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Paulo Batista, CEO do Alicerce Educação, prova neste artigo que as empresas brasileiras precisam dedicar sua atenção ao ESG para o tema da educação inclusiva

Paulo Batista*

Estive recentemente em um evento em Nova Iorque conduzido por Martin Whittaker da JUST Capital, empresa independente de pesquisa sem fins lucrativos, e Jeffrey Hollender da American Sustainable Business Network, talvez as duas principais vozes do ESG nos EUA. O recado é claro: O “S” é a maior oportunidade do ESG. Esse evento me inspirou a escrever esse artigo, pois se a mensagem de Whittaker e Hollender é verdade para os EUA, que tem um Produto Interno Bruto (PIB) de USD 23 Trilhões, ela tem que ser mantra no Brasil, que tem um PIB de apenas USD 1.6 trilhões, menos de 10 vezes menor do que o americano.

Para os menos familiarizados ao ambiente corporativo, esclareço que o ESG é um novo framework, ou modelo de pensamento corporativo, que convida as empresas a desenvolverem uma estratégia de impacto positivo na sociedade pautada em três pilares: o Ambiental (E), o Social (S) e a Governança Corporativa (G).

A visão por trás do ESG (muitas vezes mal compreendida) é a de que, na era da informação e das redes sociais, uma empresa só conseguirá ter sucesso sustentável se conseguir atrair clientes, talentos e investidores por grandes verdades internas positivas.

Em um tempo em que qualquer pessoa, por meio das redes sociais, pode transmitir sua mensagem e em que algoritmos detectam interesse e impulsionam globalmente esses conteúdos em poucos minutos para uma audiência de bilhões, não há mais espaço para mentiras. O marketing não consegue mais criar uma imagem que não é real dentro da empresa. O marketing moderno apenas potencializa e comunica verdades. Mas, para ter sucesso, as empresas precisam cuidar de suas verdades internas. Ter boas práticas ambientais, tratar bem seus colaboradores e comunidades e seguir boas práticas de governança corporativa. Ou seja, ter um bom E, um S e um G.

O que Martin e Jeffrey explicaram é que, na realidade, o S é a grande novidade e a grande fronteira para as empresas que querem se diferenciar perante seus concorrentes por clientes, talentos e investidores.

A temática ambiental é tendência há muitas décadas, tanto por pressão da opinião pública face a grandes acidentes ambientais, como por pressão dos reguladores, assim como pelo tema secular do aquecimento global. A grande maioria das empresas já segue boas práticas ambientais, principalmente no Brasil, onde o mínimo regulatório já é bastante avançado para padrões internacionais.

Da mesma forma, os padrões de governança corporativa já vêm evoluindo há muitas décadas, pela pressão de investidores e dos grandes escândalos de fraude corporativa. Nesse sentido, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) já vem elevando a barra há muitas décadas, criando um mercado de capitais pujante no Brasil.

Porém, o “S” é novidade. Novidade porque é diferente da tradicional Responsabilidade Corporativa ou Filantropia Corporativa. Fazendo uma breve história, o mundo vem evoluindo muito nos últimos 100 anos na forma de tratar seus colaboradores e as comunidades que toca. No século XIX, a era dos “robber barons”, a ética era a de maximizar os lucros a todo custo e depois pagar seus pecados e deixar seu legado fazendo altos gestos de filantropia. Um grande expoente foi Andrew Carnegie, que famosamente maltratava seus colaboradores ao limite e cuja empresa foi diretamente responsável pela inundação de Johnstown Flood, matando mais de 2 mil pessoas, e não teve que pagar um centavo de indenização. Apesar de inúmeros crimes, eternizou-se como grande filantropo por ser um reconhecido benfeitor das artes e por ter doado inúmeros prédios públicos em Manhattan como o famoso Carnegie Hall.

Passados esses tempos tenebrosos do capitalismo selvagem em sua pior versão, chegamos a era da Responsabilidade Social Corporativa na década de 70-80, inspirada pelo mantra “Do Good by Doing Well” que ainda preconizava que as empresas deveriam focar primeiro no lucro, mas compartilhar parte do seu sucesso financeiro diretamente para a sociedade.

Mas com o ESG, inauguramos na temática social uma nova era. A era do “Do Well by Doing Good”. Essa é a visão de que as empresas podem e devem maximizar os seus resultados promovendo impacto social positivo, tanto pelo tema que já abordei da importância de viver verdades positivas, mas também pelo fato de que o Capital Humano cada vez mais é o capital mais relevante das empresas. E produzir impacto social positivo no seu estoque de capital humano, ou seja, os colaboradores da empresa, pode contribuir, portanto, e muito, para a melhoria da produtividade direta da empresa, além de todos os benefícios para a imagem, clima e relatórios de sustentabilidade.

Finalizo a minha reflexão apontando o óbvio: se tudo isso que Martin e Jeffrey falaram se aplica nos EUA, aqui tem que virar mantra. No Brasil, 70% dos jovens não sabem as quatro operações básicas da matemática e 50% não dominam completamente a leitura e a escrita. E esse dado não evolui há 15 anos. Em um país em que mais de 50% da população é negra, 88% dos que vivem abaixo da linha da pobreza são negros. E do 1% mais rico, 95% são brancos.

Se todas as empresas brasileiras dedicarem sua atenção ao ESG para esse tema da educação inclusiva, muita coisa pode mudar, e rápido. As pioneiras nesse trabalho, além de deixar um legado e aprimorar o seu capital humano, ainda ficam com a oportunidade de se diferenciar perante clientes, talentos e investidores, mostrando o impacto social que produzem. Nada emociona e comove mais do que transformar uma vida pela educação.

*CEO do Alicerce Educação

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