Mensalmente, Mario Ghio aborda temas de grande relevância para o setor, sempre fundamentados em dados, na Coluna X da Educação
Enquanto escrevo esta coluna, celebro um mês à frente do Instituto Alfa e Beto (IAB), sucedendo o Prof. Dr. João Batista Oliveira, seu fundador e líder por quase 20 anos. Meu objetivo ao aceitar liderar este Instituto pelas próximas décadas está alicerçado no desejo de contribuir de forma relevante e efetiva com a educação pública, principal cliente do Instituto sem fins lucrativos. Mantenho minhas empresas e presença em conselhos da educação privada e com o IAB poderei contribuir em todas as dimensões da educação básica nacional.
Relevante porque o IAB atende a dezenas de milhares de alunos em 50 prefeituras de diversos estados e efetiva porque os resultados dos programas de alfabetização do IAB são incríveis. Nas cidades em que os protocolos são seguidos à risca, o índice de alunos completamente alfabetizados no primeiro ano chega a 98% enquanto o debate sobre metas nacionais no PNE (Plano Nacional de Educação) caminha para estabelecer 80% ao final do segundo ano.
Alguns educadores têm reservas com a expressão protocolos, mas pessoalmente eu gosto bastante de programas estruturados. Aliás, falar em programa é falar em algo que tem começo, meio e fim, tem planejamento prévio, intencionalidade, recursos didáticos planejados etc. Tudo junto faz parte do que chamamos de ensino estruturado, assim como os sistemas de ensino brasileiros também são.
No final da década de 80, quando eu era um calouro universitário de engenharia, tive a oportunidade de lecionar Química no maior cursinho do país, o curso Anglo. Conhecido por ter um corpo docente extremamente competente, a régua no Anglo era (e ainda é) muito alta. Entre meus colegas docentes havia diversos doutores, catedráticos da USP das mais diversas áreas. Estar no tablado que Francisco Platão Saviolli, José Roberto Castilho Piqueira, Ricardo Feltre, Antônio Medina, Geraldo Camargo de Carvalho, entre tantos outros nomes de relevância não apenas no mundo universitário, mas também grandes autores e alguns fundadores das maiores editoras do país, era aterrorizante!
Por outro lado, o planejamento e a estruturação acadêmicos permitiram que um neófito como eu tivesse acesso aos planos de aulas, manuais dos professores, modelos de aulas, aos autores etc. No início eu buscava seguir à risca as instruções e via que realmente me auxiliavam a dar aulas claras, interessantes e que focavam nos temas que eram relevantes para o aprendizado dos alunos. Com o passar do tempo, fui introduzindo minhas criações e testava a cada turma o que funcionava melhor. Desenvolvi meu estilo próprio e lecionei mais de 13.000 aulas ao longo de 16 anos de dedicação exclusiva ao magistério da Química. Tenho convicção que não teria a oportunidade de estar aqui, escrevendo esta coluna, não fosse toda a estruturação, planejamento e protocolos que me permitiram ser um professor bem-sucedido.
Voltando às reservas que alguns educadores têm quando se deparam com protocolos, gostaria de traçar um paralelo com a área da saúde. Creio que ninguém que tenha um ente querido acidentado gostaria que ele fosse atendido por um corpo clínico despreparado, que improvisasse no pronto atendimento ou que perguntasse ao paciente o que ele sugere que fosse feito. Me pergunto por que o que é tão óbvio na saúde é motivo de tanta celeuma na educação. Nunca nunca consegui responder esta pergunta. Termos como liberdade de cátedra, engessamento, entre tantos outros são usados para justificar que professores desenvolvam seus trabalhos como bem entendem, mesmo que as evidências sejam claras que os alunos não aprendem. Penso que, na área da saúde, o dano é tão evidente quando os protocolos não são seguidos, que pragmaticamente todos seguem. No entanto, o dano de uma educação ruim aparece anos depois, quando já será muito difícil entender suas causas.
Liderar o Instituto Alfa e Beto é ter a oportunidade de aplicar programas estruturados em larga escala, baseados nas ciências, desenvolvidos e acompanhados por grandes educadores que formam a equipe pedagógica do IAB. Espero com isso proporcionar aos novos professores todo o apoio que tive quando comecei minha carreira, dando aos estudantes as melhores condições para o aprendizado.
Sou grato a Deus, à vida e ao Prof. João Batista por estar nesta nova jornada com um time tão especial e um propósito ainda melhor!
Mario Ghio Junior é empresário, membro do Conselho de Administração da Vasta Somos e da SEB Alta Performance, presidente da Abraspe (Associação Brasileira dos Sistemas e Plataformas de Ensino) e do Conselho da Fundação Pitágoras. Também é conselheiro de várias organizações não-governamentais (ONGs) dedicadas à melhoria da educação pública. Foi CEO da Abril Educação, diretor Acadêmico da Kroton e da Estácio (YDUQS), diretor de plataformas educacionais do Grupo Santillana. Iniciou a carreira lecionando Química no Anglo Vestibulares.