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Em nova pesquisa, Instituto Península aponta apenas 11% dos professores acreditam que os alunos aprenderão o esperado neste ano

Mesmo com a volta às aulas presenciais em algumas capitais em 2021, foi no primeiro semestre de 2022 que o retorno passou a ser adotado pelas redes municipais, estaduais e particulares de ensino em todo o país. Para compreender como foi essa transição do virtual para o presencial em todas as esferas, o Instituto Península — organização social que acredita no professor como principal agente transformador da Educação brasileira — ouviu cerca de mil educadores de todas as regiões do Brasil e revela dados inéditos sobre os primeiros seis meses de ensino em 2022 na pesquisa “Retratos da Educação pós pandemia: uma visão dos professores”.

A pesquisa evidencia a preocupação dos professores em relação à aprendizagem dos estudantes como principal alerta. Dos educadores entrevistados, 92% concordam total ou parcialmente que os estudantes apresentaram dificuldades de concentração no primeiro semestre do ano letivo. Outro ponto evidente no estudo relata as dificuldades acerca das relações interpessoais: 73% dos professores notaram que os estudantes têm apresentado dificuldade no relacionamento com os professores ou com os colegas de sala de aula.

Questionados sobre como avaliam o aprendizado dos alunos neste primeiro semestre, apenas 11% dos professores acreditam que os alunos conseguirão cumprir o esperado para o ano letivo de 2022. Um dado preocupante e que requer atenção de todos os pilares da sociedade, não apenas dos professores, diretores e especialistas das secretarias de Educação do país. Heloísa Morel, diretora executiva do Instituto Península, sinaliza a importância de um olhar atento para reverter esse cenário.

“É preciso olhar com cuidado para esses estudantes e suas realidades individuais, pois sabemos que, para muitos deles, o período de ensino a distância foi extremamente desafiador, o que aumenta a dificuldade na retomada das aulas presenciais. Estes jovens necessitam ser acolhidos de forma que estejam seguros para desenvolverem as competências que a escola tem a lhes oferecer. Para isso, é fundamental que os professores também passem por um processo de acolhimento para que, assim, estejam mais preparados para lidar com o novo contexto pós-pandemia dentro das salas de aula de todo o país”, disse Heloísa.

A pesquisa completa está disponível para download gratuito no site do Instituto Península, neste link. Mas o Educador21 traz alguns dos dados mais relevantes do estudos. Confira.

Professores revelam que a adoção de estratégias é o mais indicado para lidar com esses impactos

A pesquisa revelou que mais da metade dos professores indicam que as escolas (55%) de todas as redes — federal, estadual, municipal e privada de ensino — definiram estratégias para lidar com o impacto do período de fechamento neste primeiro semestre. Nessas escolas que definiram ações para minimizar o impacto, o envolvimento dos professores é de 31% — o que sinaliza o quanto o sistema de ensino está aberto à percepção docente e ouve a linha de frente sobre o dia a dia em sala de aula e o contato direto entre educadores e alunos.

Pelo menos 60% dos professores ouvidos acreditam que a estratégia mais efetiva para aumentar a motivação e aprendizagem dos alunos é um maior envolvimento das famílias e da comunidade escolar. Seguido de 45% que apostam na aplicabilidade de metodologias ativas de aprendizagem, e outros 45% também endossam a necessidade de aulas de reforço escolar.

Para lidar com as questões sociais e emocionais dos alunos, é possível notar que as escolas têm tomado medidas para minimizar os efeitos causados pelo período do ensino remoto e o pós-pandemia. Dos professores ouvidos, muitos atuam em escolas que estão realizando rodas de conversa (43%), espaços de escuta individual (37%), apoio psicológico (36%) e criando redes de suporte multidisciplinares (30%) para ajudar seus alunos.

Porém, os professores não recebem a mesma atenção que os alunos neste contexto: 37% dos docentes ouvidos atuam em escolas que fazem rodas de conversa com os educadores, o que é muito positivo, mas apenas 21% atuam em escolas que ouvem os professores individualmente e apenas 10% em escolas que contrataram profissionais para oferecer apoio emocional ou psicológico para seus funcionários.

Tecnologia: recurso emergencial que se mantém no retorno às aulas presenciais

Adotada como medida emergencial logo quando as escolas precisaram fechar para cumprirem com os requisitos sanitários recomendados, a tecnologia tem sido uma grande aliada ao processo de ensino-aprendizagem. Na pesquisa, é possível observar o dado de que a maioria dos professores atuam em escolas em que a tecnologia tem sido usada frequentemente ou muito frequentemente para apoiar a comunicação entre alunos, professores e famílias (61%).

Como segundo recurso, ela tem auxiliado a potencializar as aulas presenciais (51%), seguida para promover apoio ao planejamento do professor (50%). Aproximadamente 54% dos professores acreditam na tecnologia como ferramenta importante para modernizar o ensino e recuperar aprendizagens no pós-pandemia.

“Essa pesquisa traz luz a um novo olhar para a Educação, em que recursos inovadores somam às metodologias já utilizadas em sala de aula. Precisamos enxergar a tecnologia como uma aliada do processo de ensino e explorá-la da melhor maneira para que ela inclua e favoreça cada vez mais o desenvolvimento dos estudantes”, explicou Heloísa Morel.

O retorno às aulas presenciais e as estratégias para mitigar o impacto da evasão escolar

Um dos maiores desafios da educação nacional é a evasão escolar, uma preocupação de todas as frentes de ensino há anos, não apenas no pós-pandemia. O Instituto Península buscou detectar com a pesquisa o que as escolas têm feito para mitigar os impactos na evasão e abandono dos estudantes. Nesse contexto, 73% dos professores ouvidos afirmam que as escolas têm feito uma busca ativa de alunos, sendo a maioria na rede pública de ensino, correspondendo a 81%.

A mobilização das famílias é a segunda estratégia adotada com maior evidência nas escolas, uma vez que 60% declararam essa ferramenta para diminuir os casos de evasão e abandono das crianças e adolescentes, tendo maior evidência nas escolas públicas (64%). Outra estratégia adotada em 24% das escolas foi a iniciativa de programas de alunos mentores que incentivam outros a retornarem para a escola. Esta última foi adotada por 26% das escolas públicas e 16% na rede privada.

E como era de se esperar, neste momento pós-vacinas as preocupações dos professores acerca da saúde física de seus alunos diminuiu. Em dados comparativos, em agosto de 2021 eram 87% dos docentes com essa aflição. Atualmente, são 57%. Porém, a preocupação com a saúde mental dos alunos, que já era alta, permanece inalterada. Ela representava 75% dos docentes em agosto de 2020 e, agora, corresponde à realidade de 73% dos entrevistados.

A preocupação dos professores com a sua própria saúde mental também aumentou. Em agosto de 2020 eram 54% e, hoje, representa a realidade de 59%, revelando um quadro preocupante que demanda medidas emergenciais, uma vez que aumentou 30% o percentual de professores que se sentem sobrecarregados de maio de 2020 a julho de 2022, saindo de 35% para 60%.

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