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A especialista em neuroeducação Janaína Spolidorio fala, neste artigo, sobre o diferencial do professor — operacional ou estratégico — do pós-pandemia

Janaína Spolidorio*

Nem podemos dizer que a tecnologia veio com a pandemia para ficar, porque se você pensar bem, a tecnologia está aqui há muito mais tempo do que se imagina. Temos o péssimo hábito de chamar de tecnologia somente as novidades, mas tem coisas bem antigas, como lápis, giz, lousa, tesoura que não deixam de ser tecnológicas!

Um conceito do que é a tecnologia diz respeito a algo cujo uso facilita nossa vida, resolve problemas. Quem pode dizer que um simples lápis não facilita a escrita? Ou que uma tesoura não resolve quando você precisa cortar um papel, uma flor ou mesmo uma embalagem? Mesmo assim, ainda há pessoas que só consideram como tecnologia o que faz parte do digital e neste quesito temos um atraso enorme na área da educação, realmente.

Temos professores que nem sabem organizar um gerenciador de arquivos ou montar um mapa hierárquico de informações no computador, que são itens iniciantes de quem usa o aparelho, e precisam aprender “na marra” a usar recursos mais avançados… do jeito que conseguem.

Uma grande lacuna na formação acadêmica é a falta de olhar para a tecnologia, mas não com a aparelhagem e sim com a preocupação em formar professores capazes de serem autônomos em relação ao operacional e articuladores em relação ao estratégico.

A grande “sacada” da tecnologia é o que os bilhões de usuários mundiais não percebem e exatamente o que irá diferenciar aquele que entendeu o que há por trás de tudo isso, porque há um gigante abismo de diferença entre usar e dominar a tecnologia.

Usar, qualquer um usa. Dominar é outra história! E é aí que entra o diferencial entre professor operacional e professor estratégico. Para entender melhor, vamos para a área da saúde!

Imagine que foi criada uma máquina, um robô, capaz de operar um paciente à distância e com capacidade para efetuar um tipo específico de cirurgia. O fabricante da máquina certamente sabe operá-la muito bem, porém mesmo ele sendo um expert no aparelho, você faria sua cirurgia com a fabricante, sem a presença de um médico especialista neste tipo de cirurgia?

Naturalmente, a resposta é “claro que não”. Isso, porque não basta saber usar o aparelho, que é a parte operacional. É preciso ter o conhecimento do paciente, que é o estratégico. O médico pode melhorar sua precisão na cirurgia, operar remotamente e ainda melhorar sua taxa de sucesso caso aprenda a utilizar a máquina com o fabricante, mas o contrário não acontece, porque o operacional tem menor importância na equação. Embora a tecnologia facilite, sem o cérebro humano pensante não faz sentido.

Neste mero exemplo está também a resposta para a clássica pergunta de “será que a máquina substituirá o professor?” É uma amostra simples do quanto é diferente você apenas saber usar e do saber usar e conhecer sua área.

Aprender a usar tecnologia como se quer atualmente, que é o domínio de aplicativos e programas é fácil demais. Basta dar um “google” ou um “youtube” do tipo “como fazer um cartaz no Canva” e em poucos minutos você tem acesso à informação. Montar um cartaz pedagógico no Canva, com elementos que serão usados para uma interpretação textual, como parte de um projeto ou ainda fazer a ponte entre o que o cartaz deve dizer e as habilidades a serem trabalhadas da BNCC somente um professor que domina o operacional e o estratégico consegue de modo competente.

Perigoso achar que sabe operar a máquina e perigoso também supor que só saber usar um programa vai levar você a algum lugar, porque não vai. O que você consegue é apenas fazer um mero truque ou se virar. Mas quantos de nós gostaríamos que o professor de nossos filhos “se virasse bem” em lugar de saber realmente o que faz? E quantos outros iriam querer ter um colega de série no trabalho que diz saber usar um programa de computador e quando chega a hora de entregar fica claro que ele se vira, mas não domina?

Nem sempre seu parâmetro está de acordo com os demais, mas uma coisa é certa: perceber que precisa de ajuda ou formação parte primeiramente de você. Sem admitir suas próprias lacunas de aprendizagem não conseguirá buscar novos horizontes e nem se aperfeiçoar profissionalmente.

Para formar seu caminho, seja ele juntando seu eu operacional com seu eu estratégico, ou mesmo em qualquer outra situação, é preciso que você coloque o pé no chão e dê seu primeiro passo. Ninguém pode dá-lo no seu lugar, então que tal refletir sobre sua prática e sua carreira e escolher a direção do seu próximo passo?

*Especialista em neuroeducação

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