Estudo da ABMES e Hoper Educação revela redução no ingresso de alunos e aponta riscos para a formação em áreas estratégicas, como Enfermagem
O ensino superior privado brasileiro iniciou 2025 em um cenário de retração. Dados divulgados pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) em parceria com a Hoper Educação mostram que o ingresso de novos estudantes caiu em três dos seis primeiros meses do ano, quando comparado ao mesmo período de 2024.
Grande parte desse movimento se explica pelo desaquecimento da modalidade de educação a distância (EAD), que vinha sustentando a expansão do setor nos últimos anos. O estudo revela que a EAD online foi a mais afetada: apresentou desempenho negativo em cinco dos seis meses iniciais de 2025, mesmo com um pico isolado em maio, quando registrou crescimento de 16%.
O ensino presencial também sofreu queda no início do ano, mas indicou sinais de recuperação em maio. Apesar do ambiente econômico desafiador, o modelo segue associado a uma percepção de maior qualidade acadêmica e de experiência universitária, fatores que tendem a ganhar peso na decisão dos estudantes.
Outro destaque do estudo foi a performance do semipresencial, que manteve estabilidade e apresentou viés de crescimento. O formato, que combina atividades digitais com encontros presenciais, desponta como alternativa de equilíbrio entre flexibilidade e vivência acadêmica.
Reconfiguração do mercado e desafios para gestores
A pesquisa reforça a necessidade de adaptação das instituições a um novo ciclo. Se por um lado a EAD perde espaço, por outro o presencial recupera relevância e o semipresencial consolida sua trajetória de crescimento.
Uma enquete paralela, aplicada pela Hoper com gestores em maio de 2025, revelou que 74% esperam enfrentar dificuldades no segundo semestre. O principal desafio será reposicionar a oferta de cursos em meio à queda na demanda, exigindo maior eficiência administrativa e estratégias comerciais mais robustas.
O levantamento envolveu 311 instituições privadas, responsáveis por 46% dos ingressantes e 36% do total de matrículas no país. Com erro amostral de 5% e confiança de 95%, a amostra tem representatividade nacional e reflete diferentes realidades regionais do setor privado.
Enfermagem sofre impacto direto de nova regulamentação
Um dos pontos mais críticos destacados pelo relatório é a situação do curso de Enfermagem. A nova regulamentação da EAD, em vigor desde maio, proibiu a oferta da graduação a distância, restringindo-a exclusivamente ao formato presencial.
Entre 2017 e 2023, o Censo da Educação Superior apontou que a participação de ingressantes em cursos EAD de Enfermagem saltou de 10,1% para 61,2% nas instituições privadas. A modalidade tornou-se o principal canal de acesso, especialmente em municípios do interior.
A mudança regulatória, porém, ameaça excluir milhares de estudantes do sistema. Em 2023, quase 193 mil alunos estavam matriculados em cursos EAD de Enfermagem. Agora, com a restrição, muitos deles não conseguirão migrar para o presencial devido ao custo das mensalidades, à menor flexibilidade e à ausência de oferta em 768 municípios.
“As consequências serão profundas e imediatas. O Brasil não pode abrir mão da interiorização do ensino superior, especialmente em áreas estratégicas como a saúde”, alertou Janguiê Diniz, diretor-presidente da ABMES. O impacto deve ser mais acentuado nas regiões Norte e Sul, onde 22,8% e 15,3% dos municípios, respectivamente, contavam apenas com cursos EAD da área.
A conjuntura de 2025 sinaliza que as instituições terão de acelerar processos de inovação e rever seus modelos de atuação. A valorização do presencial, combinada ao avanço do semipresencial, deve pautar a reorganização do mercado nos próximos anos.
Ao mesmo tempo, a exclusão de milhares de estudantes de Enfermagem reforça a urgência de políticas públicas e de estratégias institucionais capazes de ampliar o acesso à educação superior em regiões menos atendidas. O setor caminha para 2026 com a necessidade de equilibrar sustentabilidade financeira, inovação acadêmica e compromisso social.










