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O nosso colunista Leonardo Libman explica o conceito de IA na educação desplugada e apresenta uma edtech que dissemina a solução de tecnologia democrática

A inteligência artificial (IA) tem atraído considerável atenção nos últimos anos por parte do mercado, dos governos e da sociedade civil. A IA está revolucionando nossas vidas a tal ponto que se tornou difícil mover-se do ponto A ao ponto B sem utilizar um recurso digital inteligente. Segundo Andrew Ng, ex cientista-chefe do Baidu e cofundador do Coursera, a IA pode ser considerada a nova eletricidade. Ele argumenta que as tecnologias inteligentes transformarão todas as indústrias nos próximos anos, assim como a eletricidade fez ao longo dos últimos 100 anos.

Um conceito importante para estarmos familiarizados, é o IAE (Inteligência Artificial na Educação), que nada mais é que um sistema de computador projetado para interagir com o ecossistema educacional (atores, recursos, visões pedagógicas), por meio de capacidades e comportamentos inteligentes (utilizando algoritmos ou técnicas provindas da área de IA), para entender e encontrar soluções de problemas educacionais complexos que eram então compreendidos e resolvidos essencialmente por humanos.

Embora esse movimento tenha promovido significativamente mais inovações em IA na Educação, ele também destaca a clara necessidade de uma IAE (Inteligência Artificial na Educação) mais inclusiva. Como a IA depende fortemente de dispositivos digitais e da conectividade à internet, a IAE tornou-se a nova fonte de desigualdade educacional.

E isso pode ser considerado uma péssima notícia para as pessoas que vivem no Sul Global, onde estão localizados a maioria dos países de baixa renda. O medo de que a IA aumente a lacuna entre países de alta e baixa renda decorre do fato de que a atual divisão digital já acelerou esse processo.

A divisão digital pode ser definida como a prontidão (em termos de atitudes, acesso, habilidades, uso e cultura) das pessoas e da sociedade para se beneficiar da tecnologia. Os países de alta renda não apenas possuem a infraestrutura necessária para se beneficiar da tecnologia, mas a maioria de seus cidadãos está motivada e tem as habilidades digitais para usar a tecnologia, impactando positivamente suas atividades pessoais e profissionais.

Pense comigo, a maior parte das IA’s são desenvolvidas pelas Big Techs com base em contextos e necessidades de países desenvolvidos. Obviamente, isso pode levar a uma inadequação de fit cultural e pedagógico com a realidade dos países do Sul Global. Logo, podemos diagnosticar que a construção das IA’s deve levar em consideração realidades culturais e socioeconômicas plurais e diversas para que não haja um reforço de um estereótipo específico fornecendo conteúdos irrelevantes e consequentemente afetando de forma negativa a educação destes países.

Podemos traçar um paralelo similar entre a educação pública e privada. A tecnologia educacional pode, de fato, agravar a disparidade da qualidade entre o ensino privado e o público nos próximos anos.

Historicamente o setor privado se destaca como early adopter ou pioneiro na adoção de novas tecnologias educacionais. Na cambaleante e retrógrada educação brasileira, infelizmente esta situação é mais flagrante, aguda e sintomática.

O cenário atual são diversas redes de ensino privado liderando este movimento de aquisição de novas tendências tecnológicas para qualificar seu ensino. Escolas privadas, em geral, possuem maior flexibilidade e agilidade no processo decisório devido a uma estrutura administrativa mais enxuta que permite o onboarding mais rápido de novas metodologias e tecnologias educacionais. As escolas privadas possuem mais autonomia em suas decisões administrativas e pedagógicas, isso significa que podem experimentar e adotar ou descartar novas tecnologias de forma ágil.

Adotar uma nova edtech que traga impacto positivo para escola representa um ganho competitivo para a instituição em sua região na ferrenha concorrência. Pais que buscam ensino de ponta para seus filhos observarão estes diferenciais. Além disso, instituições privadas frequentemente tem recurso financeiro disponível para investir em novas tecnologias e infraestrutura. Em contrapartida, o sistema público educacional possui realidade mais amarga.

