Skip to main content

Como investir em tecnologia e inovação se não existe previsibilidade financeira? Fundador do Educbank, Danilo Costa aborda este grande dilema das escolas particulares em artigo

Danilo Costa*

Há anos tenho o privilégio de trabalhar no universo da educação. Com o surgimento das chamadas edtechs nas últimas duas décadas, o universo escolar vem passando por uma transformação irreversível, e acredito que a educação é um dos segmentos que mais pode (e deve) se beneficiar da revolução digital deste século.

Para se ter uma ideia, em 2021, de acordo com dados do Distrito, mais de US$ 550 milhões foram investidos em empresas brasileiras focadas em tecnologias educacionais (edtechs), representando um aumento de 1.800% em relação aos US$ 29 milhões de 2020.

Porém (e isso não é exclusividade do Brasil), os gestores de instituições de ensino e educadores costumam ser criticados pela demora em adotar as “últimas novidades” tecnológicas. O que não chega exatamente a ser ruim, já que estamos falando de atividades com impacto na vida de muitas crianças e jovens — e cujo prazo para comprovar os resultados é longo. Aliás, é o mesmo motivo pelo qual muitas famílias também hesitam em apoiar novas iniciativas, receosas de que suas crianças se tornem “cobaias”.

Mas, uma vez superado esse ceticismo inicial, e depois de inúmeras experiências bem-sucedidas e muitos dados acumulados, sabemos de benefícios já mais do que comprovados — apoiando não apenas os alunos nas suas jornadas de aprendizagem, mas também os professores, com ferramentas que potencializam sua atuação e economizam seu bem mais escasso: o tempo.

No entanto, a conjuntura do nosso país traz um obstáculo adicional para a adoção da inovação em sala de aula: a completa falta de previsibilidade financeira por parte dos gestores das escolas particulares. Pode até ser uma surpresa para alguns, mas quem já foi ou é dono de Escola sabe que a inadimplência ao longo do ano e a dificuldade no acesso ao crédito (mesmo para cobrir o capital de giro) são dois problemas complexos — e bem antigos.

Soma-se a isso o fato de que muitos gestores acabam dedicando mais de 50% do seu tempo e energia em atividades-meio, como financeiro, contábil, administrativo e cobrança. Como organizar ações efetivas de longo prazo se o orçamento disponível varia tanto de mês a mês? Como dedicar tempo e recursos para estudo e planejamento se as atividades diárias consomem tanto?

Pois até mesmo nesse aspecto a tecnologia vem trazendo benefícios e melhorias, não apenas para escolas, mas para a vida financeira de indivíduos e empresas. Em todos os setores da economia, as “fintechs” vêm ganhando espaço e proporcionando serviços financeiros digitais em diversos nichos — incluindo o da educação. Minimizam a burocracia, personalizam o atendimento e utilizam tecnologias avançadas de forma customizada: surgem para resolver problemas específicos de cada setor com um nível de compreensão — e de dados — até então impossível para as instituições financeiras tradicionais e provedores de linhas de crédito.

Nubank, QuintoAndar, Creditas — são apenas algumas dessas empresas fundadas a partir da década de 2010 que já atingiram um valor de mercado igual ou superior a muitas destas instituições “tradicionais”. Portanto, diversos setores da economia e da sociedade já foram beneficiados pela simplicidade, efetividade e rapidez das fintechs. Nada mais natural que a chegada de novas empresas, capacitadas e comprometidas com o setor de educação, se multipliquem nos próximos meses.

Oferecer capital de giro, tecnologias inovadoras de pagamento, soluções completas de gestão, maior comodidade e autonomia para as famílias é tudo que um dono de escola precisa para voltar a investir, voltar a focar nos alunos e no seu bem-estar — permitindo que a relação escola-família continue sempre melhorando.

Se no ranking de educação da OCDE (o famigerado “Pisa”) infelizmente ainda figuramos entre os últimos colocados, a situação é bem diferente no ecossistema de fintech: o Brasil é hoje o maior mercado da América Latina e São Paulo é a 4ª cidade do ranking global, segundo levantamento do Global Fintech Rankings 2021.

Por esse motivo, observando a inevitável e bem-vinda colisão desses dois mundos, não poderia estar mais animado para acompanhar os próximos episódios dessa história. Acredito que muito em breve, os dilemas e hesitações das Escolas não serão mais uma questão financeira. Com o apoio das melhores fintechs e edtechs, os dilemas das Escolas passarão a ser outros: onde devo abrir uma nova unidade? O que mais posso fazer para ampliar o acesso à educação de qualidade?

Aí sim, finalmente, teremos feito progresso significativo em direção à educação que tanto sonhamos e desejamos para os 9 milhões de estudantes que hoje frequentam as escolas particulares do Brasil.

*Fundador do Educbank e palestrante no Forum de Gestores, na Bett Brasil 2022

Compartilhe: