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Neste artigo, Claudia Caleff, especialista de formação educacional na International School, aborda o peso da formação de professores

Claudia Caleff*

A formação e, principalmente, a formação continuada de professores tem sido um dos grandes desafios da educação — não só no Brasil, mas no mundo. É o que vimos na última edição do encontro realizado anualmente pela IATEFL, Associação Internacional de Professores de Inglês como Língua Estrangeira, que reúne anualmente especialistas de diversos países para discutir os rumos da educação mundial. Apesar do recorte de ensino de língua inglesa, as grandes discussões se aproximaram muito do que observamos no modelo educacional de maneira geral.

Realizado presencialmente pela primeira vez nos últimos dois anos, na Irlanda, o encontro destacou em suas mesas de debate a necessidade de investir e de valorizar o desenvolvimento profissional e acadêmico dos educadores. De fato, lidando diariamente com professores e gestores escolares, não temos dúvidas de que essa deveria ser uma das prioridades para garantir o aprimoramento dos sistemas educacionais em todo o mundo.

No Brasil, a BNCC é um documento norteador que inspira práticas educacionais que colocam o aluno no centro do seu próprio aprendizado. A regulamentação tem sido essencial para que mudanças reais possam ser colocadas em prática e já vemos os seus efeitos. Agora, é preciso também olhar para os mediadores responsáveis pelo desenvolvimento destes novos modelos. Assim como os estudantes, os professores precisam ser estimulados e apresentados constantemente a novas metodologias e instigados a provocar mudanças capazes de melhorar as suas próprias atuações em sala de aula. É o que chamamos de “cultura do aperfeiçoamento” por meio da autorreflexão.

Claro, isso só é possível a partir de um trabalho contínuo que deve ter a responsabilidade compartilhada entre as instituições de ensino e os próprios educadores. Cabe a cada um aprimorar e desenvolver melhor suas habilidades, mas isso só é possível com o suporte das escolas – seja ele financeiro, no equilíbrio entre tempo de trabalho e o dedicado à capacitação ou na elaboração de um programa de formação continuada.

Assim como vimos no evento da IATEFL, ainda há muitas dúvidas sobre o tema. Quantas horas devem ser aplicadas ao desenvolvimento do professor, como mensurar o nível de engajamento e o resultado prático ou, ainda, de que maneira esse trabalho pode atender as necessidades das equipes pedagógicas e dos professores de maneira personalizada?

São muitos os questionamentos e uma boa parte de estudos ainda iniciais que nos trazem respostas. No entanto, o que se vê na prática é o resultado de algumas iniciativas que já colhem os frutos do investimento e de uma política que acredita na formação continuada de professores como chave para o avanço da educação.

A cidade de Sobral, no Ceará, é um dos principais exemplos práticos desta tese. Considerada a melhor em educação básica do país por quatro anos consecutivos, de acordo com o Índice de Oportunidades da Educação Brasileira (Ioeb), Sobral se apoiou no fortalecimento da gestão escolar para alcançar este patamar. O primeiro passo foi instituir uma política de capacitação de gestores e de formação continuada aos professores, culminando com a valorização dos profissionais de educação, que passaram a receber bonificações por desempenho. O tripé “gestão, formação e avaliação” já é replicado com sucesso em diversas outras cidades brasileiras.

O caso mostra que é possível implementar mudanças práticas na gestão escolar, mas como qualquer mudança, é preciso conscientizar e motivar todos os atores desta peça. Nas escolas públicas, a elaboração e o cumprimento de planos de governo mais estruturados que sigam um padrão sólido e facilmente replicável, com a supervisão de órgãos reguladores. Nas instituições de ensino particulares, a conscientização de gestores e o apoio de parceiros para que os projetos possam ser colocados em prática da melhor maneira possível. Sistemas de ensino, sejam eles de educação básica ou bilíngues, por exemplo, podem oferecer workshops para gestores, promover a formação autorreflexiva entre os profissionais e prestar consultoria, principalmente para as escolas de menor porte, que possuem infraestrutura reduzida.

Assim, lembramos que educação é um ato contínuo. Há sempre o que aprimorar, o que ajustar. E isso vale também para os profissionais que desempenham um papel essencial no processo de educar outras pessoas. Todos precisam aperfeiçoar suas habilidades e estar preparados para reavaliar as rotas sempre que necessário. Repensar objetivos de aprendizagem e replanejar resultados de ensino faz parte do processo educacional. Por isso, a formação continuada é fundamental para que todos possam evoluir juntos.

*Especialista de formação educacional na International School, com colaboração de Cesar Bizetto, especialista em educação

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