A Coluna X da Educação está de volta. Mensalmente, Mario Ghio aborda temas de grande relevância para o setor, sempre fundamentados em dados
O calendário é baseado no movimento dos corpos celestes observáveis da Terra desde tempos imemoriais. O primeiro dia do novo ano acontece quando o corpo celeste volta exatamente à mesma posição em que estava no ano anterior. Os corpos celestes mais visíveis na Terra são o Sol e a Lua. Assim, algumas culturas usaram o movimento do Sol para medir o tempo, enquanto outras culturas basearam seus calendários nos movimentos da Lua.
O calendário Gregoriano, que adotamos no ocidente, foi proclamado pelo Papa Gregório XIII, em 1582, em substituição ao calendário Juliano, implantado pelo imperador romano Julio César, em 46 a.c. Ambos são calendários solares e acabamos de entrar no ano 2025 d.c. A China adota, há milênios, um calendário Lunissolar, isto é, baseado tanto na Lua quanto no Sol. É o mais antigo registro cronológico de que temos notícia e no final de janeiro de 2025 a China comemorará o início do ano 4723 em seu calendário.
A explicação acima mostra que o Ano Novo pode nos inspirar tanto para a mudança, afinal um novo ciclo se inicia, quanto para a continuidade, porque há uma volta ao mesmo lugar do ano anterior. Por sinal, possuir um mecanismo de mudança e outro de manutenção distingue nossa mente e cérebro dos demais animais, que só possuem instintos e mecanismos de manutenção. Somos capazes, segundo a neurociência, de utilizar sem pensar inúmeros rituais que fomos desenvolvendo ao longo do tempo para economizar decisões e energia. Estes rituais ou hábitos estão presentes na região subcortical do cérebro. Já logo atrás de nossas testas, temos o lobo frontal da região cortical, que é o nosso centro administrativo. Ali avaliamos opções e tomamos decisões, em um processo dispendioso de energia.
Os mecanismos de manutenção e mudança são muito explorados em livros fantásticos como Rápido e Devagar de Daniel Kahnrman e Bons Hábitos, Maus Hábitos de Wendy Wood, leituras que recomendo profundamente. Wood apresenta em seu livro pesquisas que comprovam que quase 50% do nosso tempo estamos com os mecanismos de manutenção no controle, ou seja, quase metade do que fazemos diariamente são fruto de hábitos e rituais que desenvolvemos, sobrando para o restante do tempo as atividades voluntárias que demandam decisões.
Acho o Ano Novo o momento ideal para a reflexão sobre o que queremos manter e o que queremos mudar em nossas vidas. Compartilhando algumas escolhas pessoais: decidi manter o tempo dedicado a compartilhar ideias, como nesta coluna, ter mais tempo para minha família e amigos, participar de uma meia maratona por semestre, participar ativamente de todos os debates sobre Educação no Congresso, entre outros. Decidi mudar: meus hábitos alimentares para voltar aos 80 kg que tinha aos vinte anos, meu papel de liderança direta nos meus empreendimentos para o de conselheiro desenvolvedor de recursos humanos. Mudança difícil, mas me encanta dedicar tempo para orientar uma nova geração de gestores educacionais.
Refleti que as escolhas verdadeiras são as que implicam em renúncias e resolvi renunciar ao protagonismo executivo direto. Afinal, são quase 4 décadas e ninguém poderá me acusar de inconstância de propósitos! Ao longo dese tempo, vi muita gente que se dizia apaixonada por Educação migrar de área quando uma oportunidade mais rentável surgia ou quando apareciam problemas mais complexos. Tive muitas oportunidades e convites para outras áreas, mas por convicção (e medo, e até preguiça), nunca fiz esta opção.
Além da reflexão pessoal, queria sugerir a reflexão coletiva. O que o Brasil deveria manter e o que deveria mudar em 2025? No campo da Educação, arrisco dizer que devemos manter programas que incentivam financeiramente a permanência dos estudantes nas escolas, como o “Pé de Meia”. Devemos manter o prêmio financeiro estipulado pelo Fundeb para estados e municípios que melhoraram os resultados educacionais, entre outros. No campo da mudança, meu desejo seria de que os novos prefeitos recém-empossados mantivessem programas educacionais bem-sucedidos da gestão anterior e só alterassem o que não funciona. Educação precisa de continuidade. É uma afirmação óbvia, mas pouco praticada em nosso país.
E você leitor, já tirou um tempinho para pensar sobre o que gostaria de manter e de mudar este ano? Só de refletir já será uma pessoa melhor, mais consciente das suas qualidades e defeitos, capacidades e limitações. Manter e mudar são a essência e o exercício de nossa humanidade.
Boa reflexão e um maravilhoso 2025!
![](https://educador21.com/wp-content/uploads/2024/05/mario-ghio-junior.jpg)
Mario Ghio Junior é empresário, membro do Conselho de Administração da Vasta Somos e da SEB Alta Performance, presidente da Abraspe (Associação Brasileira dos Sistemas e Plataformas de Ensino) e do Conselho da Fundação Pitágoras. Também é conselheiro de várias organizações não-governamentais (ONGs) dedicadas à melhoria da educação pública. Foi CEO da Abril Educação, diretor Acadêmico da Kroton e da Estácio (YDUQS), diretor de plataformas educacionais do Grupo Santillana. Iniciou a carreira lecionando Química no Anglo Vestibulares.