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Fundadora e idealizadora do 90 Segundos de Finanças, Luciana Pavan chama a atenção para o peso da educação financeira nas escolas para o futuro do país

Luciana Pavan*

Quem me conhece sabe o quanto eu sou envolvida com a Educação. Desde que decidi enveredar pela área de consultoria financeira, sempre me amparei nos estudos, ora seguindo com a minha própria vida acadêmica, ora conscientizando os meus mentorados sobre a transformação que um bom curso pode nos proporcionar. Na condição de profissional que fala diariamente com muitas pessoas, percebo que muito do que nos falta (e aqui, quando digo “nos”, refiro-me aos brasileiros) sobre conhecimento de finanças vem de base, isto é, ainda na infância ou na adolescência, pois algo deixou de ser feito.

Em dezembro de 2017, foi publicada a Resolução CNE/CP nº 2, que institui a implantação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) a ser respeitada obrigatoriamente ao longo das etapas e respectivas modalidades no âmbito da Educação Básica. Para além de ser um documento normativo, a BNCC foi interessante ao prever temas transversais, como a Educação Financeira, então a ser implementada em diversas etapas da formação (Fundamental I/II e Ensino Médio) e não apenas nas disciplinas de praxe, como a Matemática.

Essa transversalidade pode parecer óbvia, mas, para muitas famílias, não é. Quando fiz uma pós em Economia Comportamental, comecei a ir mais a fundo em temas estruturais. Notei que muitas pessoas endividadas ainda tinham algumas questões familiares a serem resolvidas ou se encontravam nessa situação – a famosa “bola de neve” – porque não tiveram uma referência dentro de casa. E veja bem, não há nenhum juízo de valor nisso que estou debatendo. Estou falando que nos carece algo, ainda a ser desenvolvido como sociedade, permeando cultura, políticas públicas, educação e conscientização no geral enquanto cidadãos.

Tive a oportunidade de viver quase três anos em Toronto, no Canadá. E apesar da saudade do clima tropical do Brasil (afinal, lidava com frio intenso por 9 meses do ano, além da neve), fiquei encantada com a educação canadense. Não por acaso, o país norte-americano sempre tem uma boa posição no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), enquanto o Brasil continua patinando no mesmo levantamento. E pude perceber que o tema “finanças” faz parte do cotidiano de crianças e adolescentes, tanto em sala de aula, quanto fora dela. Não é coincidência.

Minha intenção não é ficar comparando, até porque temos histórias distintas. Mas aproveito o espaço para trazer exemplos e propor um debate, a partir de referências. Ainda no Canadá, os governos de algumas províncias têm um plano chamado CanLearn, que incentiva as famílias elegíveis a pouparem dinheiro para o ensino superior das crianças. Funciona assim: primeiro, os pais abrem uma poupança especial para cada filho; em paralelo, o governo contribui com o mesmo valor que o pai ou a mãe deposita na conta. Aqui, temos uma evidência do quanto o Estado também desempenha um protagonismo neste desenvolvimento pessoal e coletivo.

No entanto, esse trabalho pode ser iniciado dentro de casa, independentemente de termos iniciativas do Estado ou não. Aos meus mentorados, costumo dizer que é imprescindível começar, desde cedo, a ensinar a origem do dinheiro da família. Recomendo explicar que esse recurso vem em troca do trabalho e que, com a remuneração, precisamos pagar todas as despesas da família e também guardar para fazer as coisas no futuro. Depois de saber que o Real não nasce em árvore, é importante começar a dar noção do valor das coisas.

Com qual idade eu posso começar a educar financeiramente uma criança? É o que muitos me questionam. Dependendo da faixa etária, você pode fazer uma brincadeira, perguntando o que vale mais, comparando coisas do guarda-roupa dos filhos. E assim, depois que aquele pequeno indivíduo já estiver alfabetizado e entender os números, podemos falar de valores. Só depois de todos esses passos é que eu indicaria falar de poupança. Provavelmente, após os 11 anos vai haver uma melhor noção do tempo em meses.

Em resumo, a educação é um dos principais pilares da vida de todas as pessoas e há diversas frentes em que podemos atuar, seja contando com apoio das escolas, de educadores financeiros/mentores ou praticando dentro dos nossos próprios lares. O mais importante, a meu ver, é um pontapé inicial básico, porém libertador: a conscientização financeira.

*Fundadora e idealizadora do 90 Segundos de Finanças

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