Especialista em análise de dados, Fabrício Garcia, CEO da Qstione, orienta educadores para o mundo data driven
Com a tecnologia permeando todos os setores da vida cotidiana, uma quantidade enorme de dados é gerada por minuto. Diante disso, diversos segmentos da sociedade atuam para tornar esses dados seus maiores aliados, transformando-os em informação relevante para suas tomadas de decisão. E esse cenário não é diferente com a educação.
O chamado data driven education é uma tendência apontada pelos maiores especialistas do setor, já seguida por gestores expoentes — inclusive no Brasil. Por isso, o mais rapidamente possível, os professores precisam entender esses dados e precisam compreender seu significado.
“O data driven é um termo novo para práticas antigas na educação. A ideia de tomar decisões educacionais a partir da análise de dados, a partir de evidências e informações pedagógicas, nos remetem aos primeiros conceitos relacionados à avaliação dos estudantes”, explicou Fabrício Garcia, CEO da Qstione — plataforma de avaliação e diagnóstico para alunos de escolas e instituições de ensino superior.
A novidade, nisso tudo, é que a tecnologia possibilita a coleta de dados que sera impossível se ter acesso sem determinadas ferramentas. Com isso, modernizou-se o conceito de análise de dados.
A Qstione utiliza esse conceito atual desde a sua fundação, em 2015, quando ainda não era muito difundido. A aplicação acontece nos processos de avaliação das escolas parceiras, por meio de softwares e ferramentas que pudessem coletar mais dados que os professores não conseguiriam coletar sem o uso da tecnologia.
“Um dos aspectos mais interessantes dessa história é que as instituições educacionais que trabalhavam conosco, desde aquele momento, perceberam que quando a gente coleta um número maior de dados, há a necessidade de um esforço maior para processar os dados e tomar decisões a partir dessas análises”, disse Fabrício Garcia.
Processos e tecnologia: entenda o mecanismo do data driven
Fabrício Garcia frisou, ainda, a necessidade de se entender que há dados que nem sempre são coletados porque determinados métodos de avaliação não permitem essa coleta — seja por limitação da ferramenta avaliativa ou por incapacidade tecnológica da escola ou da universidade que realiza a avaliação.
É nesse sentido, segundo o especilista, que o conceito se moderniza, já que a tecnologia tem facilitado a coleta de dados que não poderiam ser coletados e processados sem o uso da tecnologia. Mas nem sempre os processos se dão como deveriam.
Um exemplo disso são as principais avaliações produzidas pelo Inep () e pelo MEC (Ministério da Educação), baseadas na TRI, um modelo vantajoso porque pode ser feito ao longo do tempo, gerando análises comparativas com avaliações anteriores.
“Em linhas gerais, é uma evolução do modelo estatístico e isso me deixa otimista quanto ao futuro. Mas esse modelo estatístico ainda não foi implementado no Enade, o que torna essa avaliação limitada do ponto de vista estatístico. Não podemos fazer grandes comparações, não podemos averiguar a evolução das instituições de ensino e dos estudantes ao longo dos anos em cada avaliação”, explicou Garcia.
Professores precisam entender e se apoderar da analise de dados
Para facilitar, de uma vez por todas, o entendimento sobre o assunto, o especialista traz uma analogia interessante, buscando esclarecer a importante relação entre avaliação e geração e análise de dados na educação: as avaliações são fotografias, retratos acadêmicos dos estudantes.
“Como toda fotografia, ela é estática, retrata um momento. Então precisamos aferir a evolução do aprendizado tirando várias fotografias para gerar um filme, quadro a quadro, da vida acadêmica de cada estudante. E, para isso, precisamos de avaliações seriadas”, explicou.
Dessa forma, o CEO da Qstione acredita que não adianta apenas capacitar professores; é preciso mudar a cultura interna, principalmente a cultura avaliativa das instituições de ensino. E, na sua opinião, nesse aspecto, a tecnologia entra muito forte.
Outro destaque feito por Fabrício Garcia é que o professor precisa, dentro dessa nova cultura, entender que as suas decisões precisam ser baseadas em dados, e não apenas em percepções ou achismos. Esse ponto, na sua opinião, precisa mudar urgentemente e depende da inserção dessa nova cultura de análise de dados pelos gestores.
“Os achismos acontecem quando não há variável científica de análise de dados, os achismos são extremamente perigosos para a educação. Infelizmente, muitas instituições de ensino ainda tomam decisões baseadas em percepções. Esses pontos são fundamentais para o educador moderno, da geração que utiliza novas tecnologias educacionais e que almeja trabalhar as competências do século 21 com seus alunos”, assinalou o CEO da Qstione.
Editora-chefe e cofounder do portal Educador21