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Neste mês, na Coluna Educação Corporativa, Constanza Hummel reflete sobre como transformar o erro em estratégia de aprendizagem e inovação nas organizações

Entre tantas ideias potentes trazidas pela SXSW EDU 2025*, uma ficou reverberando em mim persistentemente: o conceito de productive failure, ou fracasso produtivo, apresentado por Manu Kapur, diretor do Singapore-ETH Centre e professor de Ciências da Aprendizagem na ETH Zurich.

Kapur defende — com base numa análise de mais de 160 estudos — que o aprendizado profundo exige espaço para a tentativa e o erro. Ele mostra que permitir que os alunos tentem resolver um problema antes de receberem a explicação formal (mesmo que errem) gera mais retenção, compreensão conceitual e transferência do conhecimento do que a abordagem tradicional de ensinar antes de praticar. Segundo ele, “um certo grau de ambiguidade e incerteza é muito poderoso para o aprendizado”.

E aí eu comecei a pensar: por que ainda é tão difícil falar de erro nas empresas?

Trabalho com aprendizagem corporativa há mais de 20 anos. Já desenhei programas para multinacionais, startups, escolas e hospitais. E tem uma coisa que quase todas essas organizações compartilham: medo de errar. Medo institucionalizado. Erro ainda é visto como incompetência, como algo que precisa ser apagado, corrigido ou silenciado.

Mas quando errar é inaceitável, inovar também se torna impossível. Sem a liberdade de testar e ajustar, a aprendizagem vira ritual — e não transformação.

O que Kapur propõe é mais do que uma mudança de método. É uma mudança de mentalidade. Um convite para criar ambientes onde o erro é parte intencional do processo de aprender. E isso, no contexto corporativo, exige coragem e maturidade organizacional. Exige líderes dispostos a errar na frente dos seus times ou junto com eles. Exige áreas de T&D que projetem experiências seguras, iterativas, com espaço para reflexão, não apenas para performance imediata. As vezes o tempo disponível é uma barreira!

Você quer saber se sua empresa está pronta para isso? Aqui vão algumas perguntas que costumo fazer em nas imersões dos nossos projetos:

  • O seu time celebra só os acertos ou também discute aprendizados a partir dos erros?
  • Seus líderes compartilham suas falhas com vulnerabilidade e intenção?
  • Os programas de desenvolvimento ajudam as pessoas a aprender com os erros — ou apenas a evitá-los?

Se as respostas forem desconfortáveis, talvez seja hora de revisar o modelo mental — antes de incluir esse processo de “fracasso produtivo” no próximo treinamento.

A verdade é que aprendemos mais com as cicatrizes do que com os troféus. E se queremos organizações que aprendem de verdade, precisamos tratar o erro como parte legítima do processo. Isso não significa descuido — significa intenção. Método. Reflexão. Significa transformar o erro em dado, em história, em trampolim.

Na Building 8, temos experimentado isso com nossos próprios aprendizados. Não é fácil. Dá trabalho. As vezes dá vergonha e medo de se expor. Requer segurança psicológica e líderes preparados. Mas o retorno é imenso: mais autonomia, mais inovação, mais coragem.

Aprender com o erro não é só uma competência — é uma vantagem competitiva. Que bom que a SXSW EDU nos lembra disso com tanta potência. Que a gente consiga levar esse lembrete para dentro das empresas, dos programas, dos rituais de aprendizagem.

Porque fracassar, quando é parte do projeto, vira caminho. E não obstáculo.


*O SXSW EDU é um dos principais eventos globais dedicados à inovação em educação, realizado anualmente em Austin, Texas, como parte da programação do festival South by Southwest (SXSW). Reunindo educadores, empreendedores, pesquisadores, formuladores de políticas públicas e líderes de diferentes setores, o SXSW EDU se tornou um espaço pulsante de trocas sobre o futuro da aprendizagem. Nele, surgem tendências, tecnologias e metodologias que desafiam modelos tradicionais e inspiram novos caminhos para a educação formal e corporativa. É onde o que há de mais ousado e relevante no campo educacional se encontra — e se projeta para o mundo.

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