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Betina von Staa*

Trago aqui uma história extraída da minha rotina. Em um primeiro momento, você poderá achar que está dentro de uma discussão sobre autocuidado e qualidade de vida. Fique aqui até o final. Tudo fará sentido para você.

Meu marido e eu estamos naquele momento da vida em que é preciso cuidar do corpo e fazer atividade física para evitar colesterol, pressão alta, hérnia de disco entre outros problemas da rotina sedentária e do fato de que não ficamos mais jovens a cada dia.

Ele sempre gostou de aulas em grupo na academia, onde podia conversar com as amigas e amigos, comentar sobre o clima e as notícias (sendo que esse segundo tema anda a cada dia menos prazeroso) e ouvir das viagens de cada um e sobre os vinhos que estão tomando – sendo que ele nem toma vinho!!!

Já eu, sempre tive horror exatamente destas interações sociais e preferia cuidar do corpinho com um plano personalizado em que eu fazia força e não precisava falar com ninguém! Se possível, organizava a troca de aparelhos para nem precisar olhar para o usuário anterior do equipamento.

Hoje nossa agenda não permite mais academia em local fixo. Ele arrumou uma personal que o atende por vídeo às 6h da manhã, faça chuva ou faça sol. E está feliz com o serviço, pois ela o estimula a levantar da cama ainda no escuro com broncas e outros elementos de motivação extrínseca.

Eu tenho mais o que fazer do que me submeter a broncas de quem quer que seja. Já tive minha personal trainer em vídeo que atendia às 8h30, não reclamava de atrasos rotineiros e me ouvia falar sobre a família, os negócios e com quem até travava discussões frutíferas e dialógicas sobre política (nem éramos do mesmo campo político).

Agora que a saúde está permitindo, quero ainda mais liberdade: yoga quando der vontade, caminhadas com a cachorra, passeios com as amigas, uma bike aqui ou ali (de preferência na academia do prédio nos horários em que ninguém está por ali), e controle do colesterol para garantir que eu esteja fazendo o mínimo, mas realmente o mínimo necessário para o corpinho ficar de pé e sem dores.

Quem está tendo os melhores resultados? A pessoa que vai presencialmente a um espaço com interações superficiais ou a antissocial? A que prefere interações remotas de qualidade ou a autoinstrucional? A que acredita em motivação extrínseca e supera desconfortos ou a que só se move por motivação intrínseca, mas que também não quer fazer um esforço que considera maior que o necessário? A que fica a cada dia mais forte, ou a que está satisfeita com o que tem e quer se manter deste jeito?

Será que nossos alunos também não são assim? Será que os especialistas, reguladores, cientistas vão conseguir definir se o melhor jeito de aprender é presencial ou remoto, estimulado por motivação intrínseca ou extrínseca? E os defensores da interação? Será que podem fazer isso sem ao menos distinguir se são superficiais, com foco em relacionamento ou em presença, ou mais profundas, com foco em trocas e transformação?

Quem define aonde cada um precisa chegar?

Betina von Staa é Educadora, Doutora em Linguística Aplicada, Mestra em Análise do Discurso e fundadora da BvStaa, consultoria para o desenvolvimento de aprendizagem híbrida e digital.*

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