Pesquisa inédita realizada pelo Instituto Educbank mostra queda no bem-estar de estudantes e desgaste crônico de professores, apontando urgência de mudança estrutural
Uma pesquisa nacional inédita realizada pelo Instituto Educbank de Educação e Cultura, em parceria com a Great Place to Study (GPTS®), trouxe à tona um retrato preocupante da saúde mental na educação básica. Com a participação de mais de 18 mil pessoas entre estudantes, professores e famílias, o estudo revela que a escola, tradicionalmente vista como espaço de convivência e proteção, tem sido associada cada vez mais a sentimentos de cansaço, ansiedade e isolamento.
“Não podemos mais normalizar o sofrimento como parte do aprendizado”, afirmou Lara Crivelaro, diretora acadêmica do Instituto Educbank, ao comentar os dados. Para a educadora, os resultados apontam que a saúde emocional deixou de ser um tema periférico para se tornar um dos maiores desafios educacionais do país. “Temos convicção que esta publicação pode servir de referência para gestores, educadores, famílias e instituições comprometidas com a criação de um ambiente escolar transformador”, complementou Lara.
Os dados evidenciam que o sofrimento emocional não é um episódio isolado, mas um fenômeno coletivo que afeta diferentes gerações. Em sala de aula, alunos relatam sobrecarga e perda de pertencimento, enquanto educadores se dividem entre o prazer de ensinar e a exaustão que compromete sua saúde.
Segundo o estudo, há uma crise silenciosa que ameaça o papel da escola como ambiente formador de vínculos significativos. Essa deterioração do bem-estar impacta não apenas a aprendizagem, mas também a permanência dos estudantes e a qualidade da atuação docente.
A análise mostra ainda que a saúde mental escolar não pode mais ser tratada como responsabilidade individual. Exige políticas institucionais, revisão da lógica pedagógica e cuidado sistêmico que inclua todos os atores da comunidade educativa.
Estudantes: sobrecarga e perda de pertencimento
Entre os estudantes, 64% afirmam sentir sobrecarga emocional relacionada à escola (Gráfico 1). Essa sensação cresce com o avanço da trajetória escolar, revelando uma curva descendente no índice de saúde psicológica: de 80 pontos no 4º e 5º anos do Fundamental, cai para 64 pontos no Ensino Médio (Gráfico 2).
A perda de pertencimento também chama atenção. Apenas um quarto dos alunos afirmam sentir pleno reconhecimento pelos professores (Gráficos 3 e 4), e 24% dizem não ter grupo de apoio na escola. Esse isolamento, somado ao aumento de casos de bullying (Gráficos 5 e 6), reforça um cenário de fragilidade emocional que compromete a aprendizagem.
A pesquisa aponta que os adolescentes estão entre os mais vulneráveis, acumulando cansaço, baixa autoestima e ausência de suporte institucional. Esse conjunto de fatores eleva os riscos de evasão escolar e reduz a capacidade de engajamento em projetos de vida.
O relatório é enfático ao afirmar que se naturalizou o sofrimento como parte do processo educacional, quando na verdade a escola deveria ser espaço de acolhimento e construção de redes de apoio.






Professores: entre propósito e exaustão
Se entre os alunos prevalece a sobrecarga, entre os professores predomina a exaustão. Três em cada quatro docentes relatam desgaste crônico que compromete sua saúde mental (Gráficos 7 e 8). Ainda assim, a docência segue associada a sentimentos positivos: 91% afirmam encontrar felicidade na profissão e 90% percebem apoio entre colegas de trabalho (Gráfico 9).
Essa ambivalência mostra um paradoxo. De um lado, vínculos interpessoais funcionam como fator protetivo; de outro, não impedem que a sobrecarga estrutural gere adoecimento. O relatório aponta que há uma normalização da exaustão, reforçando a urgência de políticas de cuidado institucional.
Os sentimentos mais citados pelos docentes foram alegria e confiança, mas apenas 27% disseram sentir pertencimento pleno ao ambiente escolar (Gráficos 9 e 10). Isso indica que mesmo quando o propósito da docência se mantém vivo, falta suporte sistêmico para sustentar a prática pedagógica em condições de bem-estar.
A pesquisa evidencia que cuidar da saúde mental dos professores não é apenas uma questão de valorização profissional, mas condição para assegurar a qualidade da educação e o desenvolvimento saudável dos estudantes.




Caminhos para escolas mais saudáveis
O estudo também oferece recomendações práticas. Entre elas estão a inclusão de competências socioemocionais nos currículos, a criação de espaços de escuta ativa para estudantes e professores e a implantação de políticas de cuidado sistêmico que envolvam toda a comunidade escolar.
Outro ponto enfatizado é a necessidade de rever a lógica escolar. Em vez de operar como uma máquina de conteúdos e avaliações, a escola precisa se consolidar como espaço de convivência significativa, onde vínculos de pertencimento e bem-estar sejam parte integrante do projeto pedagógico.
Para os autores da pesquisa, a saúde emocional deve ser reconhecida como componente essencial da qualidade educacional. Isso significa investir em práticas pedagógicas inovadoras, formação docente voltada para a escuta e redes de apoio que ajudem a enfrentar os desafios do século 21.
“Esses dados nos permitem identificar padrões, tensões e oportunidades de intervenção. Eles mostram o que os números sozinhos não capturam. O cansaço que não é dito, o isolamento que não é visto, o desamparo que não é compreendido. Mas também mostram caminhos. Porque, ao escutar com profundidade, abre-se espaço para reconstruir vínculos, redesenhar
práticas e renovar sentidos”, disse Lara Crivelaro.
O estudo, que pode ser acessado neste link, conclui que a transformação exige tanto mudanças institucionais quanto culturais. A saúde mental na escola não pode ser tratada como escolha ou diferencial. Mas como urgência inadiável para o presente e o futuro da educação brasileira.