Embora exista um vale entre os recursos disponíveis de escolas públicas e privadas, é possível reimaginar o futuro e superar as diversas divisões digitais que enfrentamos no mundo. Como um movimento para reconstruir melhor, podemos promover maneiras mais criativas e inovadoras de criar soluções que ajudem no desenvolvimento e uso de tecnologias de IA para enfrentar os desafios da educação e, assim, alcançar minorias e comunidades marginalizadas, como migrantes, estudantes desassistidos, pessoas deslocadas internamente, refugiados, pessoas encarceradas, povos indígenas, estudantes com direitos especiais (em vez de necessidades especiais), pessoas afetadas por desastres naturais ou conflitos armados, e assim por diante. Ao enfrentar o desafio de garantir oportunidades de aprendizado de qualidade para todos, diferentes abordagens para pensar na IA na Educação podem ser observadas como potenciais formas de superar a divisão da IAED, por exemplo, através do uso de soluções móveis que já estão acessíveis em todo o mundo.

Como resultado, foi nesta perspectiva que pesquisadores do NEES (Núcleo de Excelência em Tecnologias Sociais) propuseram o conceito de IA na educação desplugada. O NEES é atualmente formado por aproximadamente 1.500 pessoas de diferentes áreas com o objetivo de apoiar no desenho e implementação de políticas públicas educacionais.

O termo “desplugado” refere-se ao fato de que, neste contexto: (i) as soluções de IA não devem acessar a internet constantemente; e (ii) os usuários-alvo (por exemplo, estudantes e professores) carecem de competências digitais e acesso a recursos (hardware, internet, etc), estando desconectados do mundo digital.

Fig.1 – Princípios do IAED Desplugado

Um exemplo de solução utilizando os princípios de IAED Desplugado foi desenvolvido pelo NEES, no contexto da Política de Recuperação das Aprendizagens. A proposta foi desenvolver habilidades escritas dos estudantes do Fundamenta I e II, respeitando as diferenças de capacidades locais e a carga dos professores. Desta forma, foi desenvolvida uma solução baseada em dispositivos móveis (onde só havia a necessidade de um dispositivo por escola) e com o uso de papel (uma folha de papel foi desenvolvida para que a IA pudesse processar e reconhecer os textos produzidos pelos alunos).

Conforme apresentado na Fig. 2., o aluno faz a produção de texto em papel, da mesma forma que se fazia, porém, o professor usa um aplicativo (cujas competências esperadas no uso do aplicativo era o de “Instalar um Aplicativo”, “Buscar um Aluno” e “Tirar uma foto”) e com isso, com o uso de Visão Computacional e Processamento de Linguagem Natural, a solução processava o texto produzido pelo aluno e dava um feedback ao professor para que o mesmo pudesse trabalhar na recomposição das aprendizagens dos alunos.

Fig. 2 – Etapas da solução de Acompanhamento Personalizado da Aprendizagem

Com esta solução desplugada, mais de 1,5 milhão de redações foram produzidas por mais de 500 mi estudantes do ensino fundamental e médio em 7 mil diferentes escolas no Brasil. O tempo de processamento ocorre em minutos. Isso significa que os estudantes recebem feedback formativo sobre suas produções quase que em tempo real. Essa é uma mudança radical em comparação com a solução anterior, que exigia até quatro meses para completar a mesma tarefa.

De acordo com Ig, “a proposta da IA na Educação Desplugada é de democratizar o uso de IA para auxiliar na resolução de problemas da Educação Brasileira”.

Segundo Ig Ibert Bittencourt, “a proposta da IA na Educação Desplugada é democratizar o uso da inteligência artificial para auxiliar na solução dos desafios da educação no Brasil. Podemos dizer que é uma contra-força para garantir que a IA na educação não se torne mais um fator de desigualdade, mas sim uma oportunidade para avançarmos rumo a uma educação de qualidade com menos desigualdades.”


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