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Em vídeo, os psicólogos Juliana Hampshire e Raul Spitz conversam sobre o conceito do filho obediente que ainda ronda pais, mães e cuidadores

O conceito da criança ou do adolescente obediente sempre rondou pais, mães e cuidadores em algum momento da criação. Para muitos, essa característica é primordial e até motivo de orgulho. Mas será mesmo que essa expectativa é alcançável?

Para responder essa e outras questões relacionadas ao tema, convidamos os psicólogos e consultores pedagógicos do programa LIV, Juliana Hampshire e Raul Spitz, que gravaram um vídeo especial para nosso blog. Eles falam sobre a origem desse mito, as temidas birras e como essas questões variam de acordo com a faixa etária.

O vídeo completo você pode conferir a seguir. Se preferir, leia abaixo um resumo dos principais momentos:

O mito da criança obediente

Para o psicólogo Raul Spitz, a ideia difundida socialmente de que as crianças podem ser obedientes é uma fantasia comum, mas dificilmente realizável. “É uma fantasia instaurada desde cedo na nossa cabeça, mas que faz com que a gente tenha a ideia de que vamos formar, como pai, mãe ou educadores, crianças que possam estar dentro de uma perspectiva pré-montada que a gente entende como sendo talvez a forma ideal. Quando a gente fala de forma ideal, a gente está fadado a se deparar com uma realidade que não tem nada a ver com isso. No mundo externo, as coisas são bastante diferentes daquilo que a gente inicialmente possa ter idealizado”, pondera.

De acordo com o psicólogo, essa divergência se revela no fato de que a criança não será, jamais, obediente o tempo todo. “A criança é um sujeito diferente do adulto. Ela é dotada de necessidades, possibilidades e desejos diferentes dos nossos. E quando a gente entra em contato com isso, enquanto adulto, ficamos com medo”.

As temidas birras

Outro tema apontado na entrevista é que, em se tratando de crianças menores, há uma tendência geral dos adultos a enxergar as chamadas “birras” como atos de desobediência. De acordo com o psicanalista, momentos como esse são, na realidade, formas de expressão encontradas pela criança para se fazerem ouvidas:

“A birra é a marca de uma criança dizendo: ‘espera aí, adulto, não vem querer passar o que você pensa sem me perguntar, ou sem fazer um trabalho de me conhecer, de fazer uma comunicação que entenda que eu sou uma pessoa diferente de você’”.

Para ele, lidar com essa situação exige também entender que a comunicação é o ponto chave.

“A forma com que a gente fala com uma criança é muito mais importante do que o conteúdo. Todo mundo quer uma casa que tenha respeito, mas como a gente pode admitir o respeito ou tentar trazer a ideia para criança respeitar as regras da casa? […] É muito legal poder entrar numa perspectiva de uma criança mais nova e trabalhar junto os combinados”.

As relações com os adolescentes

Assim como acontece com outros aspectos, a maneira como os adultos falam sobre o conceito de obediência varia bastante com a faixa etária. Se as birras parecem uma dificuldade na infância, na adolescência essa questão ganha áreas de rebeldia, conforme ponderou a consultora Juliana Hampshire durante a conversa:

“A gente deseja que nossos filhos obedeçam ‘porque sim’, ou porque é mais fácil em algum sentido, mas o que é que isso significa a longo prazo? Na adolescência, por exemplo, há comportamentos que a gente passa a entender como desobediência ou como uma afronta, alguma coisa pessoal”.

Para Raul, embora haja mudanças físicas e sociais nessa etapa, essa questão também passa pela maneira como a família assimila as mudanças naturais dessa faixa etária, especialmente como entende situações de suposta desobediência:

“A gente vive na adolescência normalmente um luto, uma fase de muitas perdas. É de fato um desafio muito grande viver esse momento, e esse lugar que as famílias às vezes se encontram é de muitas dificuldades. A desobediência às vezes parece uma afronta ao pai, à mãe, mas não é afronta. É um movimento necessário, dessa criança, que era antes criança e agora é um jovem, de tentar achar, criar, entender que existem outras referências e às vezes essas outras referências estão nos amigos, estão em outros ciclos sociais, estão nos professores, estão em outras figuras que não vão ser o pai e a mãe, e às vezes isso é uma quebra, uma ferida gigantesca”.

Caminhos abertos

Juliana conclui o vídeo destacando que, mais importante do que pensar em estratégias para deixar um filho ou uma filha obediente, é preciso procurar um caminho de diálogo, respeito e equilíbrio na relação, seja na infância ou na adolescência:

“Sempre queremos que nossos filhos sejam autônomos, mas com o medo de que saiam ou fiquem demais. Acho que não existe uma saída certa, mas existem algumas possibilidades. A gente conseguir se interessar pelo que os nossos filhos se interessam, por exemplo, é uma excelente estratégia para conseguir esse ponto de diálogo. E que não seja sempre chegando para cobrar, ou falando num tom inquisidor. É genuinamente se interessar pela pessoa que você vê à sua frente.”

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