Mensalmente, Mario Ghio aborda temas de grande relevância para o setor, sempre fundamentados em dados, na Coluna X da Educação
Na coluna anterior aqui no educador21, tratei da vulnerabilidade do adolescente frente a uma sociedade cheia de novos bandos maldosos, especialmente digitais, em busca de carne fresca. Foi, de longe, a publicação que recebi a maior quantidade de feedbacks. Desde os tradicionais comentários e likes (ou não) até inesperadas conversas em banheiro de restaurante.
Em comum, a maioria das conversas tinha a escola como centro das atenções. Para alguns a escola não é capaz de tratar destes desafios contemporâneos, para outros, sequer se preocupa com isso. No geral, a postura dos leitores era bastante crítica à escola. Quando era visível que o interlocutor era mãe ou pai, perguntava o que ele estava fazendo para proteger e orientar seus filhos e, no geral, as respostas foram vagas ou vazias. Isso aumentou muito a minha preocupação com um fenômeno moderno, não apenas brasileiro: a crítica ampla e fácil proporcionada pelas mídias sociais (ou ao vivo mesmo) é normalmente desacompanhada de soluções ou, ao menos, sugestões de solução.
Como a escola, seja pública ou privada, é onipresente na vida de quem tem filhos em idade escolar e representa uma grande parte do dia dos alunos, é justo que seja um importante aliado na proteção de nossos estudantes, mas não é e nem pode ser o único elemento. Os pais são de modo prioritário e indelegável os responsáveis pela educação de seus filhos. Podem escolher a escola e mudá-la se necessário, o inverso não é verdadeiro. Por isso, tenho estado muito preocupado com o processo de vilanização das escolas pelas famílias, pela mídia e até por órgãos oficiais como PROCON e Ministério Público. Ainda temos uma filha na educação básica e somos testemunha ocular e auricular das críticas acaloradas, muitas vezes pelos grupos de WhatsApp, onde a superficialidade e a linguagem inadequada e desrespeitosa imperam.
Na educação privada, que cobra pelos serviços, é comum o comentário de que a escola não entrega o que seria sua obrigação, ou seja, estou pagando e exijo que meu filho seja protegido das mazelas da sociedade.
Já na escola pública o comentário mais comum é o direito à educação dos filhos, neste caso, proteger é uma obrigação prioritária do Estado.
Aproveito para relembrar o que diz nossa Constituição Federal sobre educação no artigo 205, que trata do direito fundamental: A Educação é direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando o pleno desenvolvimento…
Bingo! Há quase 40 anos já estava pactuado que educar é um direito das crianças e um dever de todos os adultos que a cercam, não apenas dos adultos professores! Nossa Constituição Federal também já reconhecia a necessidade de colaboração entre todos, muito antes de se saber que este é um elemento fundamental na tão bem-sucedida educação escandinava, herdeira das tradições Vikings. Se preferir, de autoria africana desconhecida, mas na mesma direção: É preciso toda uma aldeia para educar uma criança.
Por onde começar? Que tal pela colaboração? Que tal se questionar não apenas sobre qual sociedade você quer para seus filhos, mas também sobre quais filhos você quer deixar para a sociedade?

Mario Ghio Junior é empresário, membro do Conselho de Administração da Vasta Somos e da SEB Alta Performance, presidente da Abraspe (Associação Brasileira dos Sistemas e Plataformas de Ensino) e do Conselho da Fundação Pitágoras. Também é conselheiro de várias organizações não-governamentais (ONGs) dedicadas à melhoria da educação pública. Foi CEO da Abril Educação, diretor Acadêmico da Kroton e da Estácio (YDUQS), diretor de plataformas educacionais do Grupo Santillana. Iniciou a carreira lecionando Química no Anglo Vestibulares.