Na Coluna STEAM, Lilian Bacich analisa como a integração entre STEAM e habilidades socioemocionais fortalece o desenvolvimento integral dos estudantes
Durante muito tempo, aprender significava apenas acessar informações novas — transmitidas por professores ou encontradas nos livros. Porém, vivemos um momento radicalmente distinto. O conhecimento já não está restrito a poucos: cabe na palma da mão, circula em múltiplas mídias e se atualiza continuamente. O grande desafio para os estudantes já não é decorar, mas interpretar, selecionar, argumentar, resolver problemas reais e agir com responsabilidade diante de um mundo em constante transformação.
Nesse contexto, tanto a aprendizagem socioemocional quanto a abordagem STEAM (Ciências, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática) tornam-se fundamentais. Mais do que tendências, são caminhos consistentes para preparar os estudantes para viver (e transformar) a realidade.
Por que falar de aprendizagem socioemocional no contexto STEAM?
As habilidades socioemocionais, como empatia, autogestão, responsabilidade, colaboração, resiliência e consciência social, são parte essencial da formação integral dos estudantes. Elas possibilitam que crianças e jovens reconheçam e compreendam suas emoções, desenvolvam estratégias para lidar com situações desafiadoras, estabeleçam metas realistas e fortaleçam relações positivas com colegas e professores. Quando bem trabalhadas, ajudam a construir um ambiente em que cada estudante se percebe como sujeito ativo, capaz de cooperar, argumentar, acolher diferentes perspectivas e persistir mesmo diante da incerteza.
Ao integrar tais habilidades ao cotidiano escolar, ampliamos a capacidade dos estudantes de aprender de forma mais significativa, pois emoção e pensamento caminham juntos na construção do conhecimento. A maneira como cada pessoa interage com o que vive, com o que sente e com quem a cerca influencia profundamente sua atenção, sua memória e sua motivação para aprender. A aprendizagem se torna mais sólida quando há espaço para diálogo, escuta, apoio mútuo e reflexão sobre os próprios processos.
Nesse contexto, a abordagem STEAM potencializa essas dimensões ao propor desafios reais, estimular o trabalho em grupo e favorecer uma postura investigativa que exige colaboração, sensibilidade e abertura ao outro. Ao unir aspectos cognitivos e emocionais em projetos concretos, STEAM transforma a sala de aula em um espaço vivo de experimentação, fortalecendo as relações humanas.
STEAM: muito além do acrônimo
Quando trabalhamos com STEAM, não estamos apenas integrando áreas do conhecimento. Estamos convidando estudantes a:
- Investigar problemas reais;
- Criar soluções prototipadas;
- Trabalhar em colaboração;
- Pesquisar, argumentar e testar hipóteses;
- Relacionar-se com o território e com as pessoas que fazem parte dele.
Esses processos desenvolvem habilidades socioemocionais essenciais, como:
- Autorregulação, para planejar etapas, cumprir combinados e lidar com frustrações durante a ideação, a prototipação, por exemplo;
- Habilidade de relacionamento, para cooperar, comunicar-se e resolver conflitos;
- Responsabilidade na tomada de decisão, para agir de forma ética e cidadã diante de problemas reais;
- Consciência social, para considerar diferentes perspectivas e contextos culturais;
- Empatia, para compreender as dores e desafios que motivam o problema investigado.
STEAM abre espaço para que o estudante se sinta protagonista, autor de algo significativo para si e para a comunidade. E, assim, cria terreno fértil para o desenvolvimento socioemocional.
A BNCC e o desenvolvimento integral
A BNCC é clara ao afirmar que a educação deve promover competências que integrem conhecimentos, habilidades cognitivas e socioemocionais, atitudes e valores, articulando todos esses elementos de forma coerente com as necessidades e desafios da vida real. Isso significa que a escola precisa ir além da simples transmissão de conteúdos, reconhecendo que aprender envolve mobilizar diferentes recursos internos e externos para lidar com situações complexas, tomar decisões conscientes e atuar com autonomia e responsabilidade.
Competências como argumentação, cultura digital, empatia, responsabilidade e autoconhecimento fazem parte da formação de todos os estudantes e devem aparecer de maneira natural nas práticas pedagógicas, conectadas aos conteúdos e aos projetos desenvolvidos ao longo do ano.
Essas competências não podem ser tratadas como algo separado do currículo, como se fossem atividades complementares ou desconectadas da rotina de sala de aula. É fundamental que estejam presentes na essência das experiências educativas. Nesse contexto, a abordagem STEAM se torna um aliado especialmente poderoso.
Em um único projeto, é possível reunir diferentes áreas do conhecimento, estimular o pensamento crítico, promover a colaboração e criar oportunidades concretas para que os estudantes exercitem habilidades socioemocionais ao mesmo tempo em que exploram conceitos científicos, tecnológicos, artísticos e matemáticos. Dessa forma, o trabalho se torna mais integrado, significativo e conectado ao mundo real.
Quando a intencionalidade pedagógica faz toda a diferença
Projetos STEAM, por si só, não garantem o desenvolvimento socioemocional. É a intencionalidade do professor que transforma uma atividade interessante em uma experiência potente de aprendizagem integral.
Isso inclui:
- Criar momentos de assembleia ou conversa estruturada para discutir emoções, dificuldades e decisões do grupo;
- Construir rubricas com os estudantes, incluindo critérios socioemocionais, para desenvolver autorregulação e autoconhecimento;
- Abrir espaço para que conflitos se tornem oportunidades de aprendizagem;
- Propor estratégias como role-play, reflexão guiada, análise de sentimentos e autoavaliação;
- Conectar o problema investigado a questões reais da comunidade.
Em ambientes de aprendizagem ativos, como makerspaces, laboratórios, o erro deixa de ser uma preocupação e passa a ser parte do processo. Para isso:
- A segurança e o respeito precisam ser valores explícitos;
- O professor atua como mediador, e não transmissor;
- Os estudantes são estimulados a experimentar, investigar e tomar decisões;
- O contexto de cada estudante é reconhecido como ponto de partida, promovendo pertencimento e empatia.
Desse modo, no espaço de aprendizagem, competências acadêmicas e socioemocionais se entrelaçam.
Por que precisamos unir STEAM e Aprendizagem Socioemocional?
Porque vivemos em um mundo onde:
- A convivência está mais desafiadora;
- As emoções estão mais intensas;
- A colaboração se tornou essencial;
- Os problemas são complexos e pedem criatividade, propósito e sensibilidade.
Se queremos que estudantes desenvolvam abertura ao novo, responsabilidade, atenção e persistência, devemos ensinar essas habilidades com a mesma seriedade e estrutura com que ensinamos Matemática ou Ciências.
STEAM é um dos melhores caminhos para isso.

Diretora da Tríade Educacional. Doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano (USP), com pesquisa de pós-doutorado no Instituto de Estudos Avançados (USP), Mestre em Educação: Psicologia da Educação (PUC/SP), Bióloga (Mackenzie) e Pedagoga (USP). É organizadora dos livros “Ensino Híbrido: personalização e tecnologia na educação”; “Metodologias ativas para uma educação inovadora” e “STEAM em sala de aula”.










