinventar.

Aprender ao longo da vida não significa abandonar o ensino por disciplinas ou deixar de lado os conhecimentos essenciais para entender o mundo. Significa ir além disso: conectar o que se aprende em partes com a visão do todo. O objetivo é ensinar de forma que os conteúdos estejam integrados às habilidades necessárias para os desafios do nosso tempo.

É possível ensinar matemática, artes ou qualquer outro conteúdo dentro de um contexto que estimule o pensamento crítico, a busca por soluções para problemas reais, a criatividade e a colaboração. Aprende-se no convívio, crescendo com os outros. É nesse ambiente coletivo que a escola se torna mais forte — um espaço onde também se aprende empatia, resiliência e respeito.

Trilhando esse caminho de transformação, a escola do futuro amplia sua missão: forma indivíduos de maneira integral, atentos ao presente e preparados para agir com consciência e empatia. Com estratégias bem definidas, essas escolas podem superar o falso dilema entre foco em conteúdo e desenvolvimento humano. Devem incorporar a tecnologia de forma intencional, como aliada da aprendizagem, sem perder de vista o ser humano, suas relações e sua capacidade de se conectar com o outro e com o mundo. No fundo, isso é o que importa.

Há quem preveja uma educação do futuro sem escolas ou professores. Discordo profundamente. Sou entusiasta da tecnologia e celebro os avanços que a inteligência artificial e outros recursos têm trazido ao contexto escolar, permitindo uma oferta de aprendizagem personalizada, considerando os ritmos e trajetórias individuais de cada estudante e todo o suporte que representa aos professores e gestores educacionais.

Mas é também no vínculo que a aprendizagem se faz. Como disse Guimarães Rosa, o que a vida quer da gente é coragem. É sob essa ótica que convido àquilo que chamo de “coragem pedagógica”: vamos tomar consciência de que não temos todas as respostas e aceitar com coragem que o educar para o incerto pressupõe desaprender e aprender o novo o tempo todo.

Temos futuros pela frente. Que nossas escolhas, mesmo as pequenas, sejam firmes e comprometidas com uma educação mais humana e conectada à complexidade do nosso tempo. É assim que ajudaremos a construir um mundo melhor.

***Sócia e Diretora de Negócios da **Start Anglo Bilingual School

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