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Na Coluna Transformação Continuada, George Stein propõe o ineditismo pedagógico intencional como eixo para renovar práticas, ritmos e decisões pedagógicas em 2026

Como sempre – e cada vez mais rápido –, estamos em dezembro. Minha contribuição como colunista por aqui ainda não completou um ciclo de 12 meses, mas é impossível não sentir o efeito de final de ano na Educação. Nos meus diversos papéis, o fechamento do ciclo anual se manifestou com uma certa previsibilidade, com exceção do meu papel de autor e colunista, que trouxe o ineditismo para este ano.

Aproveitando o fato de esta ser a minha última contribuição de 2025 por aqui, e baseado nessa dualidade entre previsibilidade e ineditismo, resolvi lançar a ideia do ineditismo pedagógico intencional na transformação continuada na Educação e instigar algumas reflexões.

Alguns fatos previsíveis de final de ano

Como pai, acompanhei e participei da transição natural de humores no final do último trimestre: crescimento da tensão com as últimas provas, alívio e cansaço acumulado ao final das avaliações, alegria e curiosidade a respeito das comemorações de fim de ciclo e, por fim, expectativas e ansiedade com as novidades de um novo ciclo que já está logo ali.

Como consultor, o fechamento de ciclos anuais de projetos de longo prazo mistura orgulho e celebração de resultados alcançados, com reflexões, aprendizados e novas perspectivas sobre planos que não se concretizaram conforme o previsto inicialmente. Apesar dos desvios, não caracterizo como ineditismo o fato de nem todos os planos terem se concretizado; faz parte. E, se já começo a consolidar projetos de 2025, as novas iniciativas e projetos para 2026 já entram em fase de preparação: também dentro do previsto em ciclos anuais para escolas e organizações que já estão com atividades planejadas para janeiro.

O inédito de 2025

O ineditismo do ano veio por conta da minha produção como autor de livro e colunista. Como autor, após ter lançado o meu 1º livro em março, organizado e escrito com Lara Crivelaro e diversos coautores (A Escola com Inteligência Artificial Generativa: uma jornada transformadora para um futuro que já chegou, pela Editora Alínea), tive a grata surpresa de vê-lo amplamente citado no Referencial do MEC para Desenvolvimento e Uso Responsáveis de IA Generativa na Educação.

E foi no encontro desse ineditismo de autor com a previsibilidade de fatos educacionais que surgiu esta coluna de dezembro…

Um pouco de história com ingredientes de ineditismo

Voltando para a década de 1990. Em uma época na qual eu ainda nem sabia que iria me dedicar integralmente à Educação e à inovação em aprendizagem, fui gestor de Logística de uma multinacional francesa e, no meu processo de desenvolvimento profissional, escolhi fazer um curso de criatividade. Lá se vão cerca de 30 anos, mas carrego algumas abordagens, práticas e frases de efeito até hoje. Uma frase que me instiga com frequência é: “Quando foi a última vez que você fez algo pela primeira vez?”.

Um questionamento cotidiano que aprendi a me impor nas mais diversas situações. E o faço de maneira intencional por ter consciência da natureza condicionante em que vivo. Sei que os hábitos que desenvolvi ao longo da vida – desde os atos mais simples, como a maneira como me levanto da cama ou cumprimento um conhecido na rua, até as minhas dinâmicas de relacionamento e as formas como realizo tarefas mais complexas – são construídos por condicionamentos que misturam instinto, adaptação neuromotora e reforço psicológico. Nosso funcionamento biológico como um todo é direcionado para o condicionamento como forma de termos uma vida mais serena. Imagine se tivéssemos que pensar e decidir conscientemente todo e qualquer movimento e atitude que temos.

Por outro lado, ao vivermos um cotidiano absolutamente habitual e previsível, privamos nossas perspectivas, sentidos e sensações, conexões cerebrais e ações práticas de novos estímulos e possibilidades. E, pior, deixamos de aprender. Aprender é experimentar novas situações, refletir e possibilitar novas conexões e ações que viabilizam transformações.

A intencionalidade desta coluna

Como colunista, tenho tido a maravilhosa e difícil tarefa de transformar conceitos, aprendizados e minha perspectiva do mundo educacional em textos mensais que consolidem as minhas inquietações educacionais de maneira inédita e valiosa para uma transformação continuada da Educação.

A motivação para a coluna surgiu com a percepção de que as mudanças na sociedade, de uma maneira geral, têm sido muito mais rápidas do que as escolas, os currículos e, na prática, o cotidiano de professores e estudantes têm sido capazes de incorporar. Se, por um lado, a escola tem a responsabilidade de desenvolver seres humanos e propiciar aprendizagem sobre uma certa parte do legado do conhecimento humano desenvolvido no passado, por outro lado, deve contextualizar e dar sentido à aprendizagem com a realidade do presente.

