TIC Educação aponta que conectividade e formação docente ainda são entraves para aprendizagem com o uso de recursos digitais
Durante todo o período mais crítico de necessidade de isolamento social nos últimos anos, as tecnologias digitais assumiram papel-chave na educação básica, apoiando a continuidade das atividades de ensino em todo o país. No segundo ano da pandemia, a maioria dos professores afirmou que a escola onde atua ofereceu aulas e atividades aos alunos na modalidade híbrida (91%), combinando estratégias educacionais tanto remotas quanto presenciais. Dois quintos (39%) mencionaram que a escola onde lecionam tiveram aulas totalmente remotas, porcentagem superior à oferta de aulas integralmente presenciais (12%) no período pesquisado.
Esses dados foram revelados pela recém-divulgada pesquisa TIC Educação 2021, que pela primeira vez também entrevistou professores que lecionam em áreas rurais. Conduzido pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), o levantamento foi lançado pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br).
“Os dados revelam proporção alta em realização de atividades com o apoio das tecnologias digitais. Em contrapartida, os docentes entendem que é necessário aprimorar a conectividade nas escolas e ampliar as estratégias de formação, para que possam adotar efetivamente ferramentas tecnológicas nos processos de ensino e de aprendizagem”, disse Alexandre Barbosa, gerente do Cetic.br|NIC.br.
Quanto ao apoio oferecido pela escola ou rede de ensino para a realização das atividades remotas, a maioria dos professores (60%) afirmou ter recebido acesso gratuito a aplicativos, plataformas e recursos educacionais. As proporções foram menores entre os professores de escolas municipais (49%) se comparadas àquelas dos que atuam em escolas estaduais (74%) e particulares (70%).
Os professores de escolas estaduais foram os que mais reportaram a oferta, pela rede de ensino, de chip de celular ou custeio do plano de dados e voz (18%) — nas municipais a porcentagem foi de 7%. Já 26% dos docentes afirmaram não ter recebido nenhum tipo de apoio, percentual que foi maior entre os profesores que lecionam em escolas municipais (34%) e entre escolas rurais (36%).
Confira mais detalhes sobre o apoio à realização de atividades remotas no período
Realizada desde 2010 pelo Cetic.br, a pesquisa tem o objetivo de investigar o acesso às tecnologias de informação e comunicação (TIC) nas escolas públicas e particulares brasileiras de Educação Básica e o seu uso e apropriação por estudantes e educadores.
“A pesquisa TIC Educação é de grande importância para compreendermos a efetiva adoção das tecnologias digitais nos sistemas de ensino. A disponibilização da pesquisa reafirma o compromisso do Comitê Gestor da Internet no Brasil para com a sociedade e a produção de dados robustos e atualizados sobre o avanço da Internet no Brasil”, disse José Gontijo, coordenador do CGI.br.
Em 2021 — período em que algumas redes de ensino estavam planejando a abertura das escolas, enquanto outras ainda permaneciam fechadas — a pesquisa foi realizada apenas com professores. A coleta de dados foi realizada pelo telefone, entre outubro de 2021 e abril de 2022. Confira, a seguir, os principais indicadores do estudo.
Dispositivos utilizados
Na realização das atividades remotas ou híbridas, grande parte dos professores fez uso do telefone celular (93%) ou do computador portátil (84%). Três quartos (74%) afirmaram que o dispositivo era de seu uso exclusivo, enquanto 23% disseram que o compartilhavam com outras pessoas que viviam no mesmo domicílio, e 2% precisaram pedir equipamento emprestado, ou havia a necessidade de ir a outro lugar para acessá-lo.
Entre os professores de áreas rurais, 12% não contavam com computadores no domicílio e faziam uso exclusivo do telefone celular nas atividades educacionais remotas ou híbridas.
Em relação ao uso de Internet, 97% dos entrevistados valeram-se desse recurso na realização de atividades educacionais remotas ou híbridas, sendo que 94% disseram utilizar a rede em casa e 75%, na escola. Em menores proporções, foram citados centros públicos de acesso (9%).
Comunicação com os alunos
O uso de materiais impressos foi a principal estratégia adotada pelos professores para a comunicação e envio de atividades para os alunos. Entre os docentes de escolas públicas, destacaram-se os materiais didáticos e as atividades disponíveis nos sítios dos governos, das prefeituras ou das secretarias de educação, recurso adotado por 80% dos professores das instituições estaduais e 62% das municipais.
Plataformas de aulas síncronas e que exigem maior capacidade de banda foram mais citadas por professores de escolas estaduais (82%) e particulares (91%) do que por escolas municipais (54%).
Além do envio e da recepção de atividades, os professores também fizeram uso de estratégias para tirar dúvidas dos estudantes. Novamente destacaram-se as atividades impressas, mencionadas por 93% dos docentes, e também o uso de aplicativos de mensagem instantânea (91%) e do telefone (83%).
Dificuldades enfrentadas
Assim como em 2020, quando a pesquisa foi realizada com gestores escolares, na atual edição, uma proporção alta de professores (94%) também apontou dificuldades dos pais ou responsáveis em orientar e apoiar os alunos nas tarefas escolares como o principal desafio para a continuidade da realização de atividades pedagógicas durante a pandemia. A falta de dispositivos e acesso à Internet nos domicílios dos alunos foi mencionada por 86% dos docentes.
“No levantamento realizado em 2020 com gestores escolares, uma proporção similar desses educadores destacou o problema da falta de dispositivos e de conectividade. Embora tenham sido implementadas políticas públicas de apoio aos estudantes e professores, o que podemos observar é que no segundo ano de pandemia dificuldades semelhantes continuaram a ser identificadas, agora pelos professores”, avaliou Barbosa.
O aumento da carga de trabalho dos professores (85%), a perda ou dificuldade de contato dos alunos com a escola ou com os professores (83%) e as dificuldades no atendimento a alunos com deficiência (76%) foram também citados por grande parte dos docentes.
A defasagem na aprendizagem dos alunos figura, também, entre os desafios enfrentados por professores de todos os estratos, inclusive das escolas particulares. A grande maioria (93%) apontou o problema durante a coleta de dados. Entre as medidas para apoiar os estudantes, a maior parte dos entrevistados mencionou a combinação de aulas de recuperação presenciais e remotas com o uso de tecnologias digitais (58%), com porcentagem menor entre os que lecionam em escolas municipais. Outro recurso muito citado foi o agrupamento de alunos por nível de aprendizagem (55%). No total, 19% dos professores não destacaram nenhuma atividade.
Para conferir a lista de indicadores na íntegra, acesse este link ou reveja o lançamento online do estudo, pelo YouTube.