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A Coluna do LIV deste mês no educador21 traz detalhes sobre a participação da sua gerente pedagógica, Renata Ishida, no Congresso Bett Brasil 2024

Nos últimos dez anos, o consumo de psicotrópicos em crianças cresceu 775% no Brasil. Dentre eles, a ritalina, que é utilizada para concentração. O número, aliado a outros indicadores, como o aumento dos diagnósticos de TDAH nos estudantes, preocupa e gera o debate sobre a saúde mental de crianças e adolescentes.

Para Renata Ishida, psicóloga e gerente pedagógica do LIV, as pesquisas e diagnósticos são importantes para entender o porquê de as crianças estarem mais agitadas e dispersas, e então orientar o cuidado. Ela falou sobre o tema durante a Bett Brasil, maior evento de Inovação e Tecnologia para Educação da América Latina, trazendo reflexões importantes sobre essa questão que vem preocupando cada vez mais as escolas.

Segundo Renata, é preciso cuidado com os resultados dos diagnósticos, para que eles sejam interpretados de forma saudável e originem práticas de ajuda e afeto, sem corroborar preconceito e estigmas.

“Será que os diagnósticos estão cumprindo um papel saudável na aprendizagem? Será que não estamos abafando e silenciando a criança? Pois muitas vezes aquilo que ela está manifestando como agitação é um pedido de ajuda, pois há algo errado. A gente não estimula a criança e ela perde a capacidade de se desenvolver”, questiona.

Para ela, é preciso atenção aos sinais que a criança passa na escola. Ao reparar uma mudança no comportamento, os profissionais não podem ignorar o contexto externo, buscando entender qual situação a criança vivencia em casa, evitando que ela seja apenas rotulada como hiperativa.

Na era digital, a influência das redes sociais também não pode ser deixada de lado no debate sobre a saúde mental de crianças e adolescentes. De acordo com a psicóloga, páginas da internet muitas vezes, podem levar a crer numa vida perfeita, provocando ansiedade e descontentamento. E há um perigo silencioso: como destaca a especialista, nem sempre a felicidade é sinônimo de uma pessoa emocionalmente saudável.

“A felicidade é um estado que vai acontecendo ao longo da vida, assim como a tristeza, a raiva e o medo. A questão da saúde mental não é estar feliz o tempo inteiro, mas não estagnar numa situação. É entender que saúde mental é ter recursos e ferramentas necessários para atravessar os desafios da vida, pois ela vai nos desafiar”, afirma.

Diante do cenário alarmante, então, como as escolas e os familiares podem ajudar a construir ambientes mais saudáveis? O primeiro passo, segundo Renata, é enfrentar o problema de frente. Entender a importância de pensar a saúde mental nas escolas é fundamental para o debate, pois é um local prioritário na vida das crianças e adolescentes.

Ela recorda, inclusive, que é a partir do olhar atento de um professor ou de um funcionário, por exemplo, que uma situação de crise pode ser identificada pela primeira vez. O segundo ponto traz a provocação: a partir daí, o que fazer? Por que é tão difícil falar de saúde mental?

“A gente precisa entender porque não conseguimos falar dela na escola. Pode ser por rejeição, por exemplo, ou porque a gente não sabe falar sobre sentimentos”, pontua.

O terceiro ponto apresenta caminhos. Ao estruturar estratégias e práticas de cuidado, como criar um espaço para que as pessoas possam se manifestar, falar e ser escutadas, a escola pode criar um local seguro e acolhedor, para que os alunos se sintam abraçados e confiantes em procurar ajuda.

As práticas socioemocionais, destaca Renata, são fundamentais para desenvolver esse espaço seguro. Muitas vezes os diagnósticos chegam pois o sofrimento não encontrou lugar para ser manifestado e, quando não é escutado, vai se transformando em um cenário mais perigoso, que pode desencadear em doenças como ansiedade e depressão.

“Saúde mental é um compromisso cotidiano, uma prática constante de todos os profissionais. Não existe desenvolvimento socioemocional se habilidades como comunicação e pensamento crítico não são praticadas diariamente”, finaliza a especialista.

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