Pesquisa mostra impacto financeiro da nova legislação e alerta gestores para desafios de caixa, inadimplência e recomposição de custos
O ciclo de rematrículas para 2026 traz um novo desafio para as escolas particulares. Dados da pesquisa nacional da Meira Fernandes revelam que 98,7% das instituições terão de reajustar as mensalidades, sendo que quatro em cada dez planejam aumentos entre 9% e 10%.
Entre os fatores que pressionam o orçamento estão o reajuste salarial de professores e auxiliares, os atrasos no pagamento de mensalidades e a Lei dos Celulares, em vigor desde o início de 2025, que proíbe o uso dos aparelhos em sala de aula.
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A legislação, embora pedagógica em sua essência, gerou custos invisíveis que agora aparecem no caixa das escolas. Adaptações como câmeras, armários, programas de bem-estar digital e contratação de profissionais de monitoramento foram necessárias em tempo recorde. Para gestores, isso significa absorver despesas não previstas em meio a margens já apertadas.
De acordo com Mabely Meira Fernandes, diretora jurídica da consultoria, as instituições foram pegas de surpresa. “As mensalidades de 2025 foram projetadas em julho de 2024, quando não havia indicativos de que a lei entraria em vigor tão rapidamente. O resultado é que o custo não entrou na planilha e, em 2026, a conta chega para as escolas”, afirmou.
Mais do que um repasse automático, o cenário exige decisões estratégicas sobre precificação, diálogo com famílias e recomposição orçamentária. Para 76% das gestoras, mesmo sob pressão financeira, os ganhos pedagógicos da lei superam os custos no longo prazo.
Custos ocultos e pressão sobre o planejamento
A pesquisa mostra que 47,8% das escolas destinaram entre 1% e 2% do orçamento de 2025 apenas para cumprir a lei, enquanto 26% gastaram acima desse patamar — chegando a 9% em alguns casos. Em muitos casos, recursos precisaram ser realocados de áreas pedagógicas ou de investimento.
Além dos gastos com infraestrutura, 45% das instituições promoveram treinamentos internos para adequação, e 53% organizaram eventos de sensibilização com famílias e alunos. Para gestores, esses números evidenciam a dimensão organizacional da lei: não se trata apenas de restringir celulares, mas de redesenhar rotinas, processos e a cultura escolar.
Em paralelo, 25% das escolas investiram em novas ferramentas pedagógicas para substituir o uso do celular em atividades e 21% estruturaram programas de bem-estar digital com apoio externo. Esses custos, ainda que estratégicos, reforçam a necessidade de planejamento de longo prazo.
Inadimplência e folha salarial ampliam o desafio
A lei dos celulares não é o único fator que pressiona as finanças. No levantamento, 67% das escolas relataram atrasos significativos no pagamento das mensalidades em 2025, acima de 2%. Para gestores, esse dado é crítico: mesmo pequenos atrasos afetam o fluxo de caixa, comprometendo pagamentos de folha, encargos e fornecedores.
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A situação tende a se agravar no final do ano letivo, quando a inadimplência efetiva aumenta. De acordo com a pesquisa, 85% das escolas projetam taxas acima de 1%. Esse cenário se soma a um reajuste salarial de 6% para professores e auxiliares, firmado na convenção coletiva, além da obrigatoriedade do pagamento de 18% em PLR ou abono especial. Na prática, a folha crescerá cerca de 7,5%, pressionando ainda mais a precificação para 2026.
Para Husseine Fernandes, sócio-diretor da consultoria, o impacto é direto: “Mesmo atrasos moderados de 2% a 5% no recebimento têm efeito devastador sobre orçamentos que já operam com margens apertadas”.
Recomposição como estratégia de sustentabilidade
Diante desse quadro, especialistas afirmam que falar apenas em “reajuste” é insuficiente. O termo adequado é recomposição: a busca por equilíbrio entre sustentabilidade financeira e a missão pedagógica das instituições.
Segundo a pesquisa, três em cada quatro mantenedoras acreditam que os benefícios educacionais da Lei dos Celulares compensam os custos adicionais. Para as lideranças escolares, a mensagem é clara: é hora de alinhar políticas internas, estratégias de comunicação e decisões financeiras para garantir continuidade, qualidade e previsibilidade.
Mais do que um dilema entre custo e valor, o desafio de 2026 coloca gestores diante de uma escolha estratégica: transformar a pressão financeira em oportunidade de reposicionamento, consolidando a escola como espaço de inovação, cuidado e confiança junto às famílias.










