Skip to main content

Apenas 5% dos docentes se sentem preparados para lecionar em inglês; gestores buscam soluções em formação continuada e valorização docente

A expansão do ensino bilíngue no Brasil avança em ritmo acelerado, mas enfrenta um gargalo que ameaça a qualidade e a consolidação dos programas: a falta de professores preparados. Segundo levantamento do British Council, apenas 5% dos docentes brasileiros se sentem confortáveis para lecionar em inglês, o que revela uma lacuna significativa entre demanda e oferta de profissionais capacitados.

Para gestores escolares, a questão se torna estratégica. Não se trata apenas de contratar professores fluentes, mas de garantir que esses educadores possuam tanto domínio do idioma quanto competências pedagógicas sólidas para atuar em diferentes áreas do conhecimento. Quando essa equação não se fecha, o ensino corre o risco de se fragmentar, comprometendo a fluência acadêmica dos alunos e a consistência dos objetivos pedagógicos.

Vanessa Codecco, head pedagógica do Twice Bilingual, sistema de ensino bilíngue da Rhyzos Educação, avalia que o problema tem origem estrutural. “A falta de professores capacitados é hoje o principal gargalo do ensino bilíngue no país. Temos uma demanda crescente por programas de qualidade, mas ainda enfrentamos grande dificuldade em encontrar profissionais que dominem o idioma e, ao mesmo tempo, tenham domínio pedagógico das áreas do conhecimento”, afirmou.

Entre os fatores que explicam o cenário estão a formação inicial deficitária em metodologias bilíngues, o domínio limitado do segundo idioma e a ausência de políticas públicas voltadas para a qualificação docente. Fora dos grandes centros, a situação é ainda mais crítica, já que as oportunidades de atualização e programas de desenvolvimento profissional são escassos.

Formação continuada como caminho estratégico

Diante desse desafio, muitas redes de ensino têm recorrido a estratégias de formação em serviço. Investimentos em workshops, mentorias pedagógicas e coaching bilíngue aparecem como alternativas viáveis para apoiar os docentes já contratados. “Estamos apostando na formação em serviço, com workshops, coaching bilíngue e avaliações formativas regulares. É um investimento que demanda tempo e recursos, mas é fundamental para garantir consistência e qualidade no processo de aprendizagem”, destacou Vanessa .

Além da capacitação técnica, iniciativas que valorizam a carreira docente também ganham força. Planos de desenvolvimento profissional, incentivos para estudos no exterior e políticas de reconhecimento têm sido usados como ferramentas de retenção. Em um cenário competitivo, criar condições de trabalho atrativas torna-se tão importante quanto formar novos quadros.

Outro ponto levantado pelos especialistas é a necessidade de uma atuação mais integrada entre universidades, redes escolares e instituições privadas. A formação de professores bilíngues não pode ser pensada apenas no âmbito das escolas: depende de soluções sistêmicas que envolvam desde o currículo da graduação até programas de atualização contínua.

Desafios e perspectivas para gestores

Para gestores, essa articulação é um convite à reflexão sobre o papel das instituições em criar parcerias e buscar soluções compartilhadas. Como apontou a head da Twice, é preciso pensar em soluções estruturais e sistêmicas. “O Brasil tem potencial para se tornar referência em educação bilíngue, mas isso passa necessariamente pela formação de professores, do início da carreira à formação continuada”, disse Vanessa.

No curto prazo, os gestores ainda devem lidar com a necessidade de equilibrar a expansão da oferta de programas bilíngues e a carência de profissionais preparados. Isso exige investimentos robustos em formação, planejamento estratégico na contratação e atenção às condições de trabalho oferecidas.

No longo prazo, a construção de uma base sólida de professores bilíngues passa por articulações intersetoriais, revisão de políticas públicas e mudanças na formação inicial. Para quem lidera escolas e redes, o desafio está em alinhar a visão de futuro com ações concretas no presente, garantindo consistência pedagógica e sustentabilidade no crescimento do ensino bilíngue.

Compartilhe: