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Pesquisa do Cetic.br revela tendências no uso de IA generativa, plataformas de vídeo e restrição de celulares, com foco em ensino básico

A nova edição da pesquisa TIC Educação, divulgada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), traz um retrato inédito de como estudantes, professores e escolas brasileiras estão lidando com tecnologias digitais no processo de ensino e aprendizagem. O estudo, lançado nesta terça, 16 de setembro, aponta tendências que vão da popularização da inteligência artificial generativa ao uso de celulares em sala de aula, passando pela formação docente e pela conectividade.

Entre os destaques, o levantamento do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), mostra que sete em cada dez alunos do Ensino Médio já recorrem a ferramentas como ChatGPT, Copilot e Gemini em pesquisas escolares. No entanto, apenas um terço afirma ter recebido orientação das escolas sobre como usar a IA. Esse dado acende alerta sobre a mediação pedagógica e os riscos de vieses ou informações equivocadas na formação de uma geração.

Além da IA, a pesquisa traz outra novidade: o uso das plataformas de vídeo como ferramentas de busca. Hoje, canais e aplicativos como YouTube e TikTok já rivalizam com buscadores tradicionais na preferência dos alunos, sinalizando uma transformação no acesso à informação. De acordo com Daniela Costa, coordenadora da pesquisa, os resultados “corroboram a centralidade das escolas no debate sobre os impactos do uso de telas no desenvolvimento cognitivo e psicossocial de crianças e adolescentes.”

Para gestores e educadores, os dados da TIC Educação 2024 reforçam a urgência de discutir não apenas a presença das tecnologias digitais, mas principalmente o seu uso crítico, seguro e criativo. A pesquisa foi realizada em mais de mil escolas públicas e privadas, urbanas e rurais, com mais de 10 mil entrevistas entre gestores, professores, coordenadores pedagógicos e estudantes.

IA e plataformas de vídeo mudam hábitos de pesquisa

A presença da IA generativa é cada vez mais marcante. Se no Ensino Médio sete em cada dez alunos já a utilizam, no Ensino Fundamental os números também chamam atenção: 15% nos anos iniciais e 39% nos finais. Mesmo assim, apenas 19% dos estudantes dizem ter recebido orientação de professores para aplicar a tecnologia nas atividades escolares.

Ao lado da IA, as plataformas de vídeo despontam como fonte central de informação. Pela primeira vez, a pesquisa investigou como os alunos realizam pesquisas escolares e constatou que 72% recorrem a canais e aplicativos de vídeo, praticamente no mesmo patamar dos buscadores (74%).

Segundo Alexandre Barbosa, gerente do Cetic.br, os dados revelam “um cenário de transformações aceleradas”, que exige novas estratégias pedagógicas para acompanhar as mudanças. Para a coordenadora do CGI, Renata Mielli, o desafio é ainda maior. “As respostas da IA podem conter vieses de toda ordem, e sem mediação adequada, podem interferir substancialmente no processo de formação de uma geração”, disse.

Formação docente, lacunas em educação digital e desigualdades persistentes

Outro ponto central da pesquisa é a formação dos professores. Embora 54% tenham participado de atividades de desenvolvimento profissional contínuo em tecnologias digitais, o índice é desigual: na rede municipal, caiu de 62% em 2021 para 43% em 2024.

Os cursos mais buscados envolvem o uso de plataformas e softwares para criação de materiais didáticos (82%) e a adaptação de atividades ao ritmo de aprendizagem dos alunos (79%). Já temas estratégicos como segurança digital (69%), educação midiática (68%) e uso da IA em atividades escolares (59%) aparecem em proporções menores.

Na visão dos coordenadores pedagógicos, as escolas ainda tratam temas como cyberbullying, privacidade e algoritmos de forma pontual. Em quase metade das instituições, essas discussões ocorrem apenas uma ou duas vezes ao ano, sem inserção sistemática no currículo.

A pesquisa também aborda a conectividade e o uso de dispositivos móveis. Em 2024, 96% das escolas brasileiras tinham acesso à internet, com forte avanço nas redes municipais (de 71% para 94% desde 2020) e rurais (de 52% para 89%). Apesar disso, desigualdades permanecem: enquanto 67% dos alunos de escolas estaduais usam internet para atividades pedagógicas, na rede municipal esse índice é de apenas 27%.

Quanto aos celulares, os dados revelam uma mudança de cenário já antes da Lei nº 15.100, sancionada em janeiro de 2025, que restringe o uso desses dispositivos. Entre 2022 e 2024, a proporção de alunos que acessavam a internet na escola pelo próprio celular caiu de 55% para 45%. No mesmo período, aumentou o número de instituições que proíbem o uso do aparelho em sala de aula.

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