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Mensalmente, Mario Ghio abordará temas de grande relevância para o setor, sempre fundamentados em dados, na Coluna X da Educação

Em meu último texto, defendi que a Educação Básica brasileira tenha recursos por estudante pelo menos iguais aos dos alunos chilenos. Isto significaria dobrar os atuais 3.500 dólares anuais por estudante para 7.000 dólares anuais por estudante.

Conseguir mais recursos onde são necessários é o primeiro passo, mas temos de cuidar com atenção para que os recursos cheguem realmente aos estudantes e que sejam empregados em atividades que comprovadamente melhoram seu aprendizado. Sem palpites, nem senso comum. Nossa boa e velha saga de trazer ciência para a gestão escolar.

Um comentário necessário é que muita gente tem opinião sobre como as escolas devem agir. Afinal passaram anos, milhares de horas nos bancos escolares e sentem conforto em oferecer suas sugestões, críticas, muitas vezes de forma impositiva. Embora concorde que o envolvimento com a escola seja fundamental – aliás é um dos fatores de sucesso das escolas escandinavas –, é preciso ter em perspectiva que apenas os profissionais das escolas são (ou deveriam ser) preparados para tomar as decisões necessárias. Acreditar que a experiência no banco escolar permite tomar decisões em lugar da escola tem tanto sentido quanto imaginar que alguém que tem muito tempo de voo como passageiro pode pousar um avião!

Neste texto, quero compartilhar as conclusões de pesquisas que estabeleceram o que realmente faz diferença, enquanto outras ações, mesmo apoiadas pelo senso comum, são muito caras e ineficientes.

A revista The Economist, considerada a melhor publicação mundial sobre Economia, publicou, entre 2019 e 2022, uma série de artigos que buscavam explicar o paradoxo vivido por diversos países que investem cada vez mais em educação, mas não melhoram o aprendizado de seus alunos. Entre estes artigos, estava uma pesquisa realizada pela The Endownment Foundation muito esclarecedora sobre o tema em questão. Vamos aos resultados mais interessantes.

Comecemos com duas medidas que não funcionam, mas têm amplo apoio popular. A primeira: salas com poucos alunos. Segundo a pesquisa, salas com menos de 20 alunos são importantes na Educação Infantil, mas têm ganho marginal de aprendizado nos demais níveis e custam muito caro. Em outras palavras, separar uma turma de 36 alunos do sexto ano em duas de 18 é caríssimo e não funciona. É fácil ver que bons professores podem lidar com vários alunos. A segunda medida caríssima e com ganho ainda menor é a utilização de dois professores em sala de aula. Não sei dizer quantas vezes vi prefeitos prometerem duas professoras em sala. Tem apelo eleitoral, pois as famílias acham que dois é melhor que um, mas na prática não é assim. Um bom professor custa menos e ensina mais que dois despreparados.

Por sorte, a pesquisa apontou que há medidas muito baratas, mas que produzem vezes mais aprendizado que as anteriores. A mais eficaz de todas é o feedback contínuo dos professores. Escolas que proporcionam um espaço de conversa individual entre alunos e professores colhem resultados acadêmicos diferenciados, principalmente se estiverem baseadas em dados e em como cada aluno gosta e sente que aprenda mais. Este envolvimento entre professores e alunos também está associado a taxas muito menores de abandono escolar.

Outra medida muito eficaz é oferecer rapidamente tutoria para os alunos em dificuldades. Quanto mais rápido, melhor. Alternativas viáveis e comprovadas são, aí sim, utilizar professores em formação e, em especial e muito interessante, a tutoria com alunos ou peer tutoring como descrito na literatura de Eficácia Escolar. O segredo aqui é identificar alunos com bom desempenho e estimulá-los a adotar um colega em dificuldades. Além de não custar nada, os resultados são significativos para ambos. O bom aluno fica ainda melhor porque se aprende muito ensinando, enquanto o aluno em dificuldades sente mais liberdade para tirar suas dúvidas com alguém da sua idade e repertório cultural. Há também ganhos socioemocionais evidentes e há bons indícios de que alunos tutores desenvolvem interesse pela carreira docente, o que será muito valioso para as gerações futuras.

Nem sempre gastar mais é gastar direito. Vale para Economia e para a Pedagogia.

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