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Na coluna deste mês, Constanza Hummel aborda as implicações para a Educação Corporativa com a chegada desse novo perfil de profissional ideal

Ao longo das últimas décadas, o perfil do profissional ideal evoluiu significativamente, acompanhando as mudanças nas demandas do mercado e as transformações tecnológicas e de modelos de negócios. No passado, tínhamos dois tipos de profissionais: o especialista e o generalista.

O especialista, com conhecimento profundo e expertise vertical, é valorizado por seu conhecimento técnico e forte capacidade de resolver problemas complexos dentro de seu campo de trabalho. Pense em um cientista de dados expert em algoritmos de aprendizado de máquina ou um cirurgião cardíaco com anos de experiência em procedimentos específicos. Já o generalista, com expertise horizontal, possui uma vasta gama de conhecimentos em várias áreas, sendo valorizado por sua capacidade de adaptação, visão ampla e conexão de partes. Exemplos clássicos são gerentes de projeto, que coordenam equipes multidisciplinares, ou gestores de pequenas empresas, que lidam com múltiplos aspectos do negócio.

Com a crescente necessidade de inovação e a rápida evolução tecnológica, surgiu o conceito de profissional T-shaped, cunhado por Tim Brown, CEO da IDEO. Esse perfil combina uma base ampla de conhecimentos gerais (a barra horizontal do T) com uma profunda especialização em uma área (a barra vertical do T). O profissional T-shaped colabora com diversas áreas da organização, trazendo insights valiosos de sua especialização, ao mesmo tempo que entende e se comunica efetivamente com outros campos. Um exemplo seria um designer de produto que, além de dominar o processo de design profundamente, também entende de marketing, liderança e comportamento do consumidor, criando produtos mais alinhados às necessidades do mercado e da organização.

Mas o mundo dos negócios não para de complicar! Nos últimos 10 anos, acompanhamos mudanças disruptivas que demandam ainda mais versatilidade e profundidade dos profissionais. Surge então o conceito de profissional M-shaped. Este perfil combina múltiplas especializações (as várias barras verticais do M) com uma ampla base de habilidades generalistas. O profissional M-shaped possui expertise em várias áreas e é capaz de integrar esses conhecimentos para resolver problemas complexos de maneira criativa e eficaz. Imagine um engenheiro de software que também manda bem em design de experiência do usuário (UX), marketing digital e gestão de projetos. Esse profissional não só cria soluções tecnológicas, mas garante que elas sejam atraentes para os usuários e alinhadas com as estratégias de marketing da empresa.

Será o adeus às trilhas por cargos? Vamos ter que pagar para ver!

Para desenvolver profissionais M-shaped, é crucial repensar os padrões de Treinamento e Desenvolvimento (T&D) nas organizações. Não basta mais oferecer treinamentos focados apenas em habilidades técnicas ou cargos. É necessário promover uma cultura de aprendizagem contínua e integrada, onde os colaboradores sejam incentivados a explorar diversas áreas de conhecimento e desenvolver habilidades interdisciplinares. Na minha opinião, será a morte das trilhas de treinamento por cargo ou jobdescription.

Isso implica na criação de iniciativas de aprendizagem que incentivem a curiosidade, a inovação e a colaboração entre diferentes departamentos, focadas em competências. Ferramentas como mentorias cruzadas, projetos interdisciplinares e plataformas de aprendizado digital são fundamentais para este novo modelo. Um programa de mentoria cruzada, por exemplo, pode colocar um profissional de marketing para aprender com um especialista em TI, e vice-versa, promovendo uma troca rica de conhecimentos. Projetos interdisciplinares, onde equipes de diferentes áreas trabalham juntas para resolver problemas reais, também são eficazes para desenvolver múltiplas especializações.

Além disso, fomentar uma cultura organizacional que valorize a curiosidade, as individualidades e a aprendizagem contínua é essencial para preparar os profissionais para os desafios do presente e do futuro. Isso pode ser feito através de incentivos à educação continuada, como subsídios para cursos externos, programas de desenvolvimento de liderança e workshops internos que promovam a troca de conhecimento.

Ao adotarmos o conceito de profissional M-shaped na organização, estamos não só preparando nossos colaboradores para serem mais versáteis e adaptáveis, mas também fortalecendo a capacidade da organização de inovar e prosperar em um mundo em constante mudança. Organizações que investem no desenvolvimento de profissionais M-shaped tendem a ser mais resilientes e capazes de enfrentar desafios complexos com maior criatividade e eficácia.

Profissionais de T&D, a bola está na ponta dos seus pés: estamos prontos para formar a próxima geração de profissionais M-shaped, marcando um golaço ou vamos continuar seguindo o roteiro tradicional e perder de W.O.? Lembrem-se, o futuro não espera e a inovação começa com vocês!

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