Inspirado em neurociência e ação prática, modelo da Reconectta mostra como escolas e empresas podem transformar cultura e impacto ambiental
O termo educação para sustentabilidade deixou de ser apenas uma diretriz curricular e passou a representar um novo modo de pensar tanto na gestão escolar como na corporativa. Para muitos líderes, o desafio já não está em entender a urgência climática, mas em transformar essa consciência em ação concreta e duradoura. É nesse ponto que a ciência do comportamento começa a ocupar um papel estratégico.
Entre os nomes que ajudam a traduzir esse movimento, o educador e estrategista Douglas Giglioti, sócio-fundador da Reconectta, se destaca ao propor uma abordagem que une neurociência, gestão e pedagogia aplicada à sustentabilidade. Em vez de tratar a pauta ambiental como um projeto pontual, ele defende que a verdadeira transformação acontece quando instituições passam a enxergar a sustentabilidade como parte da cultura organizacional.
Com formação em engenharia ambiental e neurociência do comportamento, Giglioti atua há mais de uma década desenvolvendo projetos que unem sustentabilidade, inovação e aprendizagem socioambiental. Na Reconectta, tem traduzido conceitos científicos complexos em práticas aplicáveis à rotina de gestores e educadores.
Segundo ele, não basta informar: é preciso gerar pertencimento e propósito, criando experiências que conectem razão e emoção. “Mudança de comportamento é resultado de engajamento, e engajamento nasce de sentido”, afirmou.
Essa visão amplia o papel da educação e da gestão institucional, apontando para um futuro em que a sustentabilidade não é um departamento ou um projeto, mas uma competência central construída e mantida coletivamente. Para gestores escolares e empresariais, isso significa repensar a forma como as comunidades aprendem, se engajam e agem diante dos desafios climáticos. A sustentabilidade, nesse contexto, não é uma pauta ambiental: é um processo de transformação humana.
Educar para sustentabilidade é ensinar a agir, não apenas conscientizar
Na visão de Giglioti, o discurso tradicional da sustentabilidade falhou em gerar engajamento em massa porque se apoiou demais no medo e de menos na clareza da ação. “Quando as pessoas são bombardeadas por mensagens de catástrofe, mas não têm um caminho claro sobre o que fazer, entram em negação ou paralisia”, explicou.
Foi a partir dessa constatação que a Reconectta estruturou seu modelo de atuação: traduzir a complexidade dos desafios climáticos em práticas simples, contínuas e coletivas. Nas escolas, isso se manifesta em trilhas pedagógicas que estimulam o protagonismo dos alunos na criação de soluções locais. No ambiente corporativo, a lógica é semelhante — os programas ajudam as equipes a integrar a sustentabilidade ao cotidiano, em vez de tratá-la como uma meta externa.
Essa metodologia se apoia em princípios da neurociência comportamental. Segundo Giglioti, o cérebro humano precisa associar a ameaça a um roteiro claro de ação para que o comportamento sustentável se consolide. “É o que chamamos de clareza da ameaça e clareza da ação. Só quando ambas existem é possível transformar o medo em movimento”, disse.
Para as instituições, esse modelo representa uma virada estratégica: deixar de comunicar a urgência ambiental apenas por meio de relatórios e campanhas e começar a gerar mudanças observáveis — de mentalidade e de prática — em toda a comunidade.
Cultura sustentável: o papel das lideranças na transformação de longo prazo
Se o comportamento individual é o ponto de partida, a liderança institucional é o motor da continuidade. Giglioti defende que escolas e empresas funcionam como multiplicadores naturais de cultura e, portanto, têm o poder de reconfigurar comportamentos em escala.
Na Reconectta, essa visão se traduz em programas de assessoria continuada, que vão além da consultoria tradicional. O objetivo é criar uma rede de comunidades engajadas em educação e ação climática, capazes de influenciar políticas e inspirar novas práticas. “Quando uma escola muda, ela muda o território em torno dela. Quando uma empresa muda, ela muda a cadeia de valor. É um efeito sistêmico”, afirmou.
Esse pensamento de “soluções sistêmicas para problemas sistêmicos” vem sendo cada vez mais reconhecido no ecossistema ESG e edtech. Ao unir pedagogia e gestão, a abordagem de Giglioti mostra que a sustentabilidade pode e deve ser tratada como eixo estruturante da inovação institucional. E ao apontar a sustentabilidade como um exercício de comportamento e cultura, aponta caminhos práticos para gestores que desejam alinhar propósito e desempenho. Ou seja: o futuro da educação e da gestão ambiental não depende apenas de novas tecnologias, mas da capacidade humana de aprender e agir de forma consciente e colaborativa.

Editora-chefe e cofounder do portal Educador21










