Modelos formativos reduzem estresse e fortalecem aprendizagens, apontando caminhos para inovação pedagógica no Brasil
Avaliar menos por notas e mais por processos tem se consolidado como uma tendência mundial. Estudos da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico ou Económico (OCDE) já mostraram que 66% dos estudantes têm medo de tirar notas baixas e 59% ficam ansiosos mesmo após se prepararem para testes. Para gestores, esse dado é um alerta: o modelo avaliativo tradicional pode estar gerando mais pressão do que aprendizado real.
No Brasil, experiências inovadoras começam a mostrar alternativas. Um exemplo é o espaço ekoa, em São Paulo, que aboliu provas, apostilas e boletins tradicionais nos anos iniciais da Educação Básica. Inspirado por práticas internacionais, como as de escolas públicas dinamarquesas, o modelo aposta em avaliações formativas, na autoavaliação e em maior diálogo entre escola e famílias.
A diretora pedagógica da instituição, Ana Paula Yazbek, resume a proposta: “A avaliação é uma ferramenta de escuta e planejamento, não de controle. Avaliamos para apoiar, não para rotular”, afirmou.
Ao priorizar o desenvolvimento integral e a singularidade de cada criança, a escola se afasta da lógica punitiva e se aproxima de uma cultura de acompanhamento contínuo — um movimento que gestores atentos já percebem como estratégico.
Avaliação formativa: do acompanhamento à estratégia pedagógica
Na prática, a avaliação formativa envolve observação, registro e análise das interações, produções e reflexões dos estudantes. Professores coletam dados em diferentes formatos — textos, imagens, vídeos ou áudios — que são analisados em conjunto pela equipe pedagógica. O objetivo é transformar evidências em insumos estratégicos para decisões mais precisas sobre o ensino.
Esse modelo, presente em diversas redes internacionais, ganha espaço também no Brasil como resposta à necessidade de inovação. Mais do que substituir notas, ele amplia a capacidade de personalizar o aprendizado, oferecendo indicadores qualitativos que revelam percursos de desenvolvimento.
Outro diferencial é a autoavaliação: desde cedo, os alunos são incentivados a refletir sobre suas conquistas e desafios. Essa prática fortalece autonomia, autoconhecimento e responsabilidade, valores cada vez mais demandados pelo mercado e pela sociedade.
Diálogo com famílias e impacto na cultura escolar
O envolvimento das famílias é parte central desse processo. Em vez de boletins com números, a escola promove encontros individuais e coletivos para compartilhar observações e trajetórias. Essa dinâmica cria uma rede de corresponsabilidade, fortalecendo a confiança entre comunidade e escola.
Esse aspecto tem implicações diretas para gestores. Ao mudar a forma de comunicar resultados, a escola reposiciona sua cultura institucional, deixando de lado o foco exclusivo em métricas quantitativas e abrindo espaço para uma abordagem mais colaborativa.
Pesquisas do IBGE (2023) já indicam que famílias buscam instituições capazes de oferecer um olhar integral para os estudantes, combinando qualidade acadêmica e desenvolvimento socioemocional. Adotar modelos avaliativos mais humanizados pode, portanto, representar também um diferencial competitivo para escolas privadas em cenários de maior concorrência.
O que gestores podem aprender com o ‘case ekoa’
O exemplo do ekoa mostra que inovar na avaliação não significa abrir mão de rigor pedagógico ou da BNCC. Todos os conteúdos previstos continuam sendo contemplados, mas acompanhados de forma contextualizada e menos padronizada.
Para gestores, a lição é clara: mudar o modelo avaliativo pode trazer ganhos em três dimensões estratégicas — redução do estresse estudantil, fortalecimento da aprendizagem significativa e diferenciação da proposta pedagógica. Em um setor cada vez mais pressionado por demandas de inovação, essas dimensões são decisivas para sustentabilidade institucional.
Ao repensar a avaliação, gestores não apenas respondem a desafios imediatos de bem-estar escolar, mas também alinham suas instituições às tendências globais de educação. Afinal, em tempos de transformações aceleradas, escolas que valorizam processos de aprendizagem mais humanos e personalizados estarão mais preparadas para liderar o futuro.










