Na opinião do diretor pedagógico do Sistema de Ensino Poliedro, Alberto Serra, a educação do futuro está relacionada a um novo perfil do educador e à transformação tecnológica no setor
Alberto Serra*
A transformação educacional em pauta não é uma exclusividade do setor, mas acompanha mudanças que já ocorreram e ainda estão acontecendo dos pontos de vista social, econômico e tecnológico. Comunga significativamente com um cenário de mudanças em nossas vidas.
Atualmente, precisamos de uma análise profunda e cautelosa para entendermos esse contexto e, a partir desse entendimento, buscarmos novos caminhos. O Poliedro, assim como outras instituições, percebe um novo “decifra-me ou te devoro”, ou seja, se a escola não compreender o mundo atual, provavelmente será engolida por ele. Como disse Paulo Freire, “este mundo não é, está sendo”.
Em meio a esse processo da transitoriedade de tudo, as instituições de ensino devem compreender os valores e práticas que conseguiram trazê-las até aqui e descobrir o que ainda é relevante na construção dessa nova escola. Depois disso, e garantindo a permanência das necessidades clássicas que compõem seu projeto político-pedagógico, devem partir para a consolidação das exigências metodológicas e educacionais da atualidade, considerando que a grande coluna de sustentação deve ser a aprendizagem e que todos os esforços devem convergir para tal.
Para entender um pouco mais, vale dizer que as mudanças são velozes e se alinham ao nosso cotidiano de forma fluida. Temos mudanças reais nos modelos familiares, no mercado de trabalho e socialmente já não nos comportamos como em décadas passadas. Estamos construindo uma nova escola, um novo professor, e tudo isso deve ser traduzido também em um novo aluno. Esperamos um jovem protagonista, sujeito de sua história, criativo e participante em um mundo mais preocupado com questões sociais e ambientais. Queremos uma juventude com propósito.
Antigamente, uma das grandes questões para os pais era optar por matricular seus filhos em instituições particulares ou públicas. Vivenciávamos um modelo dual, não só na educação, mas em diversos setores da sociedade. Agora, observamos a diversidade de modelos pedagógicos, currículos e objetivos. Temos escolas de tempo integral, bilíngues, pautadas na busca de resultados, de preocupação com a formação humana, entre outras. O modelo se reflete nos interesses, desejos e concepções educacionais que as famílias, e consequentemente os filhos, passam a ter. Nesse sentido, a responsabilidade da escola aumenta e torna-se ainda mais importante ajudar as famílias a compreenderem os objetivos educacionais da instituição.
A escola que nos formou foi bastante competente e nos trouxe até aqui. Mas, agora, o mercado de trabalho não é o mesmo, as provas e exames não são iguais, e se as instituições continuarem construindo seu futuro sem entender quais são os novos desafios, não sobreviverão. Precisam compreender, sem perder a essência e a identidade, quais são as competências e modelos demandados em cada cenário. Não são receitas prontas, mas processos, e é fundamental que analisem, individualmente, o que faz sentido para a sua comunidade escolar.
As instituições de ensino precisam entender que o aluno tem nome e sobrenome. Devem olhar para o estudante de forma individualizada, de modo que consiga atender aos sonhos, desejos e necessidades de cada um. Ou seja, as entregas devem ser particulares. Como? Com um olhar atento, boas análises e com o apoio da tecnologia! Utilizando as ferramentas adequadas, um educador consegue enxergar de modo personalizado e oferecer o apoio necessário para o desenvolvimento de cada jovem.
Em paralelo com bons planejamentos, a tecnologia pode ajudar a escola a diversificar seus modelos de avaliação, traçar seus melhores percursos curriculares, oferecer desafios direcionados a cada estudante e assegurar que está oferecendo condições de aprendizagem satisfatórias. Nesse processo, o professor é essencial para verificar quais são as principais dificuldades, como a turma tem se comportado e quanto tem sido assertivo ao ensinar.
Aqui, temos uma nova questão. Antigamente, valorizávamos os professores que sabiam muito. Hoje, os educadores que se destacam são os que efetivamente geram mais aprendizagem. Para isso, as ferramentas tecnológicas são fundamentais. A escola é eficaz quando traz assuntos que a humanidade reconhece como essenciais para a aprendizagem e quando serve de instrumento para o desenvdolvimento das aptidões que o novo mundo nos exige, a exemplo da autonomia e do trabalho em equipe, que devem ser amplamente exercitados pelo novo formato de Ensino Médio e pelas diretrizes atualizadas da BNCC.
Uma boa escola deve instrumentalizar os alunos para um mundo que ainda não conhecemos profundamente e que está em constante transformação. Portanto, deve abrir mão de conteúdos prontos, com prazos de validade vencidos, e ampliar o foco em competências e habilidades que,
como diz o sociólogo Alvin Toffler em seu livro A terceira onda (1980), permitirão ao aluno aprender, reaprender e desaprender algumas coisas de maneira autônoma.
*Diretor pedagógico do Sistema de Ensino Poliedro