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Convidado especial na Coluna Edtechs deste mês, o especialista Vinicius Martins analisa o mercado em desvantagens das edtechs

Vinicius Martins*

Há uma década ou mais, em todos os segmentos de indústrias e serviços no Brasil e no mundo, muito se fala e muito se investe em transformação digital e tecnologias disruptivas. Mas nota-se um desequilíbrio na balança de investimentos e a corrida da transformação digital entre os segmentos de indústrias e serviços no Brasil. E o segmento de Educação é um dos que está em desvantagem em relação aos outros.

De acordo com os números que se devem observar nesses casos, o segmento de Educação, que se reflete nas Edtechs (startups de Educação), infelizmente está em clara desvantagem. Desde o final de 2022 o Brasil passa por um “inverno VC”, onde no primeiro trimestre de 2023 os aportes em startups brasileiras caíram 86% (fonte: Distrito).

Mas, abstraindo o cenário atual, as Fintechs (startups de soluções para o Mercado Financeiro) são as que vêm recebendo mais investimento desde 2019. Em 2021, as Fintechs arrecadaram US$ 3,8 bilhões (fonte: Startupi). Quase 40% do total no país. Apenas com esses dados, já nota-se um enorme disparate no equilíbrio de investimento no ecossistema de startups no Brasil.

Isso sem levarmos em consideração o número total de segmentos das startups (Agrotech, Healthtech, Adtech, etc) ou entrarmos na discussão do peso e incentivos que deveriam haver para que investimentos chegassem em equilíbrio às startups que atuam nos segmentos mais impactantes no desenvolvimento e bem estar da sociedade, como Educação e Saúde. E, muito pior, sem contarmos com os dados de um estudo realizado pela Associação Brasileira de Startups mostrando que uma em cada sete startups atuam no ramo da Educação (fonte: 49Educacao).

Olhando para o papel do Governo Federal no investimento em Educação, de acordo com os últimos relatórios Brazil Digital Report da McKinsey & Company (fonte: McKinsey), a inclusão digital na maioria das regiões ainda vêm engatinhando. Onde os domicílios com renda mais alta têm 4 vezes mais penetração de internet do que os domicílios de renda mais baixa.

Ainda de acordo com últimos relatórios Brazil Digital Report da McKinsey & Company (fonte: McKinsey), embora tenhamos um número crescente de pessoas formadas em áreas correlatas a Tecnologia da Informação no Brasil, a saúde da relação entre candidato e vagas de trabalho em Tech também está em desequilíbrio. Principalmente para as posições que requerem mais senioridade.

E aqui está o “xis” da questão. Segundo pesquisa recente realizada pela Brasscom (Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação), estima-se que 530 mil vagas de tecnologia no Brasil não serão preenchidas até 2025 (fonte: BrazilLab). Nesse ponto, com todos os fatores expostos até aqui, já começa a ficar claro o título deste artigo. Não há como qualquer solução digital de Educação em apoio à formação dos jovens concorrer com outras soluções digitais.

Neste ponto, chegamos ao grande assunto a ser destrinchado, o grau de atração dos profissionais de Tecnologia para o segmento de Educação.

Tenho mais de 20 anos atuando no Mercado de TI no Brasil. Tive oportunidade de conhecer muitos profissionais. Brilhantes, bons, medianos e quiet quitings. E, olhando para o currículo e momento atual de todos esses profissionais brilhantes e bons, praticamente 100% deles não estão trabalhando ou nunca trabalharam para nenhuma empresa ou startup no segmento de Educação. E claramente esse fato observado se dá devido aos melhores salários e oportunidades de carreira para profissionais de Tech não estarem no segmento de Educação.

Notoriamente, o aspecto grave dessa ausência de bons profissionais de Tech em Educação é tema de “vida ou morte” para as Edtechs. Pois a batalha diária das Edtechs é sempre por qualidade na usabilidade, atratividade, performance e todos os outros fatores que remetem ao engajamento dos jovens nas soluções digitais dessas Edtechs. E, infelizmente, mais de 90% das Edtechs têm soluções que não são core no ambiente educacional. Ou seja, são soluções que as Instituições de Ensino veem valor em adotar mas os alunos não são obrigados a utilizar no contraturno escolar na grande maioria das vezes. E isso fatalmente acarreta em riscos de renovação contratual entre Instituições de Ensino e Edtechs.

Aqui eu já aproveito para dar os meus parabéns a todos os profissionais de TI super guerreiros atuando em Educação. Em nada tem a ver com eles essa crítica. A maioria deles, com certeza tem o propósito genuíno de atuar em Educação. E eles precisam matar um leão por dia nessa batalha de engajamento dos jovens. Mas, infelizmente, como dissertei, venho observando que estamos perdendo esta guerra. Justamente por não termos os melhores profissionais de tecnologia somando na atuação de Tech no segmento de Educação. Deixando claro, a crítica é justamente em relação à balança de investimento de tecnologia em Educação e Edtechs, que está desequilibrada em relação aos outros segmentos.

Enquanto esse desequilíbrio existir, a batalha será muito desleal na atenção que precisamos ter dos jovens. Que, em grandes linhas, significa concorrer a atenção do tempo vago deles com vídeos on demand (NETFLIX, Disney, Amazon… “entre as gigantes de Tech mais investidas no mundo”) e redes sociais (Instagram, Facebook, TikTok… “entre gigantes de Tech mais investidas no mundo”).

As possíveis soluções e técnicas para melhorar este problema são discutidas há tempos. Elas são um conjunto de ideias, programas e ações que remetem a pensar sempre em temas como gamificação dessas soluções digitais, conscientização da sociedade na importância do equilíbrio da formação do indivíduo e no uso de redes sociais e entretenimento, movimentos de marketing digital sobre um determinado tema importante em Educação que Edtechs estão trabalhando (como a importância do Vocacional para felicidade profissional e a importância da saúde socioemocional para saúde mental), discussão em como as instituições governamentais de Educação (como o MEC) podem tornar horas de uso das soluções digitais “não core” obrigatórias, entre outros. Mas, no final, não há para onde fugir. Pois sobre essas possíveis soluções para o problema, também estamos falando sobre o ponto de crítica aqui: INVESTIMENTO EM EDUCAÇÃO E EDTECHS.

*Empreendedor Tech, CTO na edtech Seren e Arquiteto de TI – convidado especial da Coluna Edtechs

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