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No artigo desta semana, Viviane Jesuz, do Edify Education, reflete sobre como a escola pode formar a Geração Beta em um mundo imprevisível, ético e digital

Viviane Jesuz*

Vivemos um paradoxo: nunca se falou tanto sobre o futuro, mas nunca soubemos tão pouco sobre ele. Em um mundo de transformações aceleradas impulsionadas por avanços tecnológicos, crises ambientais e mudanças sociais profundas, educar crianças e adolescentes tornou-se uma das tarefas mais complexas para famílias e instituições de ensino. Como preparar os alunos para realidades que ainda não conhecemos, mas que já pesam sobre os ombros da juventude atual?

A ansiedade em relação ao futuro é uma preocupação crescente entre jovens no Brasil e no mundo. Um estudo conduzido pela Teach the Future Brasil 2025 revelou dados alarmantes: 62% dos jovens brasileiros sentem medo do que pode acontecer nos próximos anos, 79% relatam a ansiedade como sentimento predominante ao pensar no amanhã, e apenas 31% acreditam estar preparados para os desafios que virão.

O ano de 2025 também traz uma novidade: o início de uma nova geração, denominada Geração Beta, que abrange os nascidos entre este ano e 2039. Segundo especialistas, essa nova geração estará imersa em uma era em que a inteligência artificial (IA) e a automação estarão plenamente integradas ao dia a dia, influenciando desde a educação até o entretenimento.

Tradicionalmente, a escola preparava os alunos para um futuro relativamente previsível. Hoje, esse modelo está em colapso. O desafio já não é ensinar o que pensar, mas como pensar, aprender, adaptar-se e conviver — princípios defendidos pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que prioriza a formação integral do aluno, unindo competências cognitivas, socioemocionais e éticas.

Entre as dez competências gerais da BNCC, destacam-se algumas essenciais para enfrentar o amanhã, como o pensamento crítico e criativo, a responsabilidade e cidadania, a cultura digital e o trabalho e projeto de vida. São habilidades que refletem as demandas de um mundo em constante mutação: a capacidade de aprender continuamente, resolver problemas complexos e agir com empatia.

No entanto, as instituições de ensino enfrentam obstáculos significativos para desenvolver essas habilidades. O currículo sobrecarregado, centrado em conteúdos fragmentados, ainda domina muitas escolas. Professores, muitas vezes, não receberam formação adequada para trabalhar com metodologias ativas ou competências socioemocionais. Além disso, a desigualdade de acesso a infraestrutura e tecnologia cria abismos entre redes de ensino, enquanto a pressão por resultados em avaliações padronizadas limita o espaço para inovação e protagonismo estudantil.

Apesar das dificuldades, a BNCC oferece um norte: formar indivíduos éticos, autônomos e capazes de aprender ao longo da vida. O próximo passo é transformar essa visão em prática pedagógica acessível e escalável. Para isso, é fundamental integrar o currículo à vida real, conectando temas contemporâneos — como mudanças climáticas e ética digital — ao cotidiano escolar. Também é crucial investir na formação docente, capacitando professores para abordagens colaborativas e interdisciplinares.

Essas mudanças exigem coragem institucional e apoio coletivo, mas são essenciais para que os jovens não apenas sobrevivam ao futuro, mas ajudem a construí-lo com consciência e criatividade. Na prática, escolas e famílias podem adotar ações concretas, como promover projetos interdisciplinares sobre desafios reais, incentivar o desenvolvimento socioemocional com rodas de conversa e práticas de autocuidado, ampliar oportunidades de comunicação em contextos reais e colaborativos, estimular a leitura desde cedo para cultivar curiosidade e auxiliar os jovens a construir seus projetos de vida, refletindo sobre aspirações e seu papel no mundo.

Educar para o desconhecido requer escuta, reinvenção e a coragem de abraçar a incerteza. A escola do futuro não é aquela que tem todas as respostas, mas a que ensina a fazer boas perguntas.

***Coordenadora Acadêmica de Experiência do aluno no **Edify Education

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