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Entenda o que é ChatGPT e seus impactos educacionais na era da Inteligência Artificial neste artigo** especial assinado por Lucia Dellagnelo

Lucia Dellagnelo*

O ano inicia com mais uma polêmica! A ferramenta de inteligência artificial (IA) ChatGPT tem despertado um misto de empolgação e preocupação, principalmente, devido ao seu impacto na educação. A ferramenta é similar à um mecanismo de busca, mas ao invés de mostrar links relacionados ao assunto, é capaz de criar textos e resolver problemas que “respondem” à
demanda do usuário, podendo gerar artigos, poemas, códigos e palestras sobre qualquer ssunto. É tão surpreendente que, no primeiro mês de lançamento, já alcançou mais de um milhão de usuários.

O motivo de preocupação dos educadores é que estudantes poderão usar a ferramenta para elaborar suas tarefas escolares e, assim, deixarão de desenvolver as competências necessárias para construir conhecimento. O departamento de educação de Nova York, por exemplo, bloqueou o acesso à ferramenta alegando “preocupação sobre impactos negativos na
aprendizagem”.

A verdade é que a ferramenta é a primeira demonstração concreta do poder da inteligência artificial na criação de conteúdos e formas de expressão criativas consideradas atividades exclusivas aos seres humanos. Até então, as discussões sobre os impactos da inteligência artificial na educação eram baseadas em premissas abstratas que remetiam à um futuro hipotético de ficção científica.

Com a popularização de ferramentas como o ChatGPT esse futuro chegou! Não podemos mais adiar a pergunta sobre o que e como ensinar a crianças e jovens que têm à sua disposição ferramentas que tornam obsoleto e desnecessário decorar fatos e reproduzir textos.

O foco da discussão não deveria ser como bloquear o acesso a essas tecnologias, mas em quais habilidades o mundo contemporâneo requer dos cidadãos para que tomem decisões éticas e eficientes sobre seu uso na esfera individual e coletiva. Pensamento crítico e capacidade de resolução de problemas sempre constaram como objetivos do currículo escolar, mas adquirem um novo significado à luz de tecnologias capazes de resolver problemas e criar narrativas.

Segundo Fei-Fei Li, coordenadora do Human Centered AI da Universidade de Stanford, “não há nada artificial na I.A.: ela é inspirada por pessoas, é criada por pessoas e — mais importante — ela impacta pessoas. É uma ferramenta poderosa que estamos apenas começando a compreender, e essa é uma responsabilidade enorme”, disse.

Não há respostas prontas sobre como professores devem promover em seus estudantes as competências necessárias para compreender, utilizar e criar tecnologias conforme preconiza a BNCC. Mas de uma coisa podemos ter certeza: a única maneira de aprendermos será por meio do uso, experimentação e reflexão.

No contexto brasileiro, a preocupação com o impacto de ferramentas de inteligência artificial, como o ChatGPT adquire uma conotação ainda mais profunda e eticamente urgente: é necessário garantir acesso à tecnologia a professores e alunos das escolas públicas. Caso contrário, negaremos à uma parcela expressiva da população a possibilidade de entender e influenciar um mundo permeado por ferramentas de inteligência artificial.

*Doutora em Educação pela Universidade de Harvard e integrante do Conselho Consultivo da Bett Brasil

**Originalmente publicado no Bett Blog 

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