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Decisão do CNE pode impactar o futuro de toda a educação brasileira caso se concretize a restrição na oferta de cursos de licenciatura na modalidade a distância

A Abed participou de palestras, workshops e mesas-redondas na Bett Brasil 2024, com o objetivo de discutir a qualidade da modalidade a distância, o contexto atual brasileiro e alertar para o risco de o país viver um perigoso retrocesso no acesso à educação. Recentemente, uma decisão do Conselho Nacional de Educação (CNE) vem preocupando estudantes e gestores de universidades a distância no país.

O CNE decidiu limitar as atividades online em cursos de licenciatura EAD, como pedagogia. A proposta da entidade é que os alunos cumpram obrigatoriamente ao menos metade da carga horária em modalidade presencial. A mudança aguarda a homologação do Ministério da Educação. Caso se concretize a proibição da modalidade para cursos de licenciatura, mais de 3 mil municípios brasileiros não formarão mais professores.

O que impactará na vida de milhões de alunos que não terão a única opção de acesso ao ensino superior. O presidente da Abed, João Mattar, pede que resolução seja revista: “O CNE definiu 50% de carga horária presencial sem apresentar justificativas”, disse. O tema, que vem sendo amplamente abordado pelo presidente da Abed, ganhou um espaço de discussão na mesa-redonda “Qualidade no Ensino EAD: onde estamos e para onde vamos?”, no Auditório Ahead, no dia 26 de abril.

“A EAD cresceu muito após a pandemia. E todo crescimento acentuado é acompanhado por avaliações de qualidade. Mas existe uma desconfiança muito grande da modalidade no mundo todo, não apenas no Brasil. E todos vêm trabalhando para mudar essa percepção. A Abed defende a criação de um selo de qualidade, com critérios claros”, pontuou Mattar, complementando que, se for homologado o parecer e houver a suspensão dos cursos de licenciatura, a tendência é que os problemas educacionais aumentem porque a modalidade presencial não é capaz de absorver as demandas atuais dos alunos, em termos estruturais.

Tendência mundial a ser discutida no 29º Ciaed, em setembro

O painel no Ahead reuniu João Vianney, sócio-consultor da Hoper; Luiz Cláudio Costa, reitor do IESB, e João Mattar, presidente da Abed. O mediador João Vianney iniciou o painel lembrando que a educação à distância no Brasil começou a ser fomentada nos anos 1970, pela agronomia através de fascículos, mas só ganhou uma legislação em 1995, quando passamos a ter os cursos de graduação no formato EAD, sendo a pedagogia a primeira licenciatura implantada. Segundo ele, hoje 4,5 milhões de alunos cursam graduação à distância no país.

Para Luiz Cláudio, é imprescindível ampliar a discussão sobre os benefícios da educação à distância e construir sua reputação, bem como combater eventuais preconceitos em relação ao modelo. “Não podemos discutir qualidade por modalidade, ambas precisam ter seus indicadores de desempenho. Existem diversos aspectos positivos na educação à distância, como sustentabilidade, democratização do acesso, e, principalmente, a evolução da tecnologia”.

João Mattar e Joao Vianney durante o painel da Bett Brasil (Foto: Divulgação/Bett Brasil)

O palestrante afirmou ainda que, de acordo com estudos, estamos muito próximos de ter a primeira universidade feita totalmente por Inteligência Artificial. “A Inteligência Artificial será tão comum no nosso uso quanto o nosso smartphone. Diante disso, vocês acham que esse mundo será presencial ou digital?”, finalizou.

O presidente da Abed externou a preocupação com a diminuição na oferta de professores diante da medida do CNE, e reforçou a necessidade de discussão do tema com os órgãos nacionais e entidades do setor. “Estamos indo na contramão do mundo. Enquanto a maioria dos países está aperfeiçoando suas tecnologias para o ensino à distância, no Brasil estamos discutindo qual modalidade é melhor e regressando diante dos avanços. Não podemos continuar trabalhando nessa polaridade, é preciso ter diálogo”, destacou João Mattar.

Ainda de acordo com o presidente da Abed, a tendência mundial é pelo fim da dualidade entre as modalidades. “A educação híbrida será cada vez mais presente, mesmo na educação básica. Não será mais possível viver a dualidade e sim modelos com uma mistura de atividades presenciais e a distância. A maioria dos países está construindo esse futuro. O trabalho tem sido colaborativo entre o presencial e a EAD. Tanto que teremos um congresso, o 29º Ciaed (Congresso Internacional Abed de Educação a Distância), de 15 a 18 de setembro, em Brasília, para trazer um panorama da Europa, EUA, Oceania, América Latina e Caribe, com os resultados dessa combinação, do ponto de vista da qualidade”, anunciou João Mattar.

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