Com tecnologia e trilhas flexíveis, instituições ampliam o engajamento e reduzem a evasão, oferecendo experiências mais humanas e relevantes
Christian Salazar*
Estudar hoje não é mais sobre estar numa sala de aula e cumprir horas de currículo. O estudante moderno enxerga a graduação como uma experiência completa: ele quer sentir que está crescendo, que o tempo investido gera resultados concretos, que cada disciplina faz sentido no seu projeto de vida. Quando essa sensação não acontece, surge a frustração — e é nesse espaço que a evasão encontra terreno fértil.
Esse problema é mais sério do que parece. Entre 2022 e 2023, as matrículas no ensino superior aumentaram 5,6%, puxadas principalmente pela rede privada, que hoje concentra cerca de 79% dos estudantes, segundo a 15ª edição do Mapa do Ensino Superior no Brasil (Semesp, 2025). A educação a distância (EAD) teve avanço ainda maior: 13,4% no mesmo período, alcançando quase 5 milhões de estudantes — praticamente metade do total de matrículas no país.
Apesar desse crescimento expressivo, os primeiros meses de 2025 já apontam sinais de retração na captação de novos alunos, especialmente no EAD, o que reforça a importância de estratégias capazes de manter o estudante engajado e presente até a conclusão do curso.
A boa notícia é que existem respostas. E uma delas tem ganhado cada vez mais espaço: a personalização do ensino. Quando o estudante entende que o curso foi desenhado levando em conta suas necessidades, interesses e ritmo, ele deixa de ser um número numa estatística e passa a ser protagonista de sua própria trajetória acadêmica.
Tecnologia e trilhas de aprendizagem flexíveis como estratégia de retenção
A personalização acontece, na prática, quando a tecnologia abre caminhos para percursos formativos mais dinâmicos. Trilhas de aprendizagem flexíveis são um exemplo claro: em vez de seguir um caminho único e engessado, o estudante pode avançar em áreas que despertam maior interesse, explorar temas de forma mais profunda e até validar competências já adquiridas. Isso gera motivação, porque o aprendizado deixa de ser abstrato e passa a ter aplicação imediata.
Outro recurso poderoso são as microcertificações. Ao longo do curso, o aluno conquista selos que reconhecem habilidades específicas. O impacto é duplo: de um lado, a sensação de progresso constante, que reduz a chance de desistência; de outro, a valorização profissional imediata, já que esses certificados dialogam diretamente com o mercado de trabalho. Em um cenário em que muitos estudantes precisam equilibrar estudo e carreira, essa lógica faz toda a diferença.
Plataformas digitais modernas fortalecem ainda mais esse movimento. Bibliotecas virtuais integradas, relatórios de desempenho e recursos interativos permitem que cada estudante encontre apoio no seu próprio tempo, sem perder a conexão com os objetivos do curso. Essa combinação entre autonomia e suporte cria um ambiente de confiança. Afinal, sentir-se compreendido é um dos maiores motivos para seguir em frente.
Personalização como diferencial competitivo no mercado educacional
O ensino superior brasileiro vive um ambiente de disputa intensa. Novos cursos e instituições surgem a cada semestre, e não basta ter preço competitivo ou professores qualificados. O que diferencia, de fato, é a experiência oferecida. É aqui que a personalização deixa de ser apenas uma estratégia pedagógica e se transforma em diferencial competitivo.
Estudantes que se sentem valorizados tornam-se defensores naturais da instituição. Compartilham suas experiências positivas, recomendam o curso a conhecidos e, muitas vezes, permanecem em programas de pós-graduação. Isso significa que reter um aluno é também investir em marketing orgânico, fortalecendo a reputação e atraindo novos públicos.
Além disso, a personalização conecta a instituição ao que há de mais atual no cenário global. Jovens brasileiros, cada vez mais conectados a experiências internacionais, comparam suas trajetórias não apenas com universidades locais, mas também com modelos de fora. Nesse sentido, oferecer percursos formativos mais flexíveis e humanizados coloca o ensino nacional em sintonia com padrões de qualidade internacional, sem perder a identidade local.
O impacto direto na jornada do estudante e no futuro do ensino superior
Na perspectiva do estudante, a personalização significa mais do que concluir uma graduação. Ela se traduz em autonomia, clareza sobre os objetivos e, principalmente, relevância. O aluno sente que o curso conversa com suas necessidades atuais e oferece ferramentas práticas para o futuro. Esse engajamento cria um vínculo emocional com a instituição, tornando a jornada acadêmica mais significativa.
Para os professores, a personalização também abre novas possibilidades. Com ferramentas de acompanhamento mais precisas, eles conseguem identificar dificuldades, propor soluções sob medida e valorizar conquistas individuais. O processo deixa de ser centrado apenas no ensino e passa a ser focado no aprendizado real.
Já para as instituições, o resultado é um ciclo virtuoso: maior retenção, fortalecimento da marca e sustentabilidade no longo prazo. Num cenário de tantas transformações, a personalização não é apenas uma alternativa; é uma exigência do presente e um caminho inevitável para o futuro. Colocar o estudante no centro não é slogan, é estratégia de sobrevivência e crescimento.
*Head of Marketing Latam da Pearson Higher Education