A formação docente, os modelos organizacionais de escolas e as propostas curriculares foram concebidos no passado. Os desafios globais nos contextos socioeconômico e ambiental, a incrível velocidade de atualização tecnológica e os consequentes impactos no perfil de crianças e jovens demandam um esforço integrado e contínuo de conscientização, reflexão e decisão por parte de lideranças educacionais que não têm sido usuais no passado.

Ao nomear a coluna como “Transformação Continuada”, pensei em concebê-la como um espaço para fatos, ideias e reflexões que possibilitem esse esforço transformacional integrado e contínuo.

Uma armadilha da previsibilidade escolar

O final de 2025, e especificamente as últimas duas semanas, trouxe-me uma realidade conhecida e previsível na maioria das escolas: a semana pedagógica, ou algum outro nome que faça referência à semana na qual gestores e docentes retornam das férias antes dos alunos e, geralmente, fazem reuniões e formações para desenvolver algumas competências específicas, reforçar os valores e a cultura da escola e/ou planejar as primeiras atividades do ano.

A praticidade e a efetividade de se ter momentos nos quais se pode dialogar, refletir e aprender, sem a pressão do dia a dia com os alunos, são inegáveis. Infelizmente, a previsibilidade da semana pedagógica, pode causar e consolidar alguns hábitos  que acabam por prejudicar esse esforço de desenvolvimento profissional nas escolas :

  1. Direcionar somente essas semanas (no retorno das férias de verão e de inverno) para o desenvolvimento docente.
    As escolas proporcionam palestras, oficinas, rodas de conversa, visando desenvolver competências docentes que julgam ser relevantes para a melhoria da aprendizagem, mas não mantêm, ao longo do ano, um processo de acompanhamento, suporte, avaliação e reforço dessas competências.

Assume-se, de maneira incorreta, que o que é ensinado e, por vezes, experienciado e praticado em uma situação fora do cotidiano será incorporado na rotina escolar, concorrendo com tantas outras demandas e desafios.

  1. Definir a programação e as competências docentes a serem desenvolvidas às pressas e com base exclusivamente em tendências de mercado e/ou novos processos ou tecnologias que a escola vai implementar no ano ou semestre.
    Escolas passam praticamente o ano inteiro na correria do cotidiano operacional e não se atentam para situações desafiadoras e demandas reais de desenvolvimento docente que o dia a dia explicita.
    No final do 2º semestre, já sabendo da “reserva” da semana pedagógica, corre-se atrás de temas e processos que parecem ser relevantes, mas sem ter claro o contexto e as situações reais que ocorreram ao longo do ano.

O ineditismo pedagógico intencional para 2026

Ao me deparar com diversas situações, conversas e demandas de projetos para a famosa “semana pedagógica” do início de 2026, veio-me à mente uma intencionalidade criativa para ajudar escolas que eventualmente estejam condicionadas a uma forma pouco efetiva de proporcionar desenvolvimento profissional para o corpo docente.

Talvez, já adentrando em dezembro, não se tenha tempo hábil para transformar a concepção da semana pedagógica, mas talvez seja possível introduzir alguns aspectos inéditos na abordagem. Em vez de apenas questionar: “Quando foi a última vez que você fez algo pela primeira vez?”, a escola pode de fato fazer algo inédito, como lançar reflexões para gestores e docentes que instiguem a reflexão e a adoção intencional de novas práticas. Algo como:

  • Se eu não tivesse objetivos de aprendizagem definidos pela BNCC e pela escola, o que e como eu escolheria ensinar para meus alunos? Mas, considerando que tenho objetivos de aprendizagem a cumprir, como posso combinar as minhas escolhas com os objetivos pré-definidos?
  • Além das atividades já definidas para a semana pedagógica pela gestão, o que eu gostaria de aprender sobre a turma de alunos pela qual serei responsável? Como posso me desenvolver nesse sentido?
  • Quais desafios encontrei para lecionar minhas aulas e como posso me preparar para superá-los em 2026?
  • Como posso ajudar a escola a fazer uma semana pedagógica mais efetiva e significativa no próximo semestre?
  • Quando será a próxima vez que farei algo pela última vez? E por que isso faz sentido?

A intenção é que cada colaborador da escola que participar de um esforço legítimo de desenvolvimento profissional e planejamento de início de ano não seja refém dos próprios hábitos, mas adote uma atitude de ineditismo pedagógico intencional para uma transformação significativa, com foco em aprender e ensinar melhor aquilo que realmente importa.

E, quem sabe, possamos criar um hábito criativo de praticar um ineditismo pedagógico intencional não somente ao iniciar novos ciclos, mas ao longo de todo o ano.

Um ótimo final de 2025 e um começo de 2026 ainda melhor!

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