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Renata Ishida, gerente pedagógica do LIV, faz uma análise desse resultado do Pisa na Coluna do LIV deste mês

O brasileiro costuma dizer que é criativo, se orgulha de ter sempre ideias mirabolantes e soluções engenhosas na hora de resolver problemas do cotidiano. Por isso, a notícia de que mais da metade (54,3%) dos alunos de 15 anos  do país apresentou um baixo nível de criatividade ao tentar resolver problemas científicos e sociais na prova internacional de conhecimentos Pisa (sigla em inglês para Programa Internacional de Avaliação Escolar) causou espanto. O levantamento, divulgado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), levou muitos pais, educadores e os próprios estudantes a questionarem: será que os adolescentes estão realmente menos criativos?

Muitos saíram buscando culpados – e o uso excessivo de telas foi citado como um possível desencadeador do problema. Mas, para Renata Ishida, gerente pedagógica do LIV, é preciso ter calma. Em primeiro lugar, diz, é preciso entender que a avaliação quantitativa, como a do Pisa, é apenas um tipo de interpretação do que se entende por criatividade. E, mais importante, não é consensual no mundo da Educação.

“Temos que pensar nos critérios de avaliação. Será que faz sentido avaliarmos todas as crianças do mundo sob os mesmos critérios? Será que os da prova não foram baseados em uma cultura que não inclui e dialoga com a realidade brasileira?”.

E, mesmo que o Pisa leve em consideração a realidade brasileira, Renata levanta algumas hipóteses que podem explicar os resultados abaixo da média dos estudantes. Uma delas é o fato de o currículo de muitas escolas ser focado no aprendizado de conteúdo factual e memorização, com menos ênfase em habilidades de pensamento crítico, na resolução de problemas e inovação. Outra é que a maioria das instituições de ensino aposta em uma metodologia expositiva, que dá pouca margem para os alunos explorarem ideias de forma independente ou colaborativa.

“Além disso, há uma forte pressão para que os alunos atinjam boas notas em exames tradicionais, o que pode reduzir o tempo e a energia dedicados a atividades criativas. Outro problema é um medo generalizado de cometer erros, que pode inibir a experimentação e a exploração, elementos cruciais para o processo criativo”.

Como as escolas podem colaborar com a criatividade dos seus alunos?

As escolas desempenham um papel crucial na construção e incentivo da criatividade nas crianças, diz Renata, que defende que técnicas de resolução de problemas, pensamento lateral e abordagens inovadoras podem ser ensinadas ao longo do tempo. Ela sugere algumas ações que podem ser desenvolvidas pelos gestores e professores. Confira:

  • Aprendizagem Baseada em Projetos: Introduzir projetos interdisciplinares que incentivem os alunos a pensar de forma crítica e criativa. Por exemplo, um projeto que combine ciência e arte pode permitir que os alunos explorem a biologia através da criação artística. A integração de disciplinas fomenta a capacidade de costurar saberes.
  • Pensamento Crítico e Resolução de Problemas: Integrar atividades que desafiem os alunos a resolver problemas complexos de maneiras inovadoras. Isso pode incluir debates, estudos de caso e simulações.
  • Sala de aula estimulante e com espaços de aprendizagem flexíveis: Criar salas de aula com áreas dedicadas a diferentes tipos de atividades criativas, como espaços para experimentação, criação de arte ou colaboração em grupo. E que utilize não só o processo de escrita: incluir ações que envolvem o corpo e outras formas de linguagem incita outros caminhos para o pensamento.
  • Uso de Ferramentas Tecnológicas: Incorporar tecnologias que permitam aos alunos explorar suas ideias de novas maneiras, como software de design gráfico, programação de computadores e impressoras 3D.

E os pais, o que podem fazer?

Sabe aquela criança que mal tem tempo para respirar? Depois da escola, emenda aulas de balé, futebol, idiomas, terapia etc? Renata sugere que os pais pisem no freio e permitam aos filhos ter tempo ocioso. Segundo ela, a “falta de produtividade” não é negativa e não deve ser um motivo de ansiedade e preocupação. A mente sobrecarregada e estressada não consegue produzir ideias e trabalhos criativos e de qualidade.

“Não ter nada estimulante ou alguma tarefa para uma criança por um tempo pode ser importante para que ela busque sozinha formas de se entreter. Isso abre espaço para novos pensamentos, assim como o tempo necessário para suas elaborações”.

Como a educação socioemocional ajuda no desenvolvimento da criatividade?

As habilidades socioemocionais e a inteligência emocional são fundamentais para o desenvolvimento da criatividade, pois fornecem a base emocional e cognitiva necessária para a exploração de ideias inovadoras e a resolução de problemas de maneira original. O autoconhecimento, a comunicação, o pensamento crítico e a perseverança contribuem para a criatividade.

Quem tem autoconhecimento compreende seus próprios interesses e fica mais propenso a buscar atividades que estimulem a criatividade. Um estudante que sabe que gosta de desenhar, por exemplo, pode se sentir motivado a explorar a arte digital, abrindo novas oportunidades criativas.

Desenvolver a habilidade da comunicação permite trocar ideias com o outro de maneira clara e eficaz, estimulando colaborações que podem ser inovadoras. O pensamento crítico, por sua vez, permite que as pessoas decomponham problemas complexos em componentes mais fáceis de serem entendidos, permitindo abordagens criativas para solucioná-los. A perseverança, diz Renata, auxilia a criatividade na medida em que ajuda a superar o medo de errar.

“Projetos criativos frequentemente envolvem experimentação e falhas. A perseverança ajuda os indivíduos a aprender com os erros e continuar tentando novas abordagens até encontrar soluções eficazes. A perseverança também ajuda a desenvolver e implementar os projetos criativos, que vão muito além da geração de ideias”.

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