Para a assessora pedagógica do Colégio Presbiteriano Mackenzie Brasília, Sandra Mara Ferrari, banir celulares nas escolas abrevia um debate imprescindível sobre o papel da tecnologia na educação nacional
Sandra Mara Ferrari**
No cenário educacional brasileiro, a inserção da tecnologia em sala de aula se tornou mais que uma propensão; é uma urgência. Com a evolução constante da comunidade escolar e a crescente demanda por competências tecnológicas, educadores e instituições estão progressivamente reconhecendo a necessidade do uso dessa ferramenta na educação.
A proposta do Ministério da Educação de banir celulares nas escolas na atual conjuntura, em que as mídias digitais estão integradas ao cotidiano escolar, por completo, abrevia um debate imprescindível sobre o papel da tecnologia na educação nacional expondo vertentes significativas que compõem o processo ensino-aprendizagem na linha tênue entre o excesso e o necessário.
O uso anárquico de celulares, indubitavelmente, pode levar a distrações relevantes capazes de comprometer o processo de ensino/aprendizagem, visto que o cérebro adolescente está em constante remodelação, adaptando-se às novas demandas cognitivas e emocionais, o que pode ser comprometido com o excesso de telas, uma vez pode inibir a concentração, gerando a impaciência de se deterem tempo suficiente para a leitura e compreensão de comandos básicos que requeiram compreensão.
No entanto, o potencial pedagógico da ferramenta tecnológica no ambiente escolar, na promoção da aprendizagem de forma interativa e dinâmica, aumenta consideravelmente o engajamento dos estudantes. Ademais, a retirada abrupta dos aparelhos eletrônicos, causa revolta e crises de abstinência entre os jovens, além de fomentar a preocupação de alguns pais em manterem a comunicação com os filhos durante o dia escolar. Por conseguinte, o processo de adequação e ressignificação do uso de aparelhos eletrônicos nas escolas demanda planejamento, organização e a união de forças de toda a comunidade escolar.
A pandemia de Covid-19 deixou clara a importância da flexibilidade no ensino. A tecnologia possibilitou aulas síncronas e assíncronas, modelos híbridos e versatilidade que garantem continuidade da aprendizagem em tempos de crise, por meio do alcance aos diferentes estilos de vida e necessidades dos estudantes. A vasta gama de recursos, desde vídeos e simulações interativas até textos acadêmicos e cursos on-line que desenvolvem habilidades essenciais para o século 21 como trabalho colaborativo, resolução de problemas por meio do pensamento crítico, desenvolvimento de competências digitais, autonomia e incentivo à participação ativa do estudante, são indiscutivelmente um grande ganho para a sociedade educacional.
Não obstante, reconhecemos que os educadores desempenham papel fundamental na formação de profissionais mais capacitados e adaptáveis, e isso só é viável com a mão na massa, o olho no olho, gerenciamento de conflitos por meio do diálogo e do cumprimento de normas e diretrizes éticas e morais. Esse grande escopo de construção humana precisa ser gerido por pessoas sem a interferência digital, a considerar a adolescência um período marcado por mudanças hormonais e neurais que contribuem para o desenvolvimento do pensamento abstrato, a capacidade de planejamento a longo prazo e o autocontrole.
Este não é um debate simplório. Precisa ser pensado e avaliado por toda a esfera educacional. A chave para o equilíbrio no uso da tecnologia no ambiente escolar está na criação de políticas e direcionamentos que permitam aos educadores e estudantes explorarem juntos, as possibilidades pedagógicas para o desenvolvimento pleno e a construção de um futuro brilhante para nossos discentes, em um ambiente saudável e motivador para nossos educadores.
*O conteúdo dos artigos assinados não representa necessariamente a opinião do Mackenzie
**Assessora pedagógica no Colégio Presbiteriano Mackenzie Brasília