Skip to main content

Na Coluna Formação de Professores, Amábile Pacios analisa os avanços, impasses e redefinições da política formativa no Brasil em 2025

O ano de 2025 foi intenso para a formação de professores no Brasil. Entre notas técnicas, pareceres, debates no Conselho Nacional de Educação e novas iniciativas do Ministério da Educação, o país avançou em alguns pontos importantes — mas também expôs fragilidades que precisam ser enfrentadas com realismo.

Mais do que um período de atualização normativa, 2025 representou um ano de redefinição conceitual. Pela primeira vez em muito tempo, a formação docente voltou ao centro do debate público, associada não apenas à qualidade da educação, mas à sustentabilidade do próprio sistema educacional. A ameaça de um apagão de professores — especialmente em áreas de Ciências, Matemática e Língua Portuguesa — deixou de ser previsão e passou a ser dado concreto em muitas redes.

Entre os principais marcos do ano, destacam-se a Nota Técnica nº 74/2024/SERES e os pareceres CNE/CP nº 5/2025 e CONJUR/MEC nº 00572/2025, que consolidaram orientações sobre formação pedagógica e segunda licenciatura. As medidas trouxeram maior clareza sobre quem pode ofertar, a quem se destina e quais os limites de atuação profissional após a conclusão desses cursos. Foi um passo importante para corrigir distorções que vinham se acumulando na oferta dessas formações, sobretudo na modalidade a distância.

Esses documentos também chamaram atenção para a necessidade de revisão dos projetos pedagógicos de curso (PPCs) e da adequação institucional aos novos parâmetros. Embora o caráter orientativo das normas preserve certa flexibilidade, as instituições de ensino superior foram convidadas a rever suas estratégias — do credenciamento à estrutura curricular — de modo a garantir consistência pedagógica e articulação com as novas exigências do Exame Nacional de Professores, que deverá avaliar todos os egressos dessas formações.

Outro eixo de reflexão deste ano foi o impacto da inteligência artificial na formação docente. Ferramentas generativas, sistemas adaptativos e plataformas de dados educacionais começaram a entrar nas universidades e redes de ensino, provocando debates sobre ética, autoria, autonomia e prática pedagógica. A discussão deixou de ser tecnológica e passou a ser pedagógica: como formar professores capazes de usar a IA de forma crítica, criativa e responsável?

Também se consolidou a compreensão de que a formação docente precisa ir além da técnica. As discussões reforçaram a importância das competências socioemocionais, da saúde mental e da empatia como elementos estruturantes do fazer docente. A docência contemporânea não se sustenta apenas pelo domínio do conteúdo, mas pela capacidade de estabelecer vínculos, compreender contextos e promover aprendizagens significativas.

Ao longo do ano, foi possível perceber um consenso emergente: a formação de professores precisa se tornar mais integrada, flexível e contínua. A ideia de um curso que se encerra com a colação de grau já não responde às demandas da escola contemporânea. Formar e desenvolver professores tornou-se um processo em espiral, que exige atualização permanente e articulação entre formação inicial, residência pedagógica e formação continuada.

O balanço de 2025 mostra avanços importantes, mas também lembra que a formação docente é um campo que exige visão de longo prazo, constância e coerência. O próximo ano será decisivo para transformar diretrizes em experiências concretas, discursos em resultados e boas intenções em políticas efetivas.

Compartilhe: