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Anne Baldisseri analisa como a metacognição fortalece autonomia, reflexão e consciência em um mundo marcado pela inteligência artificial

Anne Baldisseri*

Vivemos uma era em que a inteligência artificial pode escrever textos, resolver problemas complexos e até sugerir caminhos para nossas decisões. Mas há algo essencial que ela ainda não consegue fazer, e talvez nunca consiga: ensinar alguém a pensar sobre o próprio pensamento.

Na escola, muitas vezes falamos sobre conteúdo, provas, habilidades e resultados. Mas o que realmente transforma a trajetória de um estudante não é apenas o que ele aprende, e sim como ele se reconhece nesse processo. A metacognição, ou a capacidade de pensar sobre o que se pensa, é o que permite a cada criança e jovem se apropriar da própria aprendizagem e ganhar confiança para navegar um mundo em constante transformação.

Na Avenues São Paulo, cultivamos essa consciência desde os primeiros anos. O projeto Flag Time ou Hora do Desafio, por exemplo, nasceu da iniciativa de ajudar nossos alunos da educação infantil e séries iniciais a organizar seus pensamentos, nomear suas habilidades e seus desafios, e tomar decisões com autonomia. Além disso, também integramos a metacognição de forma abrangente ao nosso currículo “Avenues World Elements”. Dessa forma construímos uma cultura onde a reflexão é tão valorizada quanto o conteúdo, formando estudantes que não apenas aprendem, mas sabem como aprendem, e que estão aptos a aplicar esse conhecimento em qualquer desafio. A metacognição não é um conteúdo a mais no currículo. É o fio invisível que costura as experiências de aprendizagem com propósito e significado.

Um estudo global da Nord Anglia Education, em parceria com a Boston College, ilustra o impacto transformador da metacognição. A pesquisa, que envolveu 27 escolas em 17 países, teve como foco preparar estudantes para um mundo complexo e dominado por tecnologias. Lançado em 2023, o programa integrou práticas metacognitivas por meio de ferramentas como o “Learner Portfólio” (um portfólio digital de reflexões) e “Thinking Routines” (rotinas estruturadas de pensamento). Os resultados são animadores: entre fevereiro e abril de 2024, mais de 2.400 alunos e 389 professores foram ouvidos, e os ganhos foram significativos. 78% dos alunos relataram sentir-se mais criativos, 73% notaram uma melhor colaboração e 75% reportaram um aumento notável em sua independência. Professores, por sua vez, observaram que os alunos se tornaram mais conscientes de suas forças e mais capazes de se adaptar a novas estratégias.

A pesquisa reforça o que vemos todos os dias em sala de aula: quando professores e alunos têm espaço para pensar juntos sobre como aprendem, o engajamento e a criatividade aumentam.

No contexto da inteligência artificial, essa habilidade se torna ainda mais essencial. Nossos estudantes precisam ser capazes de fazer perguntas, de questionar as respostas que recebem (inclusive das máquinas) e de tomar decisões éticas e conscientes. Isso exige pensamento crítico, sim, mas também exige tempo, espaço e modelos humanos que incentivem a reflexão.

Criar uma cultura em que parar para pensar não seja visto como perda de tempo, mas como parte fundamental do aprender, talvez seja o maior desafio e também a maior oportunidade da educação hoje. Uma cultura em que educadores também possam se perguntar, com abertura e curiosidade: “O que meus alunos estão me mostrando sobre como eles aprendem? E como posso apoiá-los melhor?”

Metacognição é, acima de tudo, um convite à escuta de si mesmo, dos outros e do mundo. E formar jovens capazes de escutar, refletir, aprender e reaprender é a nossa melhor resposta para um futuro onde humanos e tecnologias vão precisar caminhar juntos, com responsabilidade, imaginação e empatia.

***Diretora da **Avenues São Paulo

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